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EDITORIAL | UM BRASIL SEM INDEPENDÊNCIA – Henrique Dória

Numa carta de Junho de 1822 dirigida por D. Pedro a seu pai, o rei D. João VI, residente já em Portugal, escreveu o príncipe regente do Brasil:

“Portugal é hoje em dia um estado de quarta ordem e necessitado, e por consequência dependente; o Brasil é de primeira e independente.” E traçava já o destino das relações entre os dois povos: “Uma vez que o Brasil todo está persuadido desta verdade, eterna, a separação do Brasil é inevitável.”

Se a parte da carta relativa a Portugal era verdadeira, a segunda já não o era. Apesar de, três meses depois do envio desta carta, o príncipe regente ter declarado o Brasil formalmente independente, a 7 de Setembro de 1822, consigo como primeiro Imperador, a ex-colónia portuguesa não se tornou num estado de primeira ordem nem independente, ao contrário do que afirmava e pretendia D. Pedro.

Do domínio do colonialismo português, paralisante e retrógrado, passou, sucessivamente, para os domínios inglês e americano, ambos asfixiantes. Podendo, na realidade, ser um país de primeira ordem, não o foi devido a esse neocolonialismo inglês e americano, interessados em extrair as riquezas do Brasil do que promover a sua modernização e independência. E devido à incapacidade e submissão das classes dominantes brasileiras, não menos extratoras do que as estrangeiras, agarradas a um regime esclavagista que era uma das razões do seu atraso e de que o Brasil foi o último país de cultura ocidental a livrar-se, arreigadas ao seu poder assente na riqueza rural e na mão de obra escrava e opostas a qualquer industrialização que pusesse em causa o seu domínio.

Talvez a realidade pudesse ter sido outra se as cortes saídas da revolução portuguesa de 1820 tivessem acolhido as pretensões dos deputados brasileiros que propunham governos separados em cada um dos países, Portugal e Brasil, dois Congressos legislativos, uma Assembleia Federal e a rotatividade da sede da monarquia, alternadamente em Lisboa e no Rio de Janeiro.

Portugal poderia ter sido poupado às guerras intestinas que dilaceraram o país a partir de 1828 e até meados do século XIX, e levaram o país a cinco bancarrotas,  nos anos de 1834, 1837, 1840, 1846 e 1852 e a um domínio humilhante pela Inglaterra.

O Brasil, sob inspiração de Portugal, que cedo acabara com o esclavagismo não só na metrópole como nas colónias, acabaria também cedo com o esclavagismo. o que seria uma alavanca para o seu desenvolvimento. Mas de nada serviu a elevação do Brasil à categoria de Reino equiparado a Portugal, em 1815.

Ainda hoje o Brasil se encontra prisioneiro da mentalidade esclavagista e extratora das suas classes dirigentes e do colonialismo americano que, através dos seus agentes Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, formados nas academias de inteligência americanas,  levaram a cabo o golpe de 2016 que destituiu a Presidente Dilma Roussef e acabou com a esperança, iniciada com Lula da Silva, de tornar o Brasil um país de primeira ordem e independente, como o classificara o seu primeiro Imperador.

Por isso, o7 de Setembro deve ser não só uma data de comemoração da Independência do Brasil mas, também, de reflexão para o Brasil sobre o que quer ser no seu futuro: um país de terceira e colonizado, como o é atualmente, com o inenarrável Messias Bolsonaro, ou um país em luta pela sua modernização e independência como Lula da Silva pretende que seja.

HENRIQUE DÓRIA

 

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