POEMAS
pra conquistar esse amor
nem trabalho de tarô
nem Ogum nem Xangô
ou poema de Rimbaud
nem haicai de Bashô
nem múltiplos orgasmos
ou romantismo de Carlos
pra conquistar esse amor
nem leitura de Lukács
nem barra de chocolate
ou frase de Engels ou Marx
nem ideograma de Pignatari
nem ideia de Voltaire
ou aforismo de Baudelaire
pra conquistar esse amor
nem música de Beethoven
nem humor de Grande Otelo
ou uma noite em hotel
nem soco de Eder Jofre
nem romance de Joyce
ou pintura de van Gogh
pra conquistar esse amor
nem rosas vermelhas
nem uma caixa de ameixas
ou buquê de amor-perfeito
pra conquistar esse amor
nem um beijo
Setembro reescrito
em setembro reescrito
te esperei como
um aluvião corrompido
inocente e assíduo
a mim
em folhas
que voam
à putrefação
em setembro
não vinhas
mesmo não confabulados
em outros contextos
espetáculos
de folhas
ventanias
e um ar de fole
que se expira
Primeiro poema palestino
(Brasil
a camisa esvoaçante
no varal
em branco e preto
o genocídio negro
o genocídio sanitário
o genocídio vário)
torcer para a Palestina
par a par às chacinas
é lutar para parar
algo putrefato
de Holocausto
que pouco incomoda
a mídia
para a menina-dos-
olhos da grana
mais interessa a grama
verde-dólar
do vizinho
não o que
paira na bocarra
de quem assassina
uma boca repetida
uma podre paródia
nazista
exterminar um povo
como se fora terrorista
como se a morte
de crianças
soltando pipas
entre o mar e o rio
entre o futuro
e o que se vive
não fosse cópia de
Auschwitz
para lembrar
que Deus inexiste
e nunca se replique
na republiqueta nuclear
sionista
(Novembro/2023)
assinale
a certa
excelsa
hora
putrefata
em que
o poema
do poema
se basta
irei da luz
de um extremo
até o pensamento
que elabora
o ar que evola
mulher que impera
acima da verve
além da hipérbole
Carlos Barroso – poeta, artista plástico, jornalista. Do grupo fundador das revistas “CemFlores” e “AquiÓ”. Coeditor da e-plaquete 2022.
Publicou: Poetrecos (Poesia Orbital/1997) e os livros-objeto: Carimbalas (2008); Sãos; Usura; Livraria (2010); 7 poemas de futebol&lirismo e 1 cancão iconoclasta (plaquete/2014); CunilínguaPátria – 69 poemas (2017). E o e-book 41 poemas contra (2020). Todos pela Edições Cemflores.
Lançou recentemente (15/6/2024), em Belo Horizonte (MG), o livro “pra conquistar esse amor”, com poemas líricos e sensuais, dentro da coleção Poesia Orbital – segunda edição.
Participou das mostras: Coletiv4 (UFSJ/2015); Ocupação Poética (UFSJ/2017); Além da Palavra (Biblioteca Pública/BH/2018); minimasminas (Café Kahlua/BH/2018); Além da Palavra2: Casa dos Contos/Ouro Preto (2018) e Centro de Memória/Faculdade de Letras UFMG (2019). E Deslocamento (Assembleia Legislativa de Minas Gerais/2022), mostra que foi censurada pela ALMG após ataque de fascistas. A exposição foi reinstalada em 18 de setembro (até 2 de outubro) na Casa de Jornalista de Minas, em um ato de protesto e desagravo à censura e ao obscurantismo.
Repórter político e cronista em jornais; repórter comentarista da Band/Minas; apresentador do programa Cena Política (BHNews). Prêmio Esso regional de Reportagem (2001). Presidente da Casa de Jornalista.