Ciência

O papel do Brasil na crise energética da Europa: o hidrogênio verde | Luis Augusto Medeiros Rutledge

Em 2022, a Comissão Europeia anunciou o ambicioso REPowerEU, fundo criado para a transição energética, que possui entre seus objetivos reduzir a participação de fontes fósseis em sua matriz energética, diminuir gradativamente a dependência do gás natural importado e encontrar outras fontes energéticas menos poluentes. E, o hidrogênio verde possui papel central nas novas diretrizes da política de transição energética europeia.

 

A aposta no hidrogênio verde é motivada pelo fato de sua produção, com baixa ou nula intensidade de carbono, ocorrer a partir da eletrólise da água e de fontes de energias renováveis para a sua produção. A iniciativa da produção e aplicação de hidrogênio verde não é uma consequência da guerra entre Ucrânia e Rússia. Em 2020, a Comissão Europeia iniciou os estudos para a criação do sistema europeu de infraestrutura e produção do hidrogênio visando a descarbonização da indústria e dos transportes pesados, principais meios responsáveis por emissão de gases poluentes. Vale lembrar que diversos setores da indústria e caminhões de longa distância não podem ser elétricos e, portanto, o hidrogênio surge como solução estratégica do continente. 

 

As pesquisas que envolvem o potencial energético do hidrogênio verde estão em andamento, mas já demonstram resultados preliminares promissores. E, por isso, segundo membros da Comissão Europeia, a intenção de longo prazo será produzir, a partir das usinas europeias, 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável até o ano de 2030. 

 

Na sequência das medidas a serem adotadas para a implementação da infraestrutura e produção da nova fonte estão os meios de transporte para o fluxo energético e as usinas planejadas que produzirão o combustível por ano.  Planos para a construção de gasodutos submarinos de hidrogênio estão sobre a mesa e divergências internas sobre o tema surgem como obstáculos iniciais.

 

O futuro gasoduto de hidrogênio de 2,5 bilhões de euros entre Espanha e França já divide opiniões. Questionamentos técnicos sobre o fluxo do hidrogênio ou da eletricidade gerada para os centros industriais estão atrelados à falta de tecnologia de ponta para seu transporte por longas distâncias. Além disso, se discute o custo final desta operação, onde grupos contrários aos gasodutos insistem que a monetização da energia gerada por hidrogênio custaria mais do que importar o já tradicional gás natural. 

 

 

Independente disto, Alemanha, França e outros países partiram na frente na nova tecnologia. A Espanha, através da Iberdrola, maior empresa energética do país, já iniciou os investimentos na produção de hidrogênio. A empresa, no entanto, ainda não definiu o que considera mais prudente: usar ou não gasodutos de transporte. 

 

Neste novo cenário, o Brasil se posiciona como importante gerador energético e exportador para os mercados internacionais de hidrogênio verde. Países que tenham sol e vento em grande parte do dia podem montar plantas de hidrogênio. Dado o potencial de geração de energia eólica e solar, o Brasil possui condições favoráveis para a geração de hidrogênio verde, produzido com energia renováveis. 

 

Fotografia de Luis Augusto Medeiros Rutledge


Luis Augusto Medeiros Rutledge é engenheiro de petróleo e analista de Geopolítica Energética. Membro Consultor do Observatório do Mundo Islâmico de Portugal e Membro do CERES – Centro de Estudos das Relações Internacionais. Possui MBA Executivo em Economia do Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduando em Relações Internacionais pelo Ibmec. É colunista do Jornal Zambeze de Moçambique e comentarista de geopolítica energética do site Mente Mundo Relações Internacionais. Colaborador de colunas de petróleo, gás e energia em diversos sites da área. Contato: rutledge@eq.ufrj.br

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