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EDITORIAL: AMÉRICA: DECADÊNCIA, DEMÊNCIA E CATÁSTROFE | Henrique Prior

Todos aqueles que amam a liberdade deveriam estar apreensivos
com o debate eleitoral entre Biden e Trump. A maior potência
económica e militar do mundo, aquela que, apesar de todos os
atentados à liberdade e do seu apoio às mais cruéis ditaduras
continua a ser uma esperança de liberdade, vê-se agora no trágico
dilema de ter de escolher entre um perigoso psicopata e um
demente senil como presidente da república.
Como foi possível cair tão baixo?
Desde logo pelo implacável sistema capitalista que domina os
Estados Unidos da América e, nesta fase de decadência, se está a
tornar cada vez mais desumano, indiferente e predatório. Cada vez
mais a riqueza da América se concentra num cada vez menor
número de americanos. As cidades americanas estão cheias de
miseráveis que dormem nas ruas, porque até muitos aqueles que
têm emprego não ganham o suficiente para pagarem uma renda de
casa ou pagarem um empréstimo bancário para compra da sua
habitação. E se isso se passa com um cada vez maior número de
pobres, as próprias classes médias têm visto diminuir a sua riqueza.
Sendo o Produto Interno Bruto per capita dos EUA de cerca de 76
mil dólares, o número de famílias com esse rendimento baixou,
desde os anos80 do século passado, de 60% para 50%. A
percentagem de muito pobres na população em geral tem vindo
também a aumentar nos últimos anos, tendo passado de 5,2% em
2010 para 12,4% em 2022.
Os salários têm crescido, mas a elevada inflação, superior à subida
dos salários, tem diminuído os rendimentos da generalidade das
famílias americanas. O flagelo da droga vai crescendo e dizimando
cada vez mais jovens.
Entretanto, por pressão das indústrias bélicas, os EUA estão a
gastar grande parte dos seus recursos no setor da defesa, que
absorve já perto de 10 % do PIB, desviando os recursos que
deveriam ser destinados à saúde e à educação do povo americano
que, por isso, tem vindo a diminuir a esperança média de vida,
passando de 78,84 anos em 2014, para 77,5 em 2023 (em Portugal
passou de 80,7 anos para 81,2).
Face a este quadro negro o que propõe Biden: continuar as
guerras, com apoio já sem sentido à Ucrânia e cada vez maior e
mais perigoso a Israel. Algo de semelhante ao que propõe Trump:
investir na indústria bélica para defrontar já não a Rússia mas a
China, e apoiar Israel na sua aventura criminosa de tal modo a que,
face a um perigo existencial, o estado judaico recorra às armas
nucleares para sobreviver, arrastando para esse conflito o Irão que
Trump pensa poder neutralizar militarmente ao lado de Israel.
Um sistema nacional de saúde e uma educação pública acessível a
todos nenhum deles propõe.
Contra os crescentes poder económico e capacidade de inovação
da China, tornada na fábrica do mundo, os EUA, em lugar de
investirem cada vez mais na ciência e na tecnologia e mudarem o
seu decrépito e corrupto sistema capitalista, não sabem fazer mais
do que investir no que é mais lucrativo, a indústria de armamento,
sustentada por um estado falido, pois a dívida pública americana
atingiu, em 2023, os impensáveis 123% do PIB.
Um Trump com esgares paranoicos e comportamento psicopático
ganhou facilmente o debate contra o Biden senil e manifestamente
com princípios de demência.
Se Biden não renunciar à sua candidatura, Trump ganhará
folgadamente a eleição, mas os graves problemas da sociedade
americana continuarão a agravar-se e o mundo caminhará a passos
largos para a catástrofe nuclear.
HENRIQUE DÓRIA

fotografia de Henrique Prior.

BIOGRAFIA: É advogado e colaborou no Diário de Lisboa Juvenil e nas revista Vértice e Foro das Letras. Tem quatro livros de poesia e três de prosa publicados. É diretor da revista online incomunidade.com, e da Rádio Transforma.

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