As fitas métricas do amor de verdade
são a doença, a tristeza e a saudade.
A alegria, a convivência e a felicidade são fugazes bases.
Mas gostar assim é efémero, prestes a perder este êxtase,
Pois nada perene pode, com o ciclone da euforia, consolidar-se.
Risos supérfluos empanam nossa capacidade de análise.
Só amamos quem minuciosamente cuida de nós com zelo e arte
e a quem temos curado em todas as suas partes.
A doença é o papel fotográfico do amor,
E o coração bate até a saúde se revelar em cor.
Só se reconhece o grande amor no luto:
Quem ama deseja ficar junto.
Desce aos infernos para buscar a amada, como Orfeu,
E deita de mãos dadas com a esposa defunta como troféu.
À moda de Inês de Castro, rainha depois de morta,
Ela reina no coração dele, e é o que importa.
Do inferno sabem subir aos céus
para serem bem recebidos por um acolhedor deus.
O paraíso é o longo silêncio do amor como sorriso
eterno e imaculado pelo destino e pelo mal dito.
Casamar, 10/9/2024
Oscar Gama Filho é capixaba, de 1958. Ficcionista, dramaturgo, historiador, compositor e ensaísta. Publicou Teatro romântico capixaba; O despedaçado ao espelho, Razão do brasil; Ovo alquímico; Metacrítica; História da literatura do Espírito Santo.