Poesia & Conto

Os longos silêncios do amor II | Oscar Gama Filho

Foto de Emiliano Vittoriosi na Unsplash

As fitas métricas do amor de verdade

são a doença, a tristeza e a saudade.

A alegria, a convivência e a felicidade são fugazes bases.

 

Mas gostar assim é efémero, prestes a perder este êxtase,

Pois nada perene pode, com o ciclone da euforia, consolidar-se.

Risos supérfluos empanam nossa capacidade de análise.

Só amamos quem minuciosamente cuida de nós com zelo e arte

e a quem temos curado em todas as suas partes.

 

A doença é o papel fotográfico do amor,

E o coração bate até a saúde se revelar em cor.

 

Só se reconhece o grande amor no luto:

Quem ama deseja ficar junto.

Desce aos infernos para buscar a amada, como Orfeu,

E deita de mãos dadas com a esposa defunta como troféu.

À moda de Inês de Castro, rainha depois de morta,

Ela reina no coração dele, e é o que importa.

 

Do inferno sabem subir aos céus 

para serem bem recebidos por um acolhedor  deus.

 

O paraíso é o longo silêncio do amor como sorriso

eterno e imaculado pelo destino e pelo mal dito.

 

Casamar, 10/9/2024

 

fotografia de Oscar Gama Filho.

Oscar Gama Filho é capixaba, de 1958. Ficcionista, dramaturgo, historiador, compositor e ensaísta. Publicou Teatro romântico capixaba; O despedaçado ao espelho, Razão do brasil; Ovo alquímico; Metacrítica; História da literatura do Espírito Santo.

 

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