Poesia & Conto

Os longos silêncios do amor | Oscar Gama Filho

Foto de Emiliano Vittoriosi na Unsplash

O amor falastrão murcha,

E se converte em longos silêncios

prenhes de telepatia e de leitura corporal.

 

O último silêncio é inútil e fatal,

E aduba tantas palavras não ditas ante o fútil.

O luto é uma túnica com o texto inconsútil.

 

Sem alguém para amar à vera,

Nenhum lugar do mundo presta.

Por isso guarde na lembrança o que do amor resta,

E sempre que se lembrar, o amor vira floresta

e campos, e cidades, e animais, e qualquer lugar por demais resta.

 

Sua ausência transforma o que há de bom nos longos silêncios

em um vazio sem sentido.

Sua volta preenche de alegria o entorno colorido

do que vale a pena ser vivido.

 

O amor inspira, 

Mas é quando ele expira

que avaliamos o valor do seu sopro,

Se o seu hálito é balsâmico ou o bafo ardente de um ogro.

 

E no intervalo entre expirar e inspirar,

Ele respira nas entrelinhas

e se eterniza, ou se apaga sua velinha.

 

Cada história de amor é pessoal.

Feita mais de trivialidades e da rotina informal.

Mas episódios épicos a recortam em um outro mundo

feito de poesia, de sonhos e de almas e do veludo

do barulho do mar, sempre novo, mágico e surdo

pela repetição contínua de seu  poderoso ruído.

 

A presença da pessoa amada

inverte os silêncios por onde o amor trafega

e os torna pausa entre as notas harmônicas

da elétrica sinfonia do amor eterno

a cuja presença lépida me entrego.

 

Da mesma forma que entre duas notas

existe uma nota que é o silêncio,

Entre o inspirar e o expirar o ar,

Na ausência de movimento nos pulmões,

Assim também na falta de fôlego residem

os longos silêncios do amor,

Transubstanciados no alicerce que dá sentido

às palavras e à comunhão dos corpos.

 

Pois só nos longos silêncios ouvimos

a abissal e profunda

respiração do mundo:

Seu êxtase amando em tudo.

 

Casamar, 31-07-2024

 

Fotografia de Oscar Gama Filho

 

Oscar Gama Filho é capixaba de 1958. Versátil escritor, ficcionista, dramaturgo, historiador, compositor e ensaísta. Publicou Teatro romântico capixaba, história (1987); O despedaçado ao espelho (1988), poemas; Razão do brasil, crítica e história (1991); Ovo alquímico (2016); Metacrítica— questão de método, ou nova interpretação da “História da literatura brasileira”, de Carlos Nejar (Academia Brasileira de Filosofia, 2023), História da literatura do Espírito Santo (Edufes, 2023)

Qual é a sua reação?

Gostei
0
Adorei
0
Sem certezas
0

Também pode gostar

Os comentários estão fechados.