Desde que iniciou o conflito russo ucraniano, temos vindo a acompanhar discursos de acusação entre as partes envolvidas em conflito. Por um lado, a Rússia alega que está sendo vítima de uma guerra provocada pelo Ocidente, por outro lado a Ucrânia diz que a Rússia pretende acabar com os valores do povo Ucraniano.
Na verdade, é importante sabermos nos posicionar perante as duas narrativas, pois as duas partes lutam para preservar os seus interesses primários dos seus Estados. Quando há uma guerra, a primeira vítima é a verdade, essa citação é tão antiga que a autoria da frase se perdeu na história, mas existem variações desta mesma afirmação em textos da Grécia Antiga. Todo conflito tem uma arma poderosa que é a informação. E em tempos de tecnologia sofisticada, os discursos dos líderes são usados como artilharia pesada para combater o adversário.
Na invasão da Rússia à Ucrânia, a guerra das narrativas está bem patente. No entorno, governos coadjuvantes, que na hora ganham contornos de actores principais, todas as retóricas têm de ser recebidas com ressalvas, independentemente de que lado apoiam.
O conflito russo ucraniano, que mobiliza a atenção mundial hoje, desperta a pergunta muito importante, para nós que estamos distantes do conflito. Quem está ganhar a disputa? Naturalmente, a resposta depende da forma como os dois beligerantes nos transmitem a informação sobre o conflito.
Para muitos que não estão directamente ligados ao conflito, podem fornecer outros dados diferentes dos dois beligerantes. Dois institutos ganharam notariedade na difusão da informação sobre aquele conflito. Ambas as organizações estão cooperando para traduzir os elementos de conflito e chegar aos factos. A narrativa que essses institutos nos trazem é bem diferente dos dois beligerantes, pois os institutos sugerem que o primeiro mês do conflito é marcado pela estagnação do avanço das tropas russas e uma ligeira retomada de terreno pelos ucranianos. Ademais, as populações da Ucrânia ressaltam o que pode ser chamado como crime de guerra, pois tem se verificado a destruição de hospitais, ataques a abrigos e disparos em meio à fuga de civis por corredores humanitários.
As forças armadas, por sua vez, publicam na internet vídeos que tentam comprovar as retóricas. Vimos pelotões ucranianos destruindo tanques dos invasores ao passo de que os russos exibiram imagens aéreas de edifícios sendo explodidos. Daí a importância de uma apuração mais aprofundada, pois cada lado do conflito tem seu argumento a seu favor. É verdade que os russos mantêm o discurso de que os alvos não são civis, embora a destruição na maioria das vezes ocorra em áreas residenciais. Os números de baixas também são contraditórios, e de novo a mídia faz um papel de megafone, e neste ramo da mídia, os ucranianos com ajuda do Ocidente, montaram uma verdadeira máquina de propaganda.
Constantino Jaime Massingue, estudante finalista do curso de Linguistica na Universidade Eduardo Mondlane. Analista social, com o potencial teórico na mediação e Resolução de Conflitos.