Ainda há pouco tempo, tínhamos a convicção de que a guerra de fricção que o Hamas, o Hezbollah e os Houtis, com o apoio do Irão, estavam a levar a cabo contra Israel iria conduzir a uma derrota do sionismo. Na verdade, esta guerra estava a ter uma duração que Israel nunca enfrentou, com consequências catastróficas para a sua economia. Desde Outubro de 2023, a economia de Israel teve já uma recessão de, pelo menos, 20 %; as suas despesas de guerra são de, pelo menos, mil e trezentos milhões de dólares por dia; o abandono do país por muitos milhares de estrangeiros e mesmo judeus, que aí trabalham agravaria a recessão; o turismo, uma das principais receitas de Israel, paralisado; com o porto de Eilat bloqueado e falido pelos ataques dos houthis do Iemen, Israel, mesmo com o total apoio dos Estados Unidos da América, teria de aceitar o reconhecimento de um Estado Palestiniano, o que Natanyahu e os partidos que apoiam o seu governo nunca aceitaram.
Porém, os últimos dias representam uma viragem na guerra que começou contra o Hamas a 7 de Outubro de 2023. Com um serviço de espionagem que se está a mostrar muito eficaz, e uma força aérea que atua impunemente no Líbano dada a total ausência de sistemas de defesa aérea do Hezbollah, Israel conseguiu decapitar, primeiro, o mais alto dirigente do Hamas, Ismail Haniyeh, e, agora, a cúpula do Hezbollah, a começar pelo seu líder, Hassan Nasrallah, Natanyahu conseguiu um golpe de teatro que, aparentemente, impede o Irão e os seus aliados de continuarem com a guerra de atrito que estava a conduzir ao colapso da economia israelita e à sua derrota.
O grande objetivo de Natanyahu e da extrema direita israelita de uma Israel do rio Jordão até ao mar parece estar a ser alcançado. Gaza está destruída, o Hamas e o Hezbollah derrotados mesmo que não aniquilados, a autoridade palestiniana uma ficção, acrescidos da possibilidade de anexação, na prática, do Líbano preconizada, nomeadamente, pelo ex-chefe do Mossad Tamir Pardo, com o próprio líder máximo do Irão, Ali Khamenei a ter sido forçado a refugiar-se num esconderijo face à real possibilidade de ser assassinado por Israel, Natanyahu e o seu governo estão, pelo menos por agora, triunfantes, e os Estados Unidos da América têm no Médio Oriente o seu suporte estratégico para uma ataque ao Irão usando as armas nucleares de que Israel dispõe, destruindo não só a capacidade nuclear do Irão mas também a sua economia e mudando o seu regime para um regime favorável aos EUA e a Israel, como a Jordânia, o Egito e a Arábia Saudita.
Não temos dúvidas que é esta a vontade do complexo militar industrial americano e do poder sionista. Porém, ainda não há muito, quer a China quer a Rússia declararam que se o Irão fosse atacado iriam em seu socorro, o que seria um conflito nuclear total. Estarão dispostos a fazê-lo ou tal não passa de bluf, como têm apregoado os estrategas da NATO?
O mundo está, hoje como nunca, um lugar incerto e perigoso.
HENRIQUE DÓRIA
É advogado e colaborou no Diário de Lisboa Juvenil e nas revista Vértice e Foro das Letras. Tem quatro livros de poesia e três de prosa publicados. É diretor da revista online incomunidade.com, e da radiotransforma.