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EDITORIAL: O 25 de Abril e os que o querem destruir | Henrique Dória

Foto de Teslariu Mihai na Unsplash

As grandiosas manifestações comemorativas dos cinquenta anos da revolução de Abril fizeram-nos acreditar que o 25 de Abril continua bem vivo na mente e no coração das esmagadora maioria dos portugueses. Porém, não nos devem fazer esquecer que a liberdade conquistada em 1974 está em perigo e que a mentira, o cinismo e a insídia dos que a querem sufocar e conseguiram conquistar o voto dos descontentes, sobretudo os mais jovens, precisam de ser entendidos e combatidos com firmeza, sem punhos de renda.

O discurso dos novos aprendizes de ditador nada tem de novo. Mussolini, Hitler e Salazar chegaram ao poder com esse discurso: o discurso contra a corrupção, que pressupunha que todos os partidários da democracia eram corruptos, e que eles eras os únicos líderes que queriam combater a corrupção.

Como é óbvio a corrupção existiu durante os governos fascistas e não diminuiu em relação a governos anteriores. Mas parecia não existir porque a censura impedia qualquer notícia sobre a corrupção importante no Estado ou nas grandes empresas, em particular nos bancos, mesmo em caso de condenação  pelos tribunais. Não sendo noticiada, a corrupção não existia. Era precisamente o contrário do que sucede hoje, em que os meios de comunicação noticiam quer a corrupção existente quer a inexistente, ampliando o volume da corrupção que, realmente, existe.

Juntamente com a corrupção, o grande argumento dos fascismos era o patriotismo. Na sua linguagem, o patriotismo era um sentimento exclusivo  dos ditadures e dos seus defensores. Os outros, os que defendessem a liberdade e valores e opiniões diferentes dos seus eram apelidados de traidores à pátria. No entanto, Mussolini e Pétain aceitaram ser capachos de Hitler, e Salazar não aceitou o mesmo porque temeu uma invasão inglesa.

Finalmente, os fascismos defendem um poder forte e que impeça a desunião da sociedade. Porém, esse poder forte serve em primeiro lugar para proteger os grandes detentores do poder económico das lutas dos trabalhadores pelos seus direitos: proibir os sindicatos que não sejam correias de transmissão do poder fascista, proibir o direito à greve,  proibir manifestações, proibir que os trabalhadores lutem pelos seus direitos. E a união da sociedade é, para eles, a subordinação da sociedade ao poder das grandes detentores da riqueza e ao seu poder arbitrário, defensor dos detentores da riqueza. Na Itália fascista, não só foram proibidos os sindicatos não subordinados ao poder fascista como foi proibido o direito à greve, controlados os salários ( não os lucros) e impedida, inclusivamente, a mobilidade dos trabalhadores.

Portugal libertado assistiu, a 1 de Maio de 1974, às maiores manifestações populares de sempre de alegria e defesa da liberdade conquistada e dos direitos dos trabalhadores. O 25 de Abril deste ano assistiu às maiores manifestações populares depois daquele memorável 1º de Maio de 1974. Mas  as grandes manifestações não são suficientes. É necessário que os jovens conheçam a verdade histórica para que os novos fascismos não triunfem com a sua mentira, o seu cinismo e a sua insídia e a História não se repita como tragédia provocada pela farsa dos novos fascismos.

HENRIQUE DÓRIA

fotografia de Henrique Prior.

BIOGRAFIA: É advogado e colaborou no Diário de Lisboa Juvenil e nas revistas Vértice e Foro das Letras. Tem quatro livros de poesia e três de prosa publicados. É diretor da revista online incomunidade.com, e da radiotransforma.

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