Cultura

O CAMINHO DA ROSA MADALENICA | Sonia Maria Clausen

Foto de Nick Castelli na Unsplash

Esse é um caminho que me trouxe clareza e uniu muitos conhecimentos que busquei nas minhas pesquisas de leituras e viagens a lugares sagrados de Maria Madalena, na França, na Inglaterra, em Espanha, em Portugal…

 

Encontrei partes de mim mesma que eram retalhos e que agora com MM Maria Madalena formam uma linda colcha de rosas Madalenicas.

 

Os fundamentos trazidos no livro “MISTÉRIOS DE MADALENA, o caminho da mão esquerda do Cristo Feminino”, de Seren e Azra Bertrand, me deram a clareza por onde trilhar com passos seguros numa jornada de saberes antigos que me trouxeram MM mulher, sacerdotisa, xamã do útero e apóstola dos apóstolos.

 

Assim iniciamos juntos nossa jornada no Caminho da Rosa Madalenica.

 

MARIA MADALENA MM

 

Naquela época, em Jerusalém, MM estava no centro de um grande Mistério de Tradição que trazia um fluxo de sabedoria divina, tão antiga quanto a humanidade, de duas correntes espirituais do Feminino e Masculino Sagrados, que Madalena e Cristo carregaram aqui na Terra.

 

MM era a personificação da Deusa, a Sophia Terrena, que com seu ventre sagrado ungiu e deu poder a Yeshua (Jesus) transformando-o no Cristo. Era uma sacerdotisa com a sabedoria das Deusas Antigas, como Lilith, Astarte, Asherah, Dana, Ísis, Diana, Hecate, Deméter, Inana…

 

Incorporou a luz e a escuridão em si mesma e sabia usar a potencialidade mágica da energia sexual sagrada e principalmente como limpar, purificar, despertar e ressuscitar a alma humana, tornando-a pura novamente. Apesar de MM fazer parte da nova religião mundial, sua história e ensinamentos foram denegridos e esquecidos. Mas permaneceu, de forma subterrânea, nos milênios seguintes como conhecimento de uma linha ininterrupta pelas xamãs do útero, sacerdotisas e oráculos da Deusa e mulheres medicinais.

 

A corrente Madalenica traz a sabedoria da lua nos seus principais arquétipos da mulher sábia: prostituta sagrada, sacerdotisa e apóstola. Também nos seus símbolos: a rosa, o lírio, a flor de Lis, a caveira, a torre e outros narrados copiosamente nos livros romanceados e pesquisas sobre MM.

 

Nos séculos XIII, com a lenda do Graal, muito se escreveu e pintou sobre sua participação e ícone de várias correntes esotéricas. MM era a musa dos Templários que a chamaram de Nuestra Dama, eles foram os mentores das catedrais góticas e igrejas, principalmente na França a Notre Dame de Paris e a Notre Dame de Chartres, que são um registro de segredos místicos em sua arquitetura e vitrais belíssimos, onde registraram simbologias na tentativa de preservar a sabedoria do Feminino e Maria Madalena.

 

A história verídica dos Cátaros, seguidores dos ensinamentos de MM e outros mártires que a seguiram e foram perseguidos sendo exterminados cruelmente pelo poder religioso, político e econômico da Idade Média.

 

Eles nos deixaram um legado encoberto por véus de dor e esquecimento, impostos por vergonha e medo registrados no nosso inconsciente coletivo que precisamos retirar.

 

MISTÉRIO DE MADALENA E A LINHAGEM DE SOPHIA

 

Chamada de Maria de Magdala ou Migdal, na verdade Amágadala significa Grande Deusa Mãe em aramaico. E Migdal significa torre em hebraico. Isso já demonstra sua ligação com as Deusas Antigas e sua importância quando é descrita na Bíblia como aquela a quem o Messias se revelou ao ressuscitar e hoje a Igreja lhe conferiu o título de Apóstola dos apóstolos.

 

MM reconhece o Deus no Cristo Jesus e como sacerdotisa de Ísis unge seus pés com o óleo de nardo, num gesto da sacerdotisa que com este gesto sagrado reconhece e se curva ao seu Mestre. Quando Yeshua (Jesus) aceita MM no grupo de discípulos e a defende perante o grupo que o segue a reconhecendo como aquela que sabe, que detém a sabedoria da deusa encarnada, faz dela sua companheira nas práticas sagradas esotéricas dos mistérios da lua.

 

Muito conhecimento hoje é trazido nos movimentos do Feminino, Magia e Bruxaria reabilitando uma sabedoria antiga da Deusa e que nos permitiu romper com formas-pensamentos, energias estagnadas e padrões energéticos que engessaram a evolução humana com a materialidade. Porém, somos frutos da polaridade entre luz e escuridão, feminino e masculino que precisamos reencontrar e reequilibrar com Maria Madalena e o Cristo.

 

ENSINAMENTOS DA ROSA

 

Na união de Yeshua (Jesus) e Madalena ocorre a consumação da sagrada união do Feminino e Masculino Sagrados, em amor e confiança. O ventre dela fundiu-se com seu coração num poder mágico e sabedoria Antiga que fluiu através deles.

 

Os ritos antigos e místicos da câmara nupcial do Cânticos dos Cânticos na herança do rei Salomão e rainha de Sabá eram reais e encarnaram na Terra. Foram o Pilar Unificado, a Árvore da Vida, que emergiu da Terra abrigando e alimentando a todos, alcançando os céus, transcendendo os limites da natureza, numa magia feminina dos mistérios.

 

MM Maria Madalena e Yeshua fundaram o ministério do amor ensinando e praticando os mistérios antigos do Deus e da Deusa, na verdadeira união do céu e da terra. Essa verdade foi transmitida através de histórias, mitos e lendas sussurrada por tecelões de contos, desde tempos imemoriais, em volta de fogueiras, de caravanas de viajantes, criptografadas em manuscritos de alquimia secreta e gravadas pelos pintores, arquitetos e tecelões, grandes iniciados.

 

Caminho que não foi aceito pela igreja de Simão Pedro, que consolidou o poder mundano do deus patriarcal com sua versão da história de Jesus, desacreditando MM e o caminho da magia e da mulher. Porém, uma profecia contava que nessa época a revelação de Sophia despertaria mais uma vez na sabedoria de Maria Madalena.

 

Registra seu lugar numa antiga tradição e linhagem de mulheres sagradas, incluindo Ísis e Inanna, que eram conhecidas por sua natureza oracular, sexualidade redentora, sua capacidade de ungir e iniciar no mundo espiritual.

 

Hoje, a palavra prostituta é insulto, mas antigamente se referia a uma sacerdotisa dos mistérios. A Grande Mãe era conhecida como a Grande Prostituta.

 

Yeshua e MM compartilham um caminho de amor, amor Cósmico, que é uma efusão da consciência uterina, unindo compaixão do coração com o poder primordial do útero criativo.

 

Não é um amor pensante ou sentimental, é profundamente enraizado e nasce da comunhão com o seio criador. É uma magia prática e ética, que aproveita as forças da criação e o poder criativo pessoal, a serviço do amor, dando a luz dos magos iluminados e das bruxas da sabedoria cósmica.

 

O poder sexual da mulher sempre foi temido pois seu arquétipo é repleto de intensa magia. Usar vermelho era sinal que era bruxa, uma mulher em pleno domínio de sua magia de poder de iniciação. Esse poder irritou a Inquisição e poder da igreja.

 

O poder sexual da Kundalini no elemento fogo é análogo ao portal individual que canaliza uma força como um vulcão na terra, como uma fonte compartilhável e inesgotável ligada por uma rede de energia magna primordial. Assim como o fogo interior da Sacerdotisa vermelha, o seu poder de fogo sexual é eterno, mesmo suprimido pode estar subterrâneo e permanecer inativo por um tempo, mas a essência e a fonte não se extinguem, retornarão e acenderão novamente quando acionadas.

 

Quando as mulheres conectam seu fogo uterino individual em círculos e invocam seu poder com intenções claras, geram uma energia fortíssima sendo pontes entre o céu e a terra. É a serpente que fornece uma escada para a consciência escalar e ascender. Para homens e mulheres que cultivavam essa corrente sexual, sensual e serpentina, era fundamental que tivessem um bom embasamento ético e se tivessem evoluido e purificado conscientemente para que pudessem trabalhar com o poder da Kundalini.

 

O elemento Fogo sem discernimento e maturidade pode destruir, idealmente é equilibrado com a água e mantido entre a terra e o ar na mandala para enraizamento na sabedoria antiga, orgânica e profunda da terra.

 

Nas tradições celtas, tradições orais, contam do Poço das Donzelas que eram mulheres reverenciadas como guardiãs e sacerdotisas das nascentes, rios, poços e lagos sagrados, como um portal de entrada para outro mundo.

 

O conceito das águas vivas (fontes, poços) que dão redenção e sustento espiritual originou-se nas tradições das sacerdotisas sereias e antigas xamãs do útero, que compreendem que a água é benta e sagrada, codificada com a memória e

possibilidades. Quando batizamos, ungimos ou submergimos com elas, estamos criando novas possibilidades quânticas em nosso corpo e alma.

 

Há uma poderosa vibração de harmonia, beleza, paz e bem aventurança na água elemental, canalizada por aqueles que são atraídos a esse ofício de MM. A cura e purificação da água não é uma experiência de catarse como a do fogo, ela flui com uma profunda suavidade de amor gentil, restaurador e regenerador.

 

Os quatro elementos trabalhados na mandala Madalênica nos trazem a possibilidade de cura da alma, unindo o que foi separado: luz e sombra, masculino e feminino em cada um na evolução humana.

 

Nas catedrais, as Madonas Negras, reconhecidas pela postura de segurar o menino Jesus como a Ísis nas esculturas com Horus, são representações que trazem o simbolismo do submundo profundo e escuro do ventre/ útero da Grande Mãe, para onde podemos retornar enquanto aqui vivermos, para renascer.

 

Todos os mistérios e iniciações invocam esse retorno ao útero para um segundo nascimento, enquanto é forjado nosso novo corpo e dá a vida, traz um segundo nascimento que forja nossa divindade dentro do útero da Mãe Cósmica para que nossa alma possa renascer virgem, pura, novamente despertando.

 

Todos aqueles que passam por uma transformação profunda, experimentam a morte e renascimento, que pode ser avassaladora e desorientadora.

 

Maria Madalena nos acolhe quando estamos prontos, hoje há uma consciência coletiva numa corrente com muitas revelações místicas e pesquisas científicas que corroboram com o retorno de uma corrente espiritual que estava subterrânea. Estamos experienciando esse renascimento como vazio, se faz necessário que a alma desça ao Ventre de Inanna e para tanto, requer rendição, entrega e confiança.

 

Não se renasce sem uma doula, parteira que hoje é Maria Madalena, o Cristo Feminino.

 

fotografia de Sonia Maria Clausen

Sonia Maria Clausen é Terapeuta Artística Antroposófica. Ministra cursos e palestras sobre conteúdos de Cristologia e sobre a figura histórica de Maria Madalena e cultura celta na visão da Antroposofia.

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