Cultura

SUBMISSÕES LITERÁRIAS | Coca Trevisan

A literatura tem coisas peculiares.

Muito peculiares. 

Só dela.

Talvez somente assim ela permita se comunicar com um defunto, afinal “numa conversa nunca nos entregamos tão completamente como o fazemos diante de uma página em branco”, escreve Michel Houellebecq. 

Ah sim, existem diálogos estranhos em outros contextos como nossos desabafos para o garçom amigo, aquele mais compreensivo do que nosso psiquiatra. 

Bom, é o que achamos…

Houellebecq lembra que o contato com o espírito do morto, na literatura, pode ser mais direto, afinal não entramos na alma dos escritores?

Claro, se os vermes de Machado de Assis permitirem.

E se Houellebecq sentiu uma relação estranha com Joris-Karl Huysmans nos sete anos de estudos em sua tese acho que tenho ligações espíritas com a Escola de Frankfurt. “Estamos” juntos há mais de 40 anos…

Enquanto isso o personagem François de Houellebecq está lerdo e lembra o estrangeiro de Camus, só quer tocar a vida como Pagodinho, levando, submisso.

Seguindo normas da sociedade ocidental, ele está conformado.

Tá tudo certo…qualquer coisa serve…

Aliás, como é fácil cair na mesmice não é mesmo?

Porém, a tomada de poder muçulmana de “Submissão” vai mudar muita coisa.

E a letargia poderá sucumbir, bom, não há momentos que almejamos mudanças?

Do inusitado ao insignificante tudo pode recrudescer, de um presidente muçulmano na França como uma discussão machista retrógrada.

Resta aceitar(ou não) tais submissões. 

Houellebecq obriga ao leigo sair do marasmo apesar do individualismo pós-moderno trancar conceitos…vejam só…primeiro eu…

Minha existência gira um macrocosmo.

Que arrogância. 

Quero ousar sim, mas com meu microcosmo, porém rejeitando os subsolos de Dostoiévski. 

Um presidente muçulmano na França?

É, François, o mundo gira…

Não sei…olha o 8 de Janeiro…

Vou buscar as folhas em branco e escutar autores defuntos ou defuntos autores. 

A literatura permite, mas cuidado, na França de Houellebecq as bandeiras de Israel circulam…como por aqui em nossas bandas.

Cuidado, não caia, ouse, eles estão à espreita…sempre…

Os golpes ainda ameaçam nossas submissões, cada mudança assusta eles…sempre eles…

fotografia de Coca Trevisan

O jornalista Coca Trevisan nasceu em Santa Maria, RS. Atuou como repórter e redator nos jornais NH, de Novo Hamburgo; VS, de São Leopoldo e Jornal Alto da XV, de Curitiba. Como profissional freelancer assinou matérias em diversos periódicos. Participou de workshops e atuou em debates sobre a Indústria Cultural dos anos 1980/90. Mais recentemente, concluiu pela PUC-RJ o Curso de Extensão Origens do Existencialismo. Mantém e abastece o blog Violências Culturais. Atualmente mora em Florianópolis, SC.

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