InComunidade

EDITORIAL: A liberdade se conquista pelo voto!

Foto de Edward Howell na Unsplash
Liberdade é uma palavra 
que o sonho humano alimenta,
não há ninguém que explique 
e ninguém que não entenda”
Cecília Meireles – O Romanceiro da Inconfidência
 
                O ano de 2024, sob a égide do 50.º aniversário da Revolução dos Cravos, está irmanando cada vez mais Brasil e Portugal. Embora nações soberanas e donas de destinos distintos, seguem ambas os desígnios que seus eleitores determinam em seus pleitos eleitorais, de forma democrática.
                Lula está promovendo uma verdadeira reconstrução nacional! Após um período de franco flerte com o arbítrio, e desconstrução do Estado de bem-estar social, proposto nos períodos anteriores, em que o Partido dos Trabalhadores esteve no poder, sob Lula e Dilma (essa derrubada por golpe de Estado). O que veio a seguir foi a direita chegando ao poder para executar seu projeto de destruição. Num período de expressivo crescimento econômico, de ascensão das classes mais baixas ao ensino superior e programas como luz no campo, minha casa, minha vida, entre outras políticas públicas,  florescentes no Brasil de então.
                 Na política externa,  depois dos vexames diplomáticos, o Brasil  reassume sua política externa “ativa e altiva”, e deixa de ser “pária-ostentação”. Um verdadeiro “restart” do protagonismo brasileiro no cenário geopolítico, e,  na presidência do G20, convida Portugal, seu aliado fraterno, a participar. Nesse cenário, Portugal, país democrático, poderá contribuir fortemente num intercâmbio de expertises, nos mais amplos espectros, pois temos pela frente dois grandes enfrentamentos: o problema climático, e o crescimento da extrema direita em todo o mundo, ambos gravíssimos e tem em comum os mesmos financiadores ultra-neoliberais.
                    Pelo voto conseguimos evitar um golpe de Estado. Isso não é pouco e não é fácil! Toda a sorte de expediente, todas as  artimanhas foram usadas para evitar que os golpistas saíssem do poder. Finalmente, após termos superado o nefasto governo negacionista, anti ciência,  protofascista com aspirações golpistas, cujos membros e financiadores, beneficiários e massas de manobra estão em fila encontrando-se com a lei.
                 Em Portugal, estamos às vésperas de eleições, no dia 10 de março, e no  ano do cinquentenário de Abril, a extrema direita avança, lenta e capciosamente, usando os mesmos expedientes  e que, apesar da repetição do script, sempre logra êxito, na conquista de corações e  mentes dos mais suscetíveis ou desavisados de sempre. O discurso moralista (falso) sempre ecoa bem. Se tiver apoio de religiosos, então, potencializa o poder de mobilização.
                 O momento é grave e exige uma tomada de decisão e posicionamento diante desse momento histórico. A exemplo do Brasil, Portugal pode salvar-se pelo poder do voto. Votar pode representar avanço ou a volta a tempos anteriores à Revolução, de pobreza em massa, de fome, de precarização do trabalho, de perda de direitos sociais, do aumento da mortalidade infantil, da dificuldade e insustentabilidade no campo do comércio e na indústria, da diminuição da expectativa de vida pela precarização da assistência ao povo, da volta das moradias em bairros de lata ou de barracas, de uma polícia de Estado, repressiva ao extremo como foi a PIDE,  enfim, retrocessos e perdas de tudo o que foi conquistado pelos bravos de Abril, capitães e povo resistente.
                   A direita apodera-se do discurso virtuoso, e, escondendo suas falhas, faz-se passar por “salvadora da Pátria”.  O uso de mentiras (fake news), assim como a manipulação de notícias, a exaltação de um passado mítico, a anti intelectualidade, a disseminação intencional de teorias conspiratórias, a vitimização do dominante com perseguição de grupos sociais, a xenofobia, a perseguição de grupos “inferiores”, hierarquizando, estratificando a sociedade, promovendo o pânico e a tensão sexual, a difamação de opositores mesmo sem provas, “etarismo”, “capacitismo” ( seus opositores são sempre preguiçosos). Um forte discurso religioso (3 F`s: família, futebol e Fátima), são etapas do fascismo descritas no livro do Prof. Jason Stanley “Como funciona o fascismo”.
                     Certamente o discurso é adaptável e sempre se adequa ao grupo social em questão. O ajuste fino que se fizer necessário se imporá a fim de dar eficácia ao projeto de poder em curso, pois o processo é germinal, longo, discreto, constante.
                      A revolução nasce da resolução. O 25 de Abril é um marco pela sua  importância, pelo que significou para Portugal e para os que, como eu, aguardávamos a nossa primavera, o nosso abril. Esse feliz momento histórico português e que tanto inspirou Chico Buarque, que “ainda guarda renitente um lindo cravo”…
                        Abril sempre! O processo revolucionário nunca acaba, agrega conquistas, pequenas vitórias diárias, sociais, coletivas e individuais, principalmente, a conquista da liberdade. E essa, uma vez que  conquistemos, é necessário velar por ela, em permanente mobilização, pois, como diz Theodore Adorno, “A  cadela do fascismo está sempre no cio”.

Fotografia de Loreley Haddad

Loreley Haddad de Andrade, brasileira inquieta, portuguesa aprendiz, amiga sincera, encantada, apaixonada, amante das artes, da história, da natureza! Uma professora de autistas e arte-terapeuta realizada profissionalmente, que, uma vez reformada, desejou navegar em outras águas! Atravessando o Atlântico, veio descobrir novas terras, novas gentes! Contadora de histórias, leitora, amante da poesia e da música, da dança, do folclore, das festas tradicionais, inclusive da culinária afetiva! Descobrindo, a cada dia, as delícias e prazeres da vida, da cozinha, da alma portuguesa, na totalidade das suas manifestações! Muito curiosa e aberta às novas experiências, feliz com as pessoas maravilhosas presentes na minha vida e com as surpresas que a vida me deu até aqui! Essencialmente inquieta!

Qual é a sua reação?

Gostei
3
Adorei
2
Sem certezas
1

You may also like

Comments are closed.

More in:InComunidade