É lugar comum afirmar-se que, na guerra, a verdade é a primeira a morrer. Mas o assassinato da verdade pelos meios de comunicação ocidental assume foros de prostituição.
Duas guerras ocupam a atenção do mundo, neste momento: a guerra entre a Ucrânia e a Rússia e, sobretudo, a guerra entre Israel e os palestinianos, em ambas a mentira dos meios de comunicação ocidental é escandalosa.
Quanto a esta, os meios de comunicação ocidental afirmam que o que está a acontecer com a matança de velhos, mulheres e crianças em Gaza ( na verdae, por toda a Palestina) é apenas o exercício do legitimo direito de defesa de Israel face ao ataque terrorista do Hamas que, de surpresa, matou e raptou jovens, mulheres e crianças indefesos que participavam num festival de música ou estavam a dormir tranquilos em kibutzes.
Na verdade, não houve surpresa no ataque do Hamas. Ele foi previsto e querido pelo governo de Natanyhau como pretexto para ocupar Gaza e tornar definitivamente inviável a criação de uma nação palestiniana independente. Tanto assim que, a 22 de Setembro próximo passado, Natanyhau exibiu na Assembleia Geral das Nações Unidas um mapa em que Israel ocupava toda a Palestina, fazendo da Cisjordânia e Gaza apenas partes do Estado israelita, e troçando de todas as resoluções da ONU que implicava, a criação dum estado palestiniano com a fronteiras existentes em 1947. Todos sabemos que Natanyahu e os seus ministros, particularmente o criminoso ministro Itamar bem Gvir sempre afirmaram que não há lugar para a criação de um Estado Palestiniano, isto para além de os apelidarem os palestinianos de animais com duas pernas. Sabe-se que Natanyhau foi avisado pelos serviços secretos egípcios de que o Hamas estava a preparar um ataque a Israel mas o seu governo nada fez porque necessitava de um pretexto para destruir Gaza e tomar, abertamente, conta da Cisjordânia.
Só que esse ataque foi mais forte do que o governo israelita previa, e o Hamas mostrou uma capacidade militar que surpreendeu Israel. Não foram apenas civis que morreram ou foram raptados. Na verdade, foram militares de várias patentes, incluindo generais, mortos ou aprisionados, o que é silenciado pelos meios de comunicação ocidental.
É também silenciado que o exército israelita foi forçado a recuar depois de uma primeira entrada em Gaza com tanques e soldados pois sofreu inúmeras baixas e teve uma oposição de combatentes do Hamas muito mais forte do que esperava.
Por outro lado, os soldados israelitas estão aterrados com a necessidade de entrarem nos túneis construídos pelo Hamas. Os militares israelitas conhecem bem que a derrota americana no Vietnam ocorreu porque os soldados americanos nunca conseguiram derrotar o Vietcong nos túneis. Mas os túneis construídos pelo Hamas, revestidos de forte alvenaria, são muito mais extensos e seguros dos que túneis do Vietcong construídos só em terra, e nem os aviões nem os tanques conseguem destruir esses túneis.
E que o poder do exército israelita é muito inferior ao que o acidente divulga mostra-o o facto de os Estados Unidos da América terem sentido a necessidade de mandarem porta aviões para as proximidades de Gaza e quantidades enormes de equipamento e material de guerra para defenderem Israel.
Os ataques de Israel diversificaram-se para a Síria e o Líbano. O Irão ameaça entrar em guerra. Não é provável que o faça diretamente, mas irá fazê-lo por intermédio do seu braço palestiniano que é o Hezbollah. Disso Israel tem fundado receio, tanto mais que uma base militar sua na Etiópia foi já atacada, o que mostra até que ponto a guerra se pode alargar.
Quer o governo de Israel quer o Hamas são fundamentalistas religiosos. Um invoca a Bíblia, outro invoca o Corão para destruir o inimigo. É preciso que esta verdade seja dita para que se perceba este conflito. Não são os judeus os bons e os palestinianos os maus. São maus todos os que, alicerçados numa religião, pretendem destruir os que professam outra religião. Assim sucede com o Hamas e o governo de Israel. Esperamos que o mundo não venha a sofrer uma catástrofe por sua causa.
HENRIQUE DÓRIA
É advogado e colaborou no Diário de Lisboa Juvenil e nas revista Vértice e Foro das Letras. Tem quatro livros de poesia e três de prosa publicados. É diretor da revista online incomunidade.com, e da radiotransforma.