Nova InComunidade, Novos Tempos | Editorial
A InComunidade caminha para o seu décimo ano de vida. Neste breve tempo de pausa de publicação da revista online, fizemos o seu número 100, um número comemorativo em suporte de papel que é não só uma mostra da qualidade que a revista alcançou, mas ainda uma verdadeira obra de arte pela forma como é apresentada. Disso estamos muito orgulhosos.
Neste tempo em que estivemos sem publicar qualquer revista online, remodelámos a sua apresentação. Ela sai agora mais leve, mais moderna, mais funcional, muito mais atrativa. A qualidade que alcançou tem todas as condições par ser melhorada, e a InComunidade será, cada vez mais, uma grande revista da lusofonia.
Neste breve período em que a InComunidade esteve suspensa para remodelação do seu suporte na internet, o mundo mudou. Acompanharemos agora, com ansiedade mas também com esperança, essa transformação. Joe Biden tomou posse como Presidente dos Estados Unidos da América e, com ele veio o reconhecimento de que os EUA não são mais a potência dominante a nível mundial, como o tinham sido depois da derrocada do império soviético em 1989 e até 2020. Não o tinham reconhecido o idiota Trump nem o inteligente Obama que se envolveu em várias guerras de que os EUA acabariam por sair derrotados. Reconheceu-o o prudente Biden que proclamou que os EUA deveriam liderar pelo poder do exemplo e não pelo exemplo do poder. Nenhum outro Presidente, antes de Biden, tinha proclamado algo de semelhante.
O mundo tornou-se, claramente, multipolar, com dois blocos antagónicos, os EUA e a União Europeia por um lado, e a China e a Rússia por outro. A conferência entre os EUA e a China na fria Anchorage iniciou, simbolicamente, uma nova guerra fria. A acusação de assassino dirigida por Biden a Putin, nada diplomática mas verdadeira, foi mais um episódio dessa guerra fria.
Mas isso não será mau, porque não só é impossível uma confrontação armada entre os dois blocos, como a própria confrontação por intermédio de terceiros, que existiu depois da Segunda Guerra Mundial, será limitada. E um mundo multipolar e com menos confrontações bélicas é já um mundo melhor.
A China, pela dimensão do seu território e da sua população mas, sobretudo, porque, em breve, a classe média chinesa será o dobro da totalidade da população americana e terá um nível cultural muito superior ao do povo americano, embrutecido pela comunicação e pelo fanatismo religioso, tem já o maior Produto Interno Bruto do mundo em paridade do poder de compra. Estima-se que o terá, também, em termos nominais, em 2025. Por isso, e não tenhamos ilusões, terá a tentação de ser potência dominante, com todos os males que tal implica para a liberdade.
Mas também não é certo que a Rússia continue a fazer parte do seu bloco. Tal sucede agora porque os protoditadores Xi Jinping e Putin se entendem bem. Só que a Rússia é profundamente europeia e não asiática na sua cultura. E Putin não é eterno, sendo certo que todos os homens que se julgaram providenciais e insubstituíveis, morreram, inevitavelmente. Será bom que os EUA e a Europa percebam isso e que contribuam para que a Rússia passe a fazer parte do grupo daqueles países que colocam a liberdade como o primeiro dos valores, e a igualdade e a fraternidade como seu corolário indispensável.
Henrique Dória
Belíssimo trabalho.