“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”
(Declaração Universal dos Direitos Humanos- Artigo I- de 10 de dezembro de 1948))
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade…”
(CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988, Capítulo l, Artigo 5º)
Não falta embasamento jurídico, aos legalistas, religioso, aos religiosos, ou até mesmo pela simples constatação de que somos todos provenientes da mesma espécie humana, para o exercício civilizado do respeito ao próximo, e para além disso, aos seres com os quais co-habitamos esse planeta, nesse insignificante espaço temporal em que cada um de nós existe.
Desde cedo somos educados para o respeito e amor ao próximo, ao menos aqueles de nós que tiveram a sorte de receber educação básica no seio familiar. Se vinha sendo assim por tanto tempo, o que faz com que as pessoas se sintam no direito de ofender ou agredir com palavras e atos, podendo inclusive matar os que considera diferente? Quem abriu a Caixa de Pandora e deu voz e vez à todas as espécies de agressão verbal e física, esse grotesco espetáculo de horrores que nos trazem os noticiários com tanta frequência?
A humana, mulher, professora, a mãe que sou se indigna, se identifica, se compadece com cada um dos agredidos e os quer proteger. Não consigo assistir calada. Tenho lugar de fala porque sou humana! É preciso reagir a essa demonstração de desrespeito, de desamor, de falta de empatia, de retrocesso civilizatório. Onde foi parar o homem cordial? As relações cordiais não são mais valores?
A cena do estádio inteiro vaiando o jogador Vini Júnior foi pavorosa. Assim como a punição por reagir a uma agressão física. Que inversão foi essa? Isso é aceitável no futebol? Ele errou ao reagir à agressão? Deveria ter-se submetido até desfalecer?
Desde que o fascismo flertou com o poder tudo mudou, a intolerância, a grosseria, todas as manifestações de agressão, desde a verbal, são normalizadas em nome de uma falsa premissa da “liberdade de expressão“. Perdeu-se o decoro. Foi liberado o direito de expor toda a falta de respeito, educação, civilidade numa espécie de vale-tudo! E isso abrange também a xenofobia, o machismo, a misoginia. Isso não para se não for contido. E é urgente. Ou cresce exponencialmente.
O racismo no mundo não é novidade, sabemos bem. Sempre existiram, infelizmente, povos se julgam superiores, escolhidos por seu Deus, e que querem, a toda força, exercer essa supremacia auto intitulada. Um exemplo muito significativo foi o que aconteceu em 1994, em Ruanda, Os hútus e os tutsis, antes da colonização branca, belga. Tinham suas diferenças, mas, havia uma “pax” entre vizinhos. A divisão do continente africano, pelos colonizadores, impôs no mesmo território povos diferentes, que eram incitados à beligerância por meio de insinuações de superioridade étnica, a um e a outro, provocando ódio aprofundado, ao longo de vários anos. Essas contendas crescentes culminaram no genocídio que vitimou 800.000 pessoas, entre eles, grávidas, crianças e bebês. Como se a existência dessas pessoas não importasse, o mundo branco assistiu horrorizado, no primeiro momento, mas, como de costume, comoveu-se menos do que se fossem brancos, mais recentemente, os ucranianos.
O racismo está presente até nas ações humanitárias. O movimento de refugiados das inúmeras guerras, que afligem diversos povos, nos proporcionou vários espetáculos de horror, com náufragos não-brancos sendo mal recebidos, enxotados dos países europeus, e até do Brasil, o “país cordial”, entre outros. Mas os refugiados ucranianos, são tratados de forma diferente, com reserva de vagas de emprego, somente para atender a esse grupo específico. Poderão alegar que a diferença entre esses dois grupos é a qualificação profissional do segundo. Isso é falso. Há diversos tipos de profissionais, com qualificação mais modesta e superior, doutorados, tanto num quanto noutro grupo. O critério é a origem.
Ao contrário do imenso avanço tecnológico a que temos assistido nos últimos anos, no âmbito do desenvolvimento humano isso não se percebe. No quesito “humanidade”, nas suas dimensões ética, moral, civilizacional, parece que estamos involuindo. Isso é o que está demonstrado no avanço dos partidos de extrema direita, com viés nazifascista por todo o mundo. Lastreados pelo poder do capital e o poder midiático que controla a opinião pública ela cria ídolos com pés de barro para governarem em defesa de seus interesses financeiros de toda ordem. Para tanto, incensam, pavimentam a estrada até o poder de candidaturas ultra conservadoras,, racistas, xenófobas, misóginas, homofóbicas, eugenistas, armamentistas, etaristas e capacitistas, enfim, um pesadelo civilizacional.
No Brasil não foi diferente. O atual governo tem pela frente a reconstrução de todas as políticas públicas para a redução da enorme desigualdade social, histórica no país, que foram destruídas nos últimos anos.. A reforma agrária, que se faz urgente, a politica de cotas para acesso ao ensino superior dos pobres, indígenas e pretos. Esses últimos, foram vítimas das políticas de “branqueamento” para o desenvolvimento do Brasil. Ao longo do tempo, o governo brasileiro doou terras, principalmente no sul e sudeste, aos italianos, poloneses, russos e ucranianos, japoneses e alemães (incluindo nazistas, na época da 2ª guerra). Para isso, expulsou indígenas e negros a fim de redistribuir as terras aos colonos brancos, que, no lugar dos escravos, trabalhariam nas terras. Algumas aldeias e quilombos foram destruídos. Suas manifestações religiosas, artísticas e culturais foram perseguidas e criminalizadas, assim como seus praticantes que, inclusive, corriam o risco de serem presos por suas práticas. Isso deixou marcas profundas na sociedade, pois os indígenas e negros receberam rótulos, entre eles de preguiçosos, de indolentes. A discriminação etno-cultural tornou-se rotineira. Passamos a ter “pele alva e pele alvo”, com essa diferença a determinar vida ou morte. Mais recentemente, tantos negros, indígenas e lgbts foram mortos no governo nazifascista de triste memória. Mas, felizmente esse tempo passou, a democracia venceu. Mas resta ainda o seu séquito de extremistas racistas e violentos que não tem vergonha de se mostrar em atos e demonstrações deploráveis nas redes sociais, que lhes dão holofotes.
O que assusta mais é ver que os partidos de extrema-direita, os nazifascistas estão ganhando adeptos em todo mundo, inclusive com propagandas e grupos nas redes sociais e até nas igrejas neopentecostais e católicas conservadoras, Com essas manifestações politicas, crescem seus ideais racistas, xenófobos. É preciso criminalizar, vigiar e punir tais práticas, exemplarmente, com os rigores da lei ou as consequências serão imprevisíveis.
No Brasil, país fortemente miscigenado, urge que o novo governo progressista faça cumprir a Lei 7.716. de 1989, que criminaliza o nazismo e todas as suas manifestações racistas. O caso Vini Jr. não é isolado. Ganhou mídia pela notoriedade do agredido, mas, todos os dias, em todo o mundo, casos assim acontecem. e cabe a nós, cidadãos, cobrar punições exemplares, não condescendendo jamais com a intolerância, a violência de todo tipo e com o abominável crime do racismo.
Loreley Haddad de Andrade, brasileira inquieta, portuguesa aprendiz, amiga sincera, encantada, apaixonada, amante das artes, da história, da natureza! Uma professora de autistas e arte-terapeuta realizada profissionalmente, que, uma vez reformada, desejou navegar em outras águas! Atravessando o Atlântico, veio descobrir novas terras, novas gentes! Contadora de histórias, leitora, amante da poesia e da música, da dança, do folclore, das festas tradicionais, inclusive da culinária afetiva! Descobrindo, a cada dia, as delícias e prazeres da vida, da cozinha, da alma portuguesa, na totalidade das suas manifestações! Muito curiosa e aberta às novas experiências, feliz com as pessoas maravilhosas presentes na minha vida e com as surpresas que a vida me deu até aqui! Essencialmente inquieta!