Política

Sistema – Anti sistema. Na procura certa da paz | Artur Alonso

Aqueles que tiverem possuído o Divino Conhecimento brilharão com todo o brilho dos céus. Mas aqueles que o tiverem ensinado aos homens, segundo os caminhos da Justiça, brilharão como estrelas por toda a Eternidade…“(Do Livro do “Zohar”)

 

O sistema

 

Entendemos por sistema um conjunto de regras, princípios, medidas, normas, procedimentos, que regulam o funcionamento duma coletividade. Para que este seja efetivo, a coletividade em si deve criar antes uma ideia compartilhada de comunidade. Ou seja, algo, comum que mantenha essa unidade. Pelo qual um verdadeiro sistema deve tender a uma relativa estabilidade, dentro dessas normas comuns, que verificam aquela unidade.

 

Sistemas complexos, como nosso corpo, precisam de homeostase para manter sua estabilidade. Esse tipo de sistema deve tender àquilo que brilhantemente explicou Claude Bernard, quando definiu a “homeostase”. E procurar que todos os mecanismos vitais, por muito variados que sejam entre si, tenham por comum objetivo a manutenção da estabilidade. Dai que sempre se faz preciso procurar essas condições, que influam positivamente no desenvolvimento adequiado do meio interno; ou seja verficar e intensificar os mecanismos que beneficiam a maioria, no seio da própria comunidade. No nível biológico, a sobrevivência daqueles organismos, que interagem na natureza, fê-los requerer de um meio interno homeostático. Assim como dum meio ambiente externo adaptado às suas características. Meio onde a “seleção natural” de Darwin esteja compensada com aquela “ajuda mútua” estudada por Kropotikin. Isso, de algum modo, facilita também uma espécie de homeostase externa.

 

Eis pois que o verdadeiro sistema procura a harmonização, tende para o equilíbrio; caminha para um ordenamento vital, vivo, em movimento, mudança, mas com o intuito de evolução, aperfeiçoamento. Se assenta no construir. Na Paz, na esperança, no acordo, no diálogo participativo (de todos os sectores representativos, dos diversos coletivos) e, pelo tanto, no consenso. Projetando seus anelos na busca da distensão. Distender, estender-se, alongar-se para diversas direções. Para finalmente unificar os variados critérios, num plano conjunto de trabalho inclusivo e não excludente.

 

Anti-Sistema

 

Pelo contrário e por definição, o antissistema se opõe ao sistema. A ordem estabelecida. Quebra a harmonia, a homeostase na procura do desgaste, a entropia que volta ao caos inicial, antes de começar a organizar-se o cosmos. Caminha para a destruição e não para a  construção. Fomenta dinâmicas de guerra, de confronto, de imposição, de não colaboração.

 

Força poderosamente a base involutiva, evoluindo, através de fomentar o desequilíbrio; como veneno corrosivo, tóxico, que desgasta os esforços do sistema na organização.

 

No entanto, o antissistema é também uma ferramenta natural de reciclagem, em cada fim de ciclo, oportuna para reciclar o velho e permitir surgir o novo: fechando a porta daquilo que contrai, decai; abrindo as portas daquilo que inicia lentamente sua expansão necessária. Igual ao nosso corpo, chegada a hora precisa da morte, o Antissistema cria a sua especifica metástase, precisa, para desconstruir o velho e permitir o inicio do novo. As células cancerígenas começam a disseminar-se do seu foco primogénito, formando novas colónias, até finalmente contagiar todo o corpo, já contaminado e doente.

 

Assim, por analogia, podemos compreender que, chegado um momento de máximo esplendor, qualquer sistema social em expansão, começa a contrair, gerando das suas anteriores pequenas contradições, problemáticas insaliváveis que obrigam à mudança completa do paradigma velho, onde aquela coletividade se assentava. Permitindo, deste jeito, ultrapassar o velho sistema já morto por um novo sistema, já em ascensão. Graças às dinâmicas negativas, de contração, destruição, imposição pela força, obriga a coletividade a abandonar o velho e dar bem-vindas ao novo. Pelp impulso das práxis negativas viçadas e  criadas pelo antissistema. Assim, podemos inferir que a espiral expansiva em rotação (dentro das dinâmicas energéticas toroidais, estudas pela física quântica), contém dentro si outra espiral em rotação contrária, que exercem o papel de sistema e antissistema. Alternando-se mutuamente, no papel, segundo uma, das duas, ascenda e a outra decaia.

 

Seguindo, como aparentam seus movimentos, características próprias da lei universal da polaridade. Lei natural geradora da vida – no seu aspeto de união masculino-feminino. Pois é através desta polaridade bem – mal, negativo – positivo, construtivo – destrutivo, que os seres humanos fazemos nossa aprendizagem, no espelho comparativo desta grande experiência que é a vida.

 

Ideia de Dualidade

 

Na criação do mundo houve dois universos paralelos. O universo sem defeito era a Árvore da Vida, e a realidade estava na Árvore do Conhecimento. Nesta habitam o bem e o mal. O ser humano recebeu de Deus a capacidade do livre arbítrio. Quando escolhemos a Árvore da Vida, optamos pela inexistência do caos. Quando Adão conectou-se à Árvore do Conhecimento e comeu o fruto proibido, fez a sua escolha, a conexão com o caos, que depois chegou à sua forma bem mais elevada: a morte.” (Arnaldo Niskier, Revista Brasileira. Separata “O Zohar – Alma da Cábala”. Outubro, Novembro, Dezembro 2011 – Nº 69)

 

Para obter o conhecimento, é preciso ver em contraste – o Sistema: Árvore da Vida e o Anti-Sistema: Árvore do Conhecimento.

 

Para voltar a entroncar no Sistema, precisa-se iniciar um caminho do meio, que transite entre o bem e o mal (que vemos desenhado na polaridade mesma, que se mostra no espelho da Árvore do Conhecimento). Aquele caminho sugerido pelo Budha: o caminho da neutralidade. Caminho que somente poderá ser visível se completar, em uníssono, a octúpla senda. Mas curiosamente somente poderemos alcançar este quando atingirmos aquele oculto conhecimento que nos permita retornar ao contacto com a Árvore da Vida.

 

E esse retorno somente é possível com a superação da ignorância, após transitar, vida após vida, a senda espiralada da sofrida Árvore do Conhecimento. Uma vez traspassados seus sinuosos caminhos de descobrimento, teremos chegado a desenvolver a tripla pacificação, da qual tanto temos falado…E que passa pela pacificação do indivíduo – dentro de si mesmo; a pacificação da sociedade, coletividade com a natureza e a pacificação entre os povos (através do mútuo e aberto conhecimento, assim como a volta à unidade, pela raiz comum de todos os povos). Ou seja, obter o conhecimento real e vital, de como em realidade essa vida tripla: no nosso interior (como corpo, alma e espírito) no planeta e cosmos, funciona.

 

Mudando as dinâmicas de rivalidade pelas de verdadeira igualdade. Mas não confundido igualdade de direitos, justiça social, igualdade nos deveres, com uniformidade matadora da diversidade e pelo tanto da vida. Pois a vida precisa do diverso, em união, para formar o comum, na ajuda mútua refletido, através da união sexual amorosa; feminina, masculina, em geração da vida e exuberância. Enquanto a união sexual não amorosa, forçada, imposta, gera a contração da exuberância: a frustração, o encolhimento da alegria, a expansão da tristeza.

 

Daí a igualdade dentro da diversidade ser precisa para permitir o desenvolvimento de todos os seres vivos, com o espaço vital suficiente para desenvolver seus projetos de vida. Pois esses projetos bem encaminhados são células vitais que irrigam energia potencial ao resto do sistema. Alegres, vitais, essas células criam vida dentro da vida: exuberância (sempre que respeitemos os seus ciclos devidos de regeneração natural). Contraídas, forçadas, amargamente irradiam energia ao sistema. Daí que as condições de igualdade respeitem, também, a diversidade.

 

Igualdade – Fratenidade

 

O igualitarismo deve dar-se também então no plano da legalidade, no plano da justiça mesmo na económica, mas não no Estado Evolutivo – onde cada ser deve estar no seu nivel adequado (a sua aprendizagem), ótimo para seu crescimento. Esse nível deverá ser conquistado com o seu esforço, trabalho, capacidade ética, consciência… Indepedentemente, que um determinado Estado de Consciência não seja melhor do que o outro, ainda sendo mais avançado ou atrasado, no aspecto da sua humana evolução.

 

É este o matiz igualitário.

 

No entanto, o Estado evolucional marca a tônica de vida de cada ser humano, e, segundo esse estado, cada ser deve servir a sociedade, conforme onde a sua experiência vital precisa para ele também for útil para coletividade, onde esse individuo está inserido. Os mais evoluídos intelectualmente fazendo os planos específicos, de cada matéria, que possam depois ajudar a contínua mudança, avançam na harmonização sistémica: acadêmicos, universitários, formadores de mestres. Os mais evoluídos espiritualmente (Mestres espirituaís e alunos avançados), transmitindo as tônicas pelas quais as novas filosofias trabalham na mudança do imaginário coletivo em favor da paz, o bem, a vida: com amor, dedicação, vontande, perseverança e fé. Os mais evoluídos fisicamente, ali onde o seu poder é adequado para a defesa dos mais débeis nesse aspeto, contra possíveis tentativas de impor pela força física a vontade ególatra.

 

Os mais evoluidos em todos os campos tornam-se assim guias naturais (entre iguais, pois cada um destaca-se em seu campo), que encaminham os outros – abrindo novas portas. Passos para que os menos favorecidos possam transitar e ter mais alternativas e escolhas, a hora de realizar o seu caminho de ascensão, em face de uma nova coletiva consciência.

 

Todos e todas trabalhando para si, e em comum a tripla pacificação – do ser interior, do entorno, e dos povos.

 

Ideia de Igualitarismo

 

O professor Armando La Torre, numa  conferência intitulada “Sociedade Civil, Democracia e Desenvolvimento na América Latina”; realizada na Universidade Francisco Marroquin, a 28 de Agosto de 2009, afirmava que o mito da igualdade, na sua origem se deu por etapas.

 

Primeiramente desenvolvido pelos “Estóicos” gregos, na sua visão de igualdade dos seres humanos, conforme a sua natureza. Mais tarde, o cristianismo acrescentou a ideia de igualdade ante Deus. No século XVII, na Inglaterra surge a ideia de igualdade ante a lei, no sentido de que todos os seres humanos deviam ser punidos com as mesmas sanções, segundo os diversos crimes.

 

E, finalmente, na revolução francesa desenvolveu-se o conceito de iguais em direitos. Ou o que é o mesmo, direito de uma certa igualdade de rendas. Este conceito da revolução francesa seria transformado na revolução russa, na igualdade entre proletários, camponeses e marinheiros. Para ser transformada no igualitarismo manipulado e preciso, para controle social dos poderes totalitários, nos regimes do falso comuniso, a partir do Estalinismo ou de caráter estalinista.

 

Desde este ponto de vista teríamos a igualdade natural, a igualdade ante Deus, a igualdade ante a lei e o direito à igualdade de rendas. Este ultimo mal focado daria lugar ao igualitarismo na base social dominada e domada, e ao igualitarismo dominador, na base mais elevada que controla o Estado: o falso comunismo.

 

E hoje, por outro lado, surge o “falso liberalismo” ou igualitarismo individualista niilista, de controle da base por uma elite privada – retirando do imaginário coletivo qualquer ideia de igualdade nas rendas. Na realidade, havendo entre as bases e o poder Coorporativo Privado um abismo de rendas – sendo o Estado e seus funcionários servidores bem remunerados deste poder. O poder das Corporações Privadas que corrompe o Estado e os cidadãos, e faz concorrer todo o mundo pela ascensão económica, dentro da pirâmide social para ter e obter maiores beneficios materiais: mais possibilidade de consumo selectivo e acesso a bens de maior gama. Deterioração da classe média, perda do seu poder aquisitivo – caminho para uma socieadade neo-feudal das rendas, com os Senhores donos das Corporações e servidores da classe operária, que já não se sentem proletários – se não consumidores de bens variados, de baixa gama – tal como estudou o professor de economia na Universidade de Missouri do Kansas, o norteamericano Michael Husdon.

 

No falso comunismo teríamos o empobrecimento dos ricos, manutenção da pobreza na maior parte dos cidadãos (sobrevivência, trabalho, saúde e formação acadêmica garantida pelo Estado – segundo o período de maior ou menor prosperidade). Pouca ou escassa classe média, e enriquecimento dos burocratas (não por uma grande diferença de rendas salariais, se não pela corrupção do Estado). Pois esses burocratas passam a controlar o Estado e a sociedade…

 

Dois modelos de corrupção e anti-sistema: Corrupção  Corporativa Privada versus Corrupção Burocrática Estatal.

  

Enquanto a ideia original inglesa de igualdade ante a lei, orientada dentro dum verdadeiro sistema teria dado em nossas sociedades capitalistas, numa ideia real de igualdade de direitos e deveres: cidadãos contribuindo para Fazenda Pública e manutenção do Estado, em troca dum Estado legalista e cumpridor do compromisso social, que promulga leis que protegem o indivíduo contra as arbitrariedades do poder privado ou corporativo. Mas que, na prática, tem-se desenvolvido (no seio de nossas sociedades ocidentais) um poder mercantil à sombra, que controla os Estados. Este poder exerce uma influência tal sobre o legislativo, executivo e judicial que, finalmente, se cria uma espécie de dupla legalidade – favorecendo tanto nos direitos como nos deveres, sempre o poder das Grandes Corporações Privadas.

 

Adequando a legislação a esta realidade. O qual, em tempos de fim de ciclo, involução sistémica, perigo de implosão do já assentado anti-sistema, criando dinâmicas de autodestruição, desalento, desilusão-depressão que criam inércias em favor da contração. Favorecendo o anti-sistema. No entanto, estas dinâmicas muitas vezes ficam tapadas, escondidas, pelos véus criados numa ilusão narrativa mediática – hipnótica, que desvia da realidade o imaginário individual e coletivo. Mas este Maya, que vende entretenimento e entorpecimento das massas, lança um ideário social que não se corresponde com a verdadeira realidade…

 

Assim que, desgraçadamente, nossa escolha fica limitada entre um caminho de perda de liberdade, no excessivo controlo estatal. E um caminho de falsa liberdade de escolha, no controlo financeiro privado. Sendo a escolha real entre o poder do Estado ou do Mercado: Servir a Elite burocrática do Estado ou a Elite Financeiro-Burocrática do Mercado.

 

Escolha entre dois sistemas – em combate permanente, dentro dum verdadeiro anti – sistema oposto à Lei Natural e à Lei Universal.

 

Assim, perece não haver outra alternativa para a humanidade do que escolher entre uma organização social baseada no livre mercado – capitalismo –  falso liberalismo (em suas diversas vertentes e graus) ou uma outra baseada no controlo estatal do mercado –  falso comunismo – falso socialismo (em suas diversas vertentes e graus).

 

Ambas em contraposição, em concorrência e em permanente guerra (em todas as suas modalidades: desde a guerra ideológica – cultural, do 3º tabuleiro, a guerra económica – comercial, do 2º tabuleiro, ate à mais crua guerra militar do 1º tabuleiro – como hoje verificamos na Ucrânia: ponto de fricção entre o Ocidente coletivo do falso liberalismo – individualista niilista – progressista – e o Oriente coletivo do falso comunismo – socialismo- agora também com a inclusão de algum aspecto da IV Teoria Política de Alexander Dugin, mas de firme Poder Estatal, conservador e comunitário).

 

Em ambas as modalidades de escolha, uma elite dominante controla a população, mediante o uso coercivo da engenharia social e da imposição dos mais estreitos ou mais amplos limites de tolerância da liberdade invidiual, segundo a época de maior ou menor abundância. Limites marcados, para não ser ultrapassados. Mantendo as margens precisas de pressão, por meio de um sistema judicial, criando dentro do próprio sistema, para evitar a queda do mesmo; por sua vez, um sistema de propaganda e controlo do imaginário coletivo, que permita uma primeira linha de contenção da dissidência, pela mesma pressão social do grupo: da comunidade (nesta egrégora coletiva inserida).

 

O Poder Legislativo, Executivo e Judicial, conjuntamente trabalhando para a manutenção do sistema político – económico – militar. Com maior ou menor autonomia, dentro das margens que o sistema permitir, segundo maior ou menor forem as marcas, que permitam certa liberdade individual e coletiva, dentro do controlo social, exercido pelas elites que comandam aquele sistema – segundo os ciclos de ascensão e regressão económica e cultural do mesmo.

 

Mas em todos os casos, as hierarquias dominantes elaboram a ideia, criam o pensamento, e difundem, mediante engenharia social o novo paradigma – Egregóra, que cria a realidade existencial, na qual os seres humanos, que vivem nessas coletividades, desenvolvem seus particulares caminhos ou viagens: sua experiência vital.

 

Vivendo, na prática, num contínuo cenário de guerra – Anti – Sistema.

 

Guerra em diversas modalidades: individual, pelo acordo dentro da sociedade. Coletivo, entre diversos coletivos, organizações, associações, pela supremacia em determinados ramos: sejam no âmbito do trabalho, cultural, intelectual; sejam nos grupos de famílias, linhagens, cartéis em confronto: lutando pelos espaços determinados, nos determinados espectros da sociedade. Guerra direta ou confronto, mais suave – subtil ou mais direto, entre países, regiões, ou modelos políticos – económicos – sociais. Guerra intra: dentro de cada indivíduo (entre seu eu psicológico e eu espiritual – ético); guerra interna pelo controle de cada organização social (sindicatos, patronal, organizações culturais, partidos políticos…) Guerra externa: entre coletivos, países, regiões… Ou entre blocos de poder global, em luta pela hegemonia.

 

Assim, vivenciamos o mundo, ainda muito pressionados pela falsa interpretação da teoria de Charles Darwin, de somente ser possível sobreviver aqueles mais fortes, astutos e melhor adaptados: primacia da mente habilidosa sobre a ética.

 

Mente habilidosa – que trabalha nas margens da sua ética peculiar – a favor da sua sobrevivência, dos seus interesses: associados ao seu controle particular, seu “direito a posuir material”, seu “direito a experimentar prazer e fugir da dor”…

 

Típica visão, em definitivo, de um paradigma de guerra – concorrência, encoberto pelo enfeite necessário da esperança da melhora – e do desfrute do momento, quando o prazer for realizado…

 

Anti – Sistema: somente factível a paz quando ambos os contendentes, ficarem numa situação de força similar, equilibrada – o que determina a imposição de acordos pontuas (que são utilizados para recobrar forças para futuros combates; ao invés de para semear confiança, que possa criar futuras e éticas alianças (não alianças com base em interesses materiais mútuos, senão em base de interesses ético – espirituais de natureza transcendente). Assim, quando um dos antigos contendentes, entrar em contração, o outro vai expandir, impondo seu modelo. Daí que, finalmente, a imposição seja a norma real a que tende o anti-sistema, e anelam vivenciar os poderes realizados na sombra da evolução, que hoje ainda controlam o mundo, ancorados no velho paradigma guerreiro. Aquilo que muito bem estudou Mircea Eliade: onde o nosso clã, tribo, etnia, nação, aliança imperial ou regional se visiona a si mesmo como o lado luz do espectro em disputa; enquanto o outro (que olhamos como inimigo, de quem sempre há que desconfiar; ao invés de o ver como o espelho complementar, que nos mostra a outra realidade de nós mesmos) – esse outro sempre será visionado, pelo círculo onde inserimos o “Nós” como involuído – o lado obscuro do espectro em disputa. Vivenciando o mundo, debaixo dessa falsa perspectiva de ser o natural de nosso entorno a luta pela supremacia: olhando as florestas e os nossos irmãos menores os animais, como eternos combatentes pelo território (não somos capzes de ir mais ao fundo: ver alem da superfície, ver além da aparência).

  

 

A Paz Precisa-se.

 

Esquecemo-nos daquela “Ajuda Mútua” estudada pelo russo Piotr Kropotkin, que nos ensina como também, em nosso entorno natural, além do combate, temos redes imensas de interdependência, e que são precisamente estas redes que criam (respeitando devidamente os ciclos) a exuberância natural, que permite a vida em harmonia. E essa inter-relação exuberância – distensão é vital para concretizar um caminho acertado da paz. Onde a luta pela sobrevivência, dentro das dinâmicas de escassez, não marquem nossa vital experiência. Assim, podemos observar como na África, as manadas de elefantes são dirigidas por uma matriarca experiente, que impõe sua visão ao grupo, no meio de períodos de abundância e escassez. Mas no Oriente, no sul da China, as mesmas manadas de elefantes são dirigidas, de forma mais democrática, por várias matriarcas experientes, em consenso de ideias, onde várias visões convergem para um objetivo de direção. Precisamente porque no entorno ambiental onde vivem estes grupos de elefantes asiáticos, a exuberância alimentar está garantida, não havendo tempos de grande seca seguindo tempos de abundância relativa, como na África.

 

Saber criar abundância e, depois, saber geri-la em contraste de ideias, diálogo aberto (não debate egolátra); implementado às tecnologias já ao nosso alcançe. Avançando para um modelo mais de coperação local, regional e internacional – de compartilhamento de tecnologia, saber humano e contrastes culturais; ao invés de concorrência e consumismo, é o grande objectivo do imediato presente, se quisermos ter futuro.

  

O grande problema é que imersos nestas dinâmicas de guerra, medo e não sobrevivência nos encontramos na dicotomia: de ante a ameaça de morte, reproduzir aquilo que visionamos, como contrário aos nossos imediatos interesses, ser provocador de miséria. Enquanto aquilo que visionamos favorável, aos nossos imediatos interesses, ser provocador de sustento. Daí vivermos inseridos numa mentalidade e ambiência real de curto prazo, que impede o trabalho em favor de um futuro melhor, afirmando a confiança precisa no presente. Confiança hoje quebrada, devido à crise da Ucrânia – onde para a nossa desgraça, as pontes que foram quebradas, demorarão decénios em serem consertadas.

 

Ao mesmo tempo, estas dinâmicas de confronto, nos impedem de abrir janelas de diálogo, somente possíveis numa ambiência de paz – hoje, a cada dia, mais longínqua. Daí fica apagado do nosso imaginário coletivo o caminho do meio, apesar da demonstração prática do Budha, de este caminho ser o único que conduz à realização homeostática de um sistema coletivo – e conduzir-nos a esse: “amar-nos os uns aos outros” pregado pelo Cristo.

 

Sendo que nesse caminho do meio, fomentado pelo amor próprio e amor ao diferente, essa verdadeira mudança começa na distensão individual, para conseguir a paz interior, dentro de cada ser, que possibilite a paz social e a paz entre os povos.

 

Eis por que com rotundidade positiva Gandhi afirmava que: “Cada vez que um homem dá um passo em favor da paz, toda a humanidade dá um passo em favor da paz”.

 

Maiores novos avanços tecnológicos, nascidos das novas descobertas científicas, criadas na luta do ser humano, para melhorar as suas condições de vida, facilitariam dinâmicas novas de entendimento – se a humanidade, previamente tiver trabalhado consigo mesma, elevado sua vibração amorosa. No mesmo sentido, os trabalhos filosóficos em favor de uma sociedade mais evoluída permitem já caminhar em uma nova senda da paz se previamente mediante a meditação – contemplação e práticas espirituais, olharmos as sombras dentro de nós e as transformamos em luz: clareza da vida mais purificada, menos controlada pelos medos e inércias de autodestruição.

 

  .

Mas a tendência guerreira dominante cria dinâmicas reais tão fortes, e estrutura todo o organograma económico – social e militar, em um impulso tão poderoso de concorrência – luta que atrela nossos corações duvidosos à luta irreal pela sobrevivência. Quando hoje, já esses avanços permitem gerar contínua exuberância, respeitando os ciclos naturais, se houver um real acordo global entre as diversas elites, em guerra pela hegemonia – em estes momentos, totalmente quebrado, devido à desconfiança mútua acelerada no confronto da Ucrânia – onde o Ocidente luta por procuração e a Rússia, que tenta acomodar e amalgamar a Oriente e o Sul global, luta mais diretamente.

 

Esquecendo, agora, aqueles formidáveis avanços, em favor da paz mundial, que devemos a tantos homens e mulheres, que durante milénios, têm trabalhado em favor de uma humanidade fraterna e de uma cultura da amor fraterno; apesar de que muitas vezes, estes avanços foram usados para criar um maior e mais temível belicismo.

 

Esses mesmos avanços científicos, que incentivam uma mudança no paradigma económico, que por sua vez incentiva uma mudança no paradigma social, marcham sem parada, em favor de uma necessária mudança no paradigma global guerreiro, que tem dominado a humanidade, desde pelo menos a Idade do Ferro.

 

Mas, como já observámos, as inércias de desconfiança, criadas, em séculos de forçado padecer e vivenciar como inevitável aquele mundo da guerra (hoje de volta à nossa mente com força), impedem esse acordo – mesmo sabendo, que de não ser paradas estas “vaidades” guerreiras, a humanidade se encaminha para a famosa DMA (Destruição mútua assegurada).

 

São tão poderosos estas inércias carregadas de ignorância, ódio, ressentimento… que, ao invés de aceitar que entre estes dois grandes blocos, em concorrência pela hegemonia (Império Ocidental – Império Russo, Chinês, Irão e, agora talvez também a Índia) não existe possibilidade de vitória (pois aquele que for encurralado ainda lhe resta a arma nuclear). Mesmo assim insistimos, e temos ainda alguns “loucos do porão” (como os denominara em seu dia, o ex-presidente americano George Bush pai) que sonham possível obter uma vitória em uma hipotética guerra termonuclear. E pior ainda, agora mesmo verbalizam, com total naturalidade, ante uma sociedade em hipnose, e choque, devido aos anos de pandemia e propaganda generalizada de medos vários.

 

Esses elementos belicistas deveriam ficar isolados em toda a administração, e deveriam predominar aqueles homes e mulheres com sangue quente e mente de aço, capazes de criar um clima de fria decisão, que mesmo em tempos de grande incerteza e pressão, possam diminuir o risco duma guerra fatal termonuclear.

 

Tal como no seu dia fizeram, com muito bom senso o presidente americano Jonh F. Kennedy e seu homólogo soviético Nikita Khrushchev, mantendo na raia os setores belicistas dos seus respetivos gabinetes, na famosa “crise dos mísseis cubanos”.

 

A humanidade, que quase sempre adormece em seu périplo vital, sem conhecer estas situações tão tensas, em toda sua real magnitude, ignora ainda no dia de hoje, quanto devemos àqueles dois grandes homens (ainda que com diametrais conceções de mundo) souberam antecipar a reta aptidão, ao histérico medo, mantendo uma atitude fria, de grandes estadistas. Ambos haveriam de ser afastados, um pela morte – assasinato e o outro pelo ostracismo político, de seus postos de comando. Pois os setores belicistas escuros, nunca perdoam aos grandes heróis anónimos da humanidade. E de honra, servir-lhes esta humilde homenagem.

 

Hoje mais do que nunca a paz é precisa. E exemplos dignos, como os do grande escritor e guia espiritual russo Leão Tolstoi, que escreveu aquele maravilhosso livro “O Reino de Deus está dentro de vós”, cuja leitura fez caminhar na paz a Ghandi, Mandela e mutos outros e que mudou aqueles dois guerreiros africanos de raiz zulu e indiana com ressentimento ao colonialismo britânico; a homens da paz e do consenso, apesar das duras provaçoes, que ambos padeceram…

 

Sendo esta homenagem extensiva para todos os seres humanos que deram sua vida em prol da mudança do paradigma de guerra.

 

A Guerra Comercial Deve Parar. A Guerra Psicologica tem de chegar ao Fim. A Guerra militar deve ter um fim – reconhecendo a necessidade de Segurança Mútua – e respeito desses espaços, para chegar a um necessário – Acordo Global.

 

Assim que a guerra comercial, que agora entra numa fase muito incerta, entre EEUU-China, após a nova crise de Taiwan, deve parar. O Oriente médio – com a nova Crise na Síria – Iraque, tem de ser relaxado.  

 

Aqueles loucos que sonhem que opondo Taiwan à China, o desenvolviemnto da económica tecnológica chinesa vai abalar estão destinados ao fracasso. A China já emprega, desde há anos muitos bons engenheiros taiwaneses a trabalhar na sua produção de semi-conductores, que agora se tornou realidade com a saída no mercado de seus novos avançados protótipos.

 

A China possui ou mediante aliança com a Coreia do Norte, quase 70% das denominadas “terras raras”, ou terras que produzem os minérios precisos para o despertar tecnológico. Encarecer ou travar a produção desses produtos, com destino a Ocidente, poderia criar um problema muito grave à Industria Tecnológica de todo o Império Ocidental.

 

Mesmo se decidir começar a vender livremente suas notas de dívida a Reserva Federal Americana poderia provocar um tsunami contra o dólar, que tiraria essa moeda do comando mundial, que apesar da sua fraqueza, ainda possui. No entanto, a frialdade chinesa tem mostrado uma perceção de que evitar piorar as cousas, contribuindo mais para evitar uma guerra.

 

Estamos diante de um império chinês em expansão (acompanhado agora pelo poder militar russo, o despertar indiano e a auto-suficiencia iraniana); ao tempo que vivemos no Ocidente um período de império em contração (que nasceu para dominar o mundo, quando a Espanha e Portugal abriram para nós todas as rotas de navegação possíveis).

 

A China, adequada melhor a mercados abertos, obriga o Ocidente a impor muralhas, a travar seu avanço. Mas isso não é uma boa noticia para o Ocidente. O Ocidente não pode por muito tempo virar impondo muros numa economia global que ele mesmo criou, no sonho do poder financeiro ocidental, dominar o mundo; e que agora está a confrontar-se com o Sul Global que vê nas parcerias com a China, a Rússia e a Índia, um modo de recuperar soberania, e de tirar da beira do rio a velha pressão ocidental de seus antigos colonizadores.

 

Mesmo tendo que acertar certa pressão chinesa, mas que no dia de hoje, junto com a ascensão de Rússia e da Índia olham como uma possível firme aposta, para mudar o mundo unipolar ocidental num mundo multipolar, mais adequado para os seus interesses.

  

No entanto, se esta dinâmica guerreira continuar por muito tempo, se a China resistir bem e ser capaz de contornar os cercos, o Ocidente terá de enfrentar-se com o seu maior pesadelo, aos poucos ceder o comando; entrar em guerra pela hegemonia (com o perigo duma guerra mundial) ou aceitar, com menor capacidade de negociação, o mundo multipolar ser já um facto.  

 

O Ocidente deve reconhecer que no novo cenário, implementado pela lei de contínua mudança, o empreendimento chinês, em todas as áreas: capital humano, capital tecnológico, capital económico… vai, aos poucos, subtilmente substituindo um mundo ocidental já em decadência. Assim, se a Administração Biden conseguisse submeter a China nesta guerra comercial, com acenos militares, talvez poderia permitir ao Império Ocidental dominar ainda, sustentar sua hegemonia nas próximas décadas; mas já nunca de forma unipolar. Tarefa para que seria preciso quanto menos somar a Índia ao seu barco; algo hoje muito improvável, pois mesmo com a sua rivalidade antagónica contra o expanismo chinês; sua boa amizade com a Rússia serve para amortecer, pelo menos por agora, essa disputa.

 

O risco pois é grande, neste novo embate do Ocidente, e se, ao invés do planejado, não poder conseguir o ganho nesta partida, somente ficaria uma outra opção: confrontar diretamente e militarmente Rússia. A Rússia, devido à sua extensão geográfica, é o único pais capaz de encurralar a China.

 

Mas esta tentativa, de momento, não tem funcionado, na armadilha ucraniana. E isso nos mostra outra cara da realidade, de que muitas vezes, o Ocidente não gosta de reconhecer, e é que, apesar da tentativa dos anos 90, de levar a URSS ao derrube total (lembram os russos que da Perestroika rumaram à Catastroika), a nova Rússia após Boris Yelstein, da mão da nova Administração  Putin – Medvédev  soube manter o capital humano, científico e tecnológico preciso, para manter em mínimos e logo renovar seu arsenal militar, a tal ponto que, com menos do que 10% do que investe os EEUU, em armamento, se tem tornado um poder imbatível, ate ao momento nesta área – agora, melhor situado, com a aliança militar com o Irão, a Índia e a China.

 

É possível que, no final deste embate, os dirigentes do mundo sejam capazes de dar-se conta que o Ocidente já não tornará a vivenciar o sonho do poder único a comandar o mundo. Já que estamos no meio de uma crise pós pandemia, junto à velha crise económica global, com a quebra sistémica de 2007-2008, da qual as finanças mundiais nunca se recuperaram. Na realidade, somente a alquimia financeira, baseada no engano da compra de ativos próprios, pelas mesmas Corporações, aproveitando os estimulos estatais e a politica dos Bancos Centrais Ocidentais de juros perto de 0, tem permitido aparentar normalidade e mesmo crescimento – mas agora a inflação, com a ameaça de deflação fez mudar essa política e começar o aumento de juros.

 

O Ocidente deve acordar e o Oriente deve travar as suas expectativas, para ambos, poderem sentar-se e negociar um possível acordo global, entre iguais. Onde o Ocidente e Emergentes se sentam a desenhar um novo marco mundial multipolar, sem vencedores nem vencidos, com uma nova moeda global de reserva e referência (baseada em uma cesta de commodites, fora da alquimia financeira do sistema fiat), e novas normativas, pautadas entre todos – para o cumprimento dum novo marco mundial, que seja respeitado por todos os atores comprometidos, permitindo decénios de paz à humanidade.

 

Esse parece ser o único caminho para a sobrevivência. A paz é precisa. E as dinâmicas globais, entre guerra termonuclear e acordo global, assim aconselham.

 

Existem modelos alem dos dois falsos modelos de guerra.

 

Na realidade, existem modelos além destes falsos dois modelos de guerra (falso comunismo – falso liberalismo), onde o poder estatal pode conviver com o poder privado.

 

A Europa do Estado do Bem Estar utilizou um modelo na metade do caminho – caminho do meio – entre o socialismo e o liberalismo, nascido na Suécia, em plena depresão dos anos trinta, após a queda sistémica de 1929.

 

Modelo que foi permitido, dado as dinâmicas da guerra fria, e o poder igualado entre trabalho e capital. Mas, tombada a URSS, foi abolido pela pressão do falso liberalismo.

 

Esse modelo deu maior avanço e coesão social que a Europa sonhou em toda sua história, criando um capital humano, que foi em seu tempo a inveja do mundo.

 

E esse é um modelo a meio caminho, fora das dinâmicas de guerra: onde capital e trabalho dialogam e abrem mutuamente espaços de colaboração, não invasivos que permitam às sociedades viver em maior harmonia e menor concorrência. Reforçando a ajuda mutua e minorando a concorrência fatal pela sobrevivência.

 

Limitando o âmbito da competição aos planos da leal disputa que incentiva a inovação e a procura do conhecimento… sem riscos de confronto, pois essa concorrência fica suavizada pela ajuda entre concorrentes, para maior proveito global das sociedades.

 

E esse desenho pode ser implementando no nível global, para criar acordo entre o poder Ocidental e o Poder Emergente… enquanto o mundo caminha, a nova e imparável transição para a nova Idade Tecnológica, que significa a maior mudança evolutiva desde o descobrimento do fogo. Ao tempo que o Ocidente tem de reconhecer que o seu modelo cultural thelemico de individualismo exarcerbado niilista, fora da raiz coletiva e da raiz cultural dos povos – de globalismo sem soberania das nações deverá ser substiuido por um novo modelo, onde o invididual se enraize no coletivo e onde o governo global terá de ir no caminho duma federaçao de povos – no inicio, com regionalização entre parceiros soberanos, em mútua ajuda.

 

Ultrapassar o Antissistema da Guerra.

 

Hoje, devemos ser cientes de que vivemos dentro dum antissistema de guerra, concorrência, imposição, predação, que tende à autodestruição. No entanto, ele se mantém por séculos e milénios, criando, dentro do antissistema bélico autodestrutivo, um centro geográfico hegemónico evolutivo (que muda nas diferentes épocas), que permite estabilizar o antissistema, marcando limites à involução geral autodestrutiva. Quando esse centro geográfico involui, criando dinâmicas de destruição, um novo centro (que recolhe o melhor desempenho do velho) afirma-se em outra latitude. Como já temos explicado, hoje, depois de todo o hemisfério norte ter afogado centros geográficos de evolução, expansão e devida final, contração, a marcha do avanço evolutivo da humanidade está a rumar do hemisfério norte ao sul, com um novo centro geográfico ainda por preparar na América do Sul.

 

Por enquanto, o velho Império Ocidental em decadência terá que procurar um acordo global, com os seus concorrentes Emergentes. Ou pelo contrário, o pior dos cenários de guerra, imprevisível.

 

Mas além do antissistema de guerra involutivo, equilibrado pelo centro geográfico temporal evolutivo, existem modelos de sistema geral evolutivo, com desenvolvimento de antissistema nas periferias que deveria ser o modelo a implementar na nova humanidade, que vai ser gerada no hemisfério sul, nos próximos séculos. Uma humanidade mais evoluída, onde a renovação tecnológica terá por força de ir acompanhada por uma ampliação da consciência em todos os campos: psico – emocional, racional mental e intuitivo. Alguns pequenos exemplos deste tipo de experiências de comunidades onde a guerra entre opostos era substituída pela complementação dos supostos contrários, pela analogia dos mesmos têm também existido ao longo da história.

 

Modelos Complementares

 

Na historia da humanidade temos observado períodos onde o modelo comunista e liberal não foram concorrentes e sim complementares. A ideia de que a comunidade está acima da individualidade ou de que a  liberdade individual está acima da justiça social foi ultrapassada. Épocas onde o social trabalhava para a liberdade individual e a liberdade individual em favor da comunidade. Onde a raiz cultural e a pertença a um lugar não criava contradições com o desenvolvimento do individuo e seu rico mundo interior; ao invés o complementavam.

 

Aí o verdadeiro comunismo permitia efetivar o verdadeiro liberalismo – ou livre arbítrio, e o livre arbítrio – liberalismo, com o necessário empreendimento individual, revertia em favor da colectividade: gerando mais-valia para toda a sociedade, não estando o indivíduo por cima da sociedade – mantendo um igualitarismo ante a lei, ante a natureza, e ante a ideia de ser seres universais, nascidos duma inteligência criadora, cuja demonstração mais vital era a semente. Pois dentro de cada semente uma informação genética mantém seu plano de vida – algo que somente poderia ser efetuado por uma Mente Cósmica…

 

Eis então que em essas épocas, o igualitarismo não equivalia à uniformidade e o liberalismo não equivalia a cumprir a vontade individual ególatra dos mais poderosos.

 

O caminho do meio estava traçado e as sociedades vivenciavam esse viver harmónico.

 

Para chegar a implementar esse modelo complementar de paz que, ao longo da historia conhecida, foi vivenciado em pequenas comunidades em breves períodos de tempo, é preciso uma profunda mudança de consciência individual e coletiva, trabalhada na já falada Tripla Pacificação. Na historia, temos exemplos de comunidades como os Pitagóricos, Estoicos, Essênios, Nazaritas, comunidades Gnósticas cristãs como as de Prisciliano na Gallaecia, herdeiras do druidismo celta e do judaísmo de Qumra, que deu no Gnosticismo. Algumas comunidades indígenas da América do Sul ou Norte-Americanas, com uma consciência menos desenvolvida cientifica – tecnologicamente, mas muito desenvolvida espiritual e ecologicamente.

 

Comunidades onde o comunismo, entendido como igualdade, não uniformidade e o liberalismo, entendido como exercício pleno do livre arbítrio, se tornavam necessários e complementares na experiência vital. O livre arbítrio trabalhava em favor da comunidade e a comunidade em favor do livre arbítrio. O individual gerava riqueza no comum e o coletivo permitia iguais oportunidades nos indivíduos – dentro da tónica evolutiva de cada um. Cada um cumprindo sua missão, para seu benefício e para benefício do coletivo.

 

Foi e ainda é possível este modelo. Mas somente pode realizar-se em sociedades onde o desenvolvimento psicológico e espiritual, individual e coletivo, sejam a norma e não a exceção.

 

Daí ser também preciso um novo Centro Geográfico Universal, que permita irradiar esse novo modelo social.

 

Onde as novas consciências possam ajudar a criar uma verdadeira nova humanidade de paz. Centro geográfico que, como já temos comentado, já não será mais no hemisfério norte, que deu grandes avanços à humanidade, mas já ficou exausto, do seu desempenho histórico.

 

Senão que o novo destino rumará para o Hemisfério Sul.

 

Mas por enquanto, teremos de conformar-nos com toda a humanidade, tentar desenvolver uma nova consciência de paz – e, por agora, pressionar nossos dirigentes a pactuar um novo acordo global, fora da ameaça nuclear de guerra. E dessa pressão e recuperação dum global movimento pacifista universal, mais além de divisões esquerda – direita, mulher – homem, norte – sul… Dependerá, desta vez, sim, nossa sobrevivência.

 

‎”Em cada coração há uma
janela para outros corações.
Eles não estão separados,
como dois corpos.
Mas, assim como duas lâmpadas
que não estando juntas,
sua luz se une num só feixe.”

 

RUMI

 

Fotografia de Artur Alonso

 

Artur Alonso: escritor com vários livros editados de teatro, poesia, ensaio e romance…

Ex diretor do Instituto Galego de Estudos Internacionais e da Paz.

Ex secretario do Instituto Galego de Estudos Celtas.

Membro do Conselho Consultivo do Movimento Internacional Lusófono.

Membro de Honra da Associação de Escritores. Mocambicanos na diáspora.

Membro do Conselho de Redação da Revista Identidades, etc.

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