Poesia & Conto

Poemas | Maria Azenha

NAQUELA MANHÃ

 

Ao funeral de meu pai não assistiu ninguém
não chegou uma coroa de flores
nem padre
nem irmãos

nem as nuvens quiseram saber
da piscina dos meus olhos

foi terrível chorar com o corpo acima da terra
compor a dor
antes da primavera

passava um comboio
os carris tinham o nome dos anjos
exalavam um perfume a óleo
levavam o meu choro banhado a ouro

 

MULHER VESTIDA DE NEGRO

 

Trazia um vestido negro,
uma mala ao ombro. Deu uma queda.
Tropeçou numa pedra. Caiu ao chão.
A seu lado, sapatos e sangue.
Ninguém quis saber. Ninguém se mexeu.

Desde então a mulher tornou-se estrangeira.

A cidade, no lugar do coração, plantou um cedro. 

 

 

CABEÇA VOLTADA PARA O SILÊNCIO

Cabeça voltada para o Silêncio – realização e fotografia de Maria Azenha

Música – Mikael Karlsson

 

https://vimeo.com/746600792

 

CURTA METRAGEM – UE

Ela morreu. Ninguém a informou.
Ao contrário do Messias não ressuscitou.

 

Maria Azenha

Maria Azenha (Coimbra, Dezembro de 1945), é uma poeta portuguesa.

Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra. Exerceu funções docentes nas Universidades de Coimbra, Évora e Lisboa. Desempenho actividade docente no Quadro de Nomeação Definitiva na Escola de Ensino Artístico António Arroio. Membro da Associação Portuguesa de Escritores e membro de honra do Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa.

Tem vários livros publicados.

 

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