BRAM STOKER, DRACULA
As espáduas sangue o aço o punho árduo, Drácula
Por onde se esvaísse o desejo, nua fátua
Por onde as peles e a manha da noite antropófaga
As estátuas sem diluir, tártara
O frio do êxtase, vácua
Viciada, mágoa
Drácula
OSCAR WILDE
Oscar Wilde, árida a beringela árida a pena árido o desejo árido
Pela lua esquartejando uma noite sem tendões sem olfato, rara
Por Dublin por Paris por alas e alas
Por Londres por esmalte chamas uma flor sem raiz
Wilde, árido o veneno árido o que quis o que não quis
Wilde, pária e bissetriz
JOYCE, O ÓCIO DOIDO EM ÓLEO
(Dublin, dobra a esquina dobra a voz)
Joyce de Dublin, a escrita fólio junho episódico tumulto
(Dublin, dobra a esquina dobra a voz)
O ócio doido em óleo
Dobra a escadaria e o muro
Joyce que navegaste o vulto sem gasóleo, qual culto
Ulisses, vagabundo das ideias do mundo
Sem retrato
Sem recado
Ulisses, por onde o visses
Por onde
Dédalo e apoteose
(Dublin, dobra a esquina dobra a voz)
O ócio doido em óleo
Ulisses, vagabundo das ideias do mundo
IRLANDA, POR ONDE O MEU CAVALEIRO
No castelo este desabar no teu arco-íris na tua lenda nos teus remos
Os lagos e o trevo
Eu, nas trevas, a aguardar um sinal da minha bússola do meu coração
Os montes invadem-me dardos lentíssimo chão
Os lagos e o trevo
Eu, nas trevas a aguardar o meu cavaleiro, deslizem espadas vertigens e responsos reais
Deslizem os cais
Deslizem as curvas as estrelas os sais
Sou tua
Sou este estrado nas telas e que me vedo
Em ti
Celta desígnio, sinto-te demais
Cecília Barreira leciona Cultura Portuguesa na FCSH/UNL. É autora de muitos livros de poesia e ensaio.