Sociedade

A Economia está a ficar afónica? | Vítor Burity da Silva

“A economia é a ciência que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços na sociedade. A economia é também uma forma de comunicação entre os agentes económicos, que expressam as suas preferências, as suas expectativas e as suas decisões através de preços, salários, juros, impostos, etc.

Mas será que essa comunicação está a funcionar bem? A economia está a tornar-se afónica, ou seja, incapaz de transmitir a informação necessária ao bom funcionamento do mercado e ao bem-estar das pessoas?

Alguns sinais sugerem que sim. Por exemplo, a taxa de juro real, que é a diferença entre a taxa de juro nominal e a taxa de inflação, encontra-se em níveis historicamente baixos ou mesmo negativos em muitos países. Isto significa que os investidores estão dispostos a emprestar dinheiro a um custo muito baixo ou mesmo a pagar para o fazer. Isto pode indicar uma falta de confiança no futuro da economia ou uma escassez de oportunidades de investimento rentáveis.

Outro exemplo é a desigualdade de renda e riqueza, que aumentou em muitas partes do mundo. Isto significa que uma parte cada vez maior da produção económica está concentrada nas mãos de uma minoria cada vez mais rica, enquanto a maioria da população vê o seu poder de compra estagnar ou diminuir. Esta situação pode indicar uma falta de equidade na distribuição dos benefícios do crescimento económico ou uma falta de mobilidade social e de oportunidades para os mais desfavorecidos.

Um terceiro exemplo é a crise ambiental, que se manifesta através das alterações climáticas, da perda de biodiversidade, da poluição, da escassez de recursos naturais, etc. Isto significa que a atividade económica está a ter um impacto negativo no ambiente e nas condições de vida das gerações presentes e futuras. Isto pode indicar uma falta de sustentabilidade na forma como produzimos e consumimos ou uma falta de responsabilidade coletiva e cooperação internacional.

Estes são apenas alguns exemplos de como a economia pode estar a tornar-se afónica, ou seja, incapaz de comunicar eficazmente a informação necessária ao bom funcionamento do mercado e ao bem-estar das pessoas. Isto pode ter consequências graves para a estabilidade, prosperidade e harmonia da sociedade.

Para evitar que isso aconteça, é necessário repensar os fundamentos da economia e suas relações com as outras ciências sociais e com a ética. É igualmente necessário promover uma maior participação cívica e democrática na definição das políticas económicas e no acompanhamento das suas consequências. É igualmente necessário promover uma maior educação financeira e económica dos cidadãos, para que possam compreender melhor os fenómenos económicos e exercer os seus direitos e deveres.

A economia não é uma ciência neutra ou imutável. A economia é uma construção humana e social, que depende das escolhas que fazemos individual e coletivamente. A economia pode ser uma fonte de progresso e felicidade ou uma fonte de conflito e sofrimento. A escolha é nossa”. 

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar uma visão geral da economia, a ciência que estuda como gerir os recursos disponíveis para satisfazer as necessidades humanas. Para isso, aborda os principais conceitos, objetos e ramos da economia, bem como os seus desafios e aplicações na sociedade atual.

 

Introdução

 

A economia é uma ciência social que se dedica a analisar o comportamento, as decisões e as ações dos seres humanos em relação à produção, distribuição e consumo de bens e serviços. A economia parte do princípio de que os recursos do planeta são escassos e que as necessidades humanas são ilimitadas, o que implica a necessidade de escolher entre as várias alternativas possíveis. A economia também se preocupa em estudar como os preços dos bens e fatores produtivos (terra, trabalho, capital e tecnologia) são formados, como os mercados e as instituições que os regulam funcionam, como o desempenho econômico de um país ou região é medido, como a renda e a riqueza são distribuídas entre indivíduos e grupos sociais, como se promove o crescimento económico sustentável e o desenvolvimento humano e como se estabelecem as relações económicas entre países e organizações internacionais.

 

A economia é uma ciência dinâmica e complexa que se adapta às mudanças históricas, culturais e tecnológicas que afetam a sociedade. A economia é também uma ciência interdisciplinar, que dialoga com outras áreas do conhecimento, como a história, a sociologia, a psicologia, a política, o direito, a matemática, a estatística, a ecologia e a ética. A Economia tem vários ramos ou subdisciplinas, que se especializam em diferentes aspetos ou campos da realidade económica. Algumas das principais são: microeconomia, que estuda o comportamento dos agentes econômicos individuais (consumidores, produtores, trabalhadores); macroeconomia, que estuda o comportamento agregado da economia (produto interno bruto, inflação, desemprego); a economia internacional, que estuda as trocas comerciais e financeiras entre os países; economia monetária, que estuda o papel da moeda e da banca na economia; economia ambiental, que estuda os impactos da atividade económica no ambiente e nos recursos naturais; a economia social, que estuda formas alternativas de organização económica baseadas na solidariedade e na cooperação; entre outros.

 

Desenvolvimento

 

A origem da economia remonta à antiguidade clássica, quando filósofos como Platão e Aristóteles refletiam sobre as questões relacionadas à organização da vida em sociedade e à administração dos bens comuns. No entanto, foi apenas no século XVIII que a economia se consolidou como uma ciência autônoma e sistemática, com o surgimento da chamada Escola Clássica Inglesa. Os principais representantes desta escola foram Adam Smith (1723-1790), considerado o pai da economia moderna; David Ricardo (1772-1823), que desenvolveu a teoria da vantagem comparativa; Thomas Malthus (1766-1834), que alertava para os problemas demográficos; John Stuart Mill (1806-1873), que defendeu os princípios do utilitarismo; entre outros. Os clássicos defendiam o liberalismo econômico, ou seja, a ideia de que o mercado é capaz de se regular através da livre concorrência e da lei da oferta e da procura, sem a necessidade de intervenção estatal.

 

No século XIX, surgiu uma corrente crítica do capitalismo e do liberalismo económico: o marxismo. O principal expoente dessa corrente foi Karl Marx (1818-1883), que escreveu O Capital, editado e finalizado por Friedrich Engels (1820-1895). O Capital  é uma obra fundamental para a análise da estrutura e funcionamento do sistema capitalista. Marx criticava a exploração da classe operária pela classe burguesa, que se apropriava da mais-valia, ou seja, a diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador. Marx também previu o colapso do capitalismo devido às suas contradições internas, como as crises de superprodução, a concentração de capital, a queda da taxa de lucro, entre outras. Marx propôs uma transformação radical da sociedade através da revolução proletária, que levaria ao estabelecimento do socialismo e, mais tarde, do comunismo, sistemas baseados na propriedade coletiva dos meios de produção e na distribuição equitativa dos bens.

 

No final do século XIX e início do século XX surgiu outra corrente importante na história do pensamento econômico: a Escola Neoclássica. Os principais representantes desta escola foram William Stanley Jevons (1835-1882), Carl Menger (1840-1921) e Léon Walras (1834-1910), que desenvolveram a teoria marginalista. Esta teoria sustentava que o valor dos bens depende da sua utilidade marginal, isto é, do benefício adicional que proporcionam ao consumidor. Os neoclassicistas também introduziram ferramentas matemáticas para analisar o equilíbrio geral da economia, considerando as interações entre os vários mercados. Os neoclassicistas adotaram os princípios do liberalismo econômico, defendendo a eficiência do mercado como um mecanismo para a alocação ótima de recursos.

 

No entanto, na década de 1930, ocorreu um evento histórico que abalou as bases do liberalismo econômico: a Grande Depressão. Este foi um período de grave crise econômica mundial, caracterizado por uma queda acentuada na produção, no comércio, nos preços, nos salários, nos investimentos, nos lucros, além de um aumento do desemprego, da pobreza, das falências, das dívidas públicas, etc. A Grande Depressão revelou as limitações do mercado para se regular e gerou uma demanda por maior intervenção estatal na economia. Nesse contexto, surgiu uma nova corrente teórica: o keynesianismo. O principal representante dessa corrente foi John Maynard Keynes (1883-1946), que escreveu A Teoria Geral do Emprego, Juros e Dinheiro, uma obra revolucionária para a macroeconomia. Keynes criticou o laissez-faire dos clássicos e argumentou que o Estado deveria atuar como regulador e estimulador da atividade econômica, por meio de políticas fiscais (gastos públicos) e monetárias (controle da oferta monetária). Keynes também enfatizou o papel da demanda agregada (consumo + investimento + gasto público + exportações – importações) como determinante do nível de renda e emprego na economia.

 

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o keynesianismo tornou-se hegemônico no cenário econômico mundial, inspirando diversas políticas públicas voltadas para o crescimento econômico, o pleno emprego, o bem-estar social e a estabilidade monetária.

 

Referências

 

1: Crise do Petróleo – Economia – InfoEscola. Disponível em: https://www.infoescola.com/economia/crise-do-petroleo/. Acesso em: 10 maio 2023.

 

2: Oil crises – Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Crises_do_petr%C3%B3leo. Acesso em: 10 maio 2023.

 

3: Economia – O que é você, definição e conceito | 2023 | Economipedia. Disponível em: 

https://economipedia.com/definiciones/economia.html. Acesso em: 10 maio 2023.

4: UOL Economia: encontre orientações e notícias sobre economia. Disponível em: 

https://economia.uol.com.br/. Acesso em: 10 maio 2023.

5: Economia – Últimas Notícias | InfoMoney. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/economia/. Acesso em: 10 maio 2023.

6: Crise do petróleo? Saiba como a queda reflete no mundo – FDR. Disponível em: 

https://fdr.com.br/2020/03/09/crise-do-petroleo-saiba-como-a-queda-reflete-no-mundo/. Acesso em: 10 maio 2023.

 

Fotografia de Vítor Burity da Silva

 

Vítor Burity da Silva, natural do Huambo, Angola, a 28 de Dezembro de 1961. Professor Honorário; Doutor Honorário em Literatura; Ph.D em Filosofia das Ciências.

 



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