Política

Sísifo e o besouro do esterco | Egídio Trambaiolli Neto

Sísifo é um mito humano da Mitologia Greco-Romana. Considerado como um dos maiores desafetos dos deuses do Olimpo, Sísifo traz o estigma da astúcia e malícia, quando se trata de burlar as leis divinas. É conhecido também por ser um grande trapaceiro que não hesita em roubar e matar para tirar algum proveito.

 

Mas o auge do mito ocorre quando ele delata uma das aventuras extraconjugais de Zeus e ainda desafia os deuses a capturá-lo. A ira divina não tardou, depois de várias esquivas foi pego e sentenciado por suas ações. Sísifo foi encaminhado para o mundo dos mortos, onde teve como pena rolar uma pedra imensa até o topo de uma montanha e ali deixá-la, todavia, a pedra não parava no cume e descia até o ponto de partida, obrigando Sísifo a reiniciar seu trabalho dia após dia.
O objetivo de rolar uma grande bola até um determinado ponto não é exclusividade do personagem mitológico. Na natureza há uma criatura que exerce trabalho similar, é o besouro do esterco, que visita os dejetos de bovinos e faz uma bola, cinco a seis vezes maior que ele, com os excrementos. Em seguida, ele tenta levar a esfera fecal até seu ninho, usando suas pernas traseiras para conduzi-la e as dianteiras para apoiar-se no chão. Como muitas vezes o terreno se mostra irregular, o besouro vive momentos de Sísifo e precisa reiniciar seu trabalho. Assim que chega no ninho, o besouro do esterco põe seus ovos na bola de esterco e ali seus descendentes se desenvolverão e encontrarão o alimento necessário para se desenvolverem.

 

A política traz bastante similaridade entre estes dois personagens, pois os eleitores vivem ciclos similares a eles, enquanto uns tentam levar à gestão pública quem consiga carregar um fardo enorme e manter seus líderes no topo, outros empurram bolas de esterco que alimentam seus apoiadores. O curioso é que Sísifos e besouros do esterco estão aí, se revezando no poder. Muitos países vivem estes ciclos, ora tentam seguir um viés, ora outro. Para piorar, Sísifos e besouros do esterco por vezes se aliam e transformam a administração de uma nação em um imenso jogo de interesses, traições e corrupção. Logo, escândalos vêm à tona e o país se desestabiliza. Cassação de mandatos, prisões, impeachments e tantas outras estratégias acontecem enquanto o país se deteriora, até que chegam as novas eleições e a grande pedra ou bola de esterco despencam para se reiniciar o novo ciclo.

 

Parece algo sem fim. Talvez não. Quando compramos um alimento estragado em um supermercado, temos o direito de solicitar a troca. A culpa não é do freguês, mas sim de quem colocou aquele produto de má qualidade para ser consumido, logo, ela terá de arcar com o prejuízo. Se uma empresa de ônibus coloca um motorista sem habilidade para conduzir um de seus veículos, com o propósito de transportar pessoas, e um grave acidente acontece, assim como o motorista, a empresa também responde pelo fato e é obrigada a indenizar as vítimas ou familiares. A política deveria seguir as mesmas regras, se um partido coloca um mau político, alguém envolvido em corrupção e outros crimes como candidato, e este, quando eleito, volta a agir com má-fé, não só o candidato deve ser punido, o partido deveria assumir sua culpa, afinal, é ele que seleciona seus candidatos. Seria como um código de defesa do eleitor, que acaba iludido pelas mentiras proferidas pelo candidato, lançado por um partido que não teve a decência de selecionar quem o representaria.


De qualquer forma Sísifos e besouros do esterco estão aí aguardando as próximas eleições para tentarem reiniciar os ciclos.

Fotografia de Egídio Trambaiolli Neto

 

O Prof. Egidio Trambaiolli Neto é um dos autores mais prolíficos da história dos livros impressos. Atualmente sua produção já excede as 680 obras, com publicações em diversas áreas, para todas as faixas etárias e em vários países, entre eles: Argentina, Chile, China, México, Portugal, Israel, Angola, Estados Unidos e República Dominicana.


Entre seus trabalhos estão mais de 30 projetos educacionais em áreas como: Técnicas em Educação, Mecatrônica, Educação Tecnológica, Educação para o Trânsito, Ciências Aplicadas aos Estudos em Laboratórios, Tecnologia Aplicada às Ciências Naturais, Bullying, Jogos de Tabuleiro, Saúde, Cinema e Meio Ambiente.


É também palestrante ativo, avaliador de projetos científicos e orientador de projetos aplicados às Ciências e Engenharia em Feiras Nacionais, como a FEBRACE – Feira de Ciências e Engenharia da Universidade de São Paulo e Internacionais, como a INTEL-ISEF – Feira Internacional de Ciências e Engenharia, com sede nos Estados Unidos.

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