Poesia & Conto

Poemas | Oscar Gama Filho

Língua sobressimbolista

É um pássaro?

É um avião?

Não. É o sobre-homem.

E fala uma nova língua:

O Sobressímbolo!

 

 

Sobressimbolismo 

 

Não pode renascer

quem não morreu jamais.

Jamais de ti fui capaz,

Antevéspera do mudo:

 

O silêncio que atrai o ruído.

O véu tenso que vai no fluido.

 

O céu tem de ser doído,

Ao inferno fui sem jamais ter saído,

Antevéspera do vencido anjo

que como na calda de canjo.

 

Oro no purgatório

pelo cochilo:

 

Não pode renascer para mais,

Não pode renascer para o amor

quem não morreu jamais assim:

Na pós-véspera do fim, tragicômico,

Renasço Carlitos e clônico de mim.

 

Renasço frenético, atônito e aí?

Renasço da morte mesmo assim 

para me perpetuar amor e rir feliz,

Sobre-símbolo hermético de mim: eis-me cisne.

 

A Antevéspera se entedia de esperar,

Etérea presença, pelo que virá,

Pelo avesso do ar, se solidificar.

 

Músculos ajudam a gente em dúvida

a pensar melhor no amor único.

Músculos ajudam a pensar,

Tornam mais leve o peso e a pena.

 

Não pode renascer para o amor

quem não morreu jamais

na pós-véspera da paz.

 

Itaparica, 12/2/2008

 

 

Sobressimbolismo II

 

Antílope de tal graça reunido

em suas próprias exéquias,

Eis minha essência: Rei Nilo.

 

Nulo de ordens até o vazio,

As Parcas me retalharam o seio onde:

Esquartejado pela velocidade do galope,

A beleza que exala foge do díspar

e reconstitui, dos seu restos mortais,

O pré-defunto. De energia e de fractais.

 

Itaparica, 2/10/08 

 

Fotografia de Oscar Gama Filho

OSCAR GAMA FILHO, escritor capixaba, nascido em 1958, busca captar a essência dos momentos estéticos justapostos, passados e presentes. Por meio da soma de seus diversos pontos de vista, tenta atingir a completude da arte. Eis um esboço da equação passada:

Esforçou-se por alcançar a essência do poema em De Amor à Política (Vitória: edição marginal mimeografada, 1979, obra dividida meio a meio com Miguel Marvilla); em Congregação do Desencontro (Vitória: Fundação Cultural do Espírito Santo, 1980); em O Despedaçado ao Espelho (Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida/UFES, 1988); em O Relógio Marítimo (Rio de Janeiro: Imago, 2001) e em Ovo Alquímico, escrito com seu filho Alexandre Herkenhoff Gama (São Paulo: Escrituras Editora, 2016). 

Procurou o tempo perdido em obras como História do Teatro Capixaba: 395 Anos (Vitória: Fundação Cultural do Espírito Santo/Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1981) e Teatro Romântico Capixaba (Rio de Janeiro-Vitória: Instituto Nacional de Artes Cênicas/Ministério da Cultura, Departamento Estadual de Cultura, Secretaria de Estado da Educação e Cultura, Governo do Estado do Espírito Santo, 1987).

Precisando de outras línguas para auxiliá-lo em sua tarefa, traduziu-se para Rimbaud em Eu Conheci Rimbaud & Sete Poemas para Armar um Possível Rimbaud mesclado com O Barco Ébrio/Le Bateau Ivre (ensaio-tradução-conto-poema, Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida, Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento Estadual de Cultura, 1989).

Acrescentou sabedoria à sua equação graças à Razão do Brasil em uma sociopsicanálise da literatura capixaba (Rio de Janeiro: José Olympio Editora; Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1991).

Percebendo a insuficiência da ótica literária, realizou a exposição de arte ambiental poético-plástica Varais de Edifícios, em 1978, a partir do conceito criado por Hélio Oiticica.

Como compositor, criou o disco Samblues, lançado em 1992 pelo Departamento Estadual de Cultura, e incluído no selo histórico Série Fonográfica do Espírito Santo

O CD Ecos de Sereia, de Elaine Rowena, possui cinco composições suas. 

Escreveu o libreto de Canoeiros do Santa Maria, opereta do virtuose Maurício de Oliveira. O interessante é que Maurício achou a primeira versão muito vanguardista, e pediu para que fosse escrita uma história de amor, que é a letra citada em sua biografia, escrita por Marien Calixte, em O Pescador de Sons.

Suas canções foram apresentadas nos shows O Barco Ébrio (1989) e Samblues (1992), produzidos por ele.

Em 2005, lançou o CD Antes do Fim-Depois do Começo, que contém músicas em parceria com Mario Ruy e em que aparece pela primeira vez o invariante eidético universal absoluto: o Ovo Alquímico. As músicas foram executadas pela Ovo Alquímico Samblues Band.

 Mas era pouco: dirigiu suas peças A Mãe Provisória, em 1978, e Estação Treblinka Garden, em 1979. Miguel Marvilla encenou seu poema dramático Onaniana, em 1990.

Foi escolhido por Afrânio Coutinho para escrever o verbete Literatura do Espírito Santo em sua Enciclopédia de Literatura Brasileira (Oficina Literária Afrânio Coutinho/Fundação de Assistência ao Estudante, 1990), na qual mereceu inclusão como escritor. 

Citado como escritor e crítico na História da Literatura Brasileira, de Carlos Nejar (São Paulo: Leya, 2011), honra que se repetiu na 3ª edição da mesma obra, pela Editora Unisul, em 2014.

Assis Brasil também lhe concedeu verbete em A Poesia Espírito-santense no século XX (Rio de Janeiro, Imago; Vitória, Secretaria de Estado de Cultura e Esportes, 1998).

Participou de todas as antologias de escritores capixabas publicadas nas duas últimas décadas, entre elas: Panorama das Letras Capixabas (organizada por José Augusto Carvalho, na Revista de Cultura-UFES. Vitória, Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1982); Poetas do Espírito Santo (organizada por Elmo Elton. Vitória, UFES/ Fundação Ceciliano Abel de Almeida, Prefeitura Municipal de Vitória, 1982); Torta Capixaba II (Vitória, Academia Espírito-Santense de Letras, 1989); Palavras da Cidade (poemas. Vitória, Prefeitura de Vitória, Secretaria Municipal de Cultura e Esportes, 1990); Palavras da Cidade (contos. Vitória, Prefeitura de Vitória, Secretaria Municipal de Cultura e Esporte, 1991); De Amar e Amor (poemas organizados por Jorge Solé. Vitória, Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1992); Escritos de Vitória (crônicas. Secretaria Municipal de Cultura e Esporte, Prefeitura Municipal de Vitória, 1993); Escritos de Vitória — bares, botequins, etc. (conto. Prefeitura Municipal de Vitória, Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo,1995); Daqui Mesmo — 34 Poetas (seleção e apresentação de Reinaldo Santos Neves. Vitória, Rede Gazeta de Comunicações-UFES, Coleção Nosso Livro, Suplemento especial de A Gazeta, novembro de 1995); A Poesia Espírito-Santense no Século XX (antologia. Organização, introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro, Imago; Vitória, Secretaria de Estado de Cultura e Esportes,1998).

Colaborou em diversos jornais brasileiros, entre eles Folha de São Paulo, Zero Hora, Suplemento Literário de Minas Gerais, A Gazeta e A Tribuna

Orgulha-se, especialmente, de A Essência da Poesia, publicado na Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras (Rio de Janeiro: Fase VII, outubro-novembro-dezembro de 1996, Ano III, nº 9, p.48). Assim como de As Metamorfoses do Homem, também estampado na Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras (Rio de Janeiro: Fase VIII, abril-maio-junho de 2015, Ano IV, nº 83, p.191).

Pertence à Academia Espírito-santense de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. 

Como psicólogo clínico, foi coordenador e fundador do Serviço Psicológico da Sub-Reitoria Comunitária da Universidade Federal do Espírito Santo desde a sua criação, em 28/4/1986, até solicitar a sua exoneração, em 4/11/95. Em 2003, a Desportiva Capixaba o contratou como psicólogo, tendo participado da subida do time da segunda para a primeira divisão e da conquista do vice-campeonato da Copa Espírito Santo de futebol.  Solicitou sua demissão em janeiro de 2004.

Sua excursão argonáutica mereceu os seguintes comentários:

Assis Brasil (A Poesia Espírito-santense no século XX, p. 210): “a poesia de Oscar Gama Filho, em especial seu quarto livro, de 1988, O Despedaçado ao espelho, é de feição original, recursos técnicos e de linguagem personalíssimos, num momento em que voltamos ao academicismo das fórmulas, das costumeiras metáforas e… do soneto. Nada contra a coinvenção de Petrarca, mas é raro um poeta, hoje, época algo sincretista — como o foi o começo do século — criar os seus próprios recursos de expressão.”

Afrânio Coutinho (orelha de Razão do Brasil): “A obra de Anchieta é analisada com a maior penetração, como jamais fora feito antes. Livro original e destinado a ser um marco na historiografia brasileira e capixaba.”

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