Poesia & Conto

Poemas | Morgado Mbalate

Foto de Damian Patkowski na Unsplash

Africanizando

Quando o meu sonho me ilumina
eu escrevo África.
África me faz e me rodeia.
Eu amo 
essa gente cheia de África.

O chão da África tem cheiro de mim.
Na África, todos os caminhos nos levam às fontes da terra
e às origens do mundo.

E o que me torna africano?
É o amor pela terra e pela cultura.
terra me ilumina. A cultura me encanta.
Minha alma é atravessada por imensos rios,
como o rio Nilo, que nasce no meu 
corpo.

Em mim, há quedas de águas, sobre mim,
caminham cursos de rios.
A maioria dos rios da África nasce no planalto dos olhos.
Por isso, eu caminho de mãos dadas com a flora e a fauna.
Sou savana africana de mim mesmo.
A poesia africana é para se vestir dela
e correr poemas pelo mundo.

E eu escrevo para justificar a poesia africana.
Não acredito na riqueza material fácil e
rápida para todos os africanos.
Mas acredito no ideal de riqueza espiritual
através da promoção da 
cultura.
Eu hoje escrevo o coração da África.
Nunca me separo da África porque a
trago dentro de mim.
África é dentro de mim

Odisseia da Alma

A alma
é pássaro.
Multicolor e
multiforme.
Ora assume a
forma da terra e
a cor do mar.
Ora assume ao
mesmo tempo a cor
e a forma do vento.
Em verdade, em verdade
o corpo é ramo no
qual a alma decola.
Toda alma é
pássaro terno e eterno.

 

O Sonho Africano

Um sonho
se guarda em
volta dos meus passos.
África
sonha quando
escrevo.
Escrevo
para incentivar o
povo africano a sonhar.
Todos os meus
escritos são tentativas de
renascer-me África.
Ser africano
é ser invadido
pelo sonho de liberdade.
Sou um pouco da África que nasce.
Sou um pouco da África que morre.
Sou muito da África que sonha.

 

Particularidades do Meu Ser

Minha mãe é a lua,
Sou irmão de todas estrelas,
Filho primogénito do sol,
Neto do ar,
Condão do luar,
Sobrinho do vento.
Eu sou enteado da terra,
Acórdão do céu,
Reverso do arco-íris,
Vizinho de uma formiga,
Advogado das borboletas,
Pai coruja de um beija-flor,

(…) Sou poeira esquecida
nas gavetas de um trovão,
sei que pareço ser estranho,
mas isso
pouco importa, pois não?
Porque, apesar de tudo,
Eu Sou Poeta de coração.

 

fotografia de Morgado Mbalate

Morgado Henrique Mbalate, mais conhecido por Morgado Mbalate ou o Anjo das Palavras, é Escritor e Poeta moçambicano. Nasceu em Maputo, a 6 de Setembro de 1993. Licenciado em Filosofia (USTM). É membro da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO); Cofundador do Círculo Académico de Letras e Artes de Moçambique (CALAM). Autor dos livros Odisseia da Alma (2016); A Arte Suave da Palavra (2020); Co-autor do CD de Literatura Negra O que nos a Bala (2018). De entre prémios e distinções, destaque para o Prémio Bicentenário de Dostoiévski (2021); Prémio Mundial de Poesia Nósside (2014), e Prémio Fernanda de Castro do IV Concurso Internacional de Poesia e Prosa (2017). Participou da 4ª edição do Festival Internacional Earthquake Terramoto (2021). Seu poema “Africanizando” foi reproduzido em vários livros didáticos do ensino fundamental brasileiro, e seus textos foram traduzidos para francês, inglês, espanhol, italiano, e são estudados em escolas e Universidades em Moçambique e no Brasil.

 

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