onde
eis-me pele e pensamento
preciso apoiar o peso do vazio
estou imensa e nua
não me encontro no meu corpo
mas não sei onde busco
eis-me onde não estou
cravo as unhas no tecido
e os meus pés se tocam
estou viva
onde estará o tempo?
distância
um pequeno barco
na lonjura do mar
sou eu quando acordo
minha palidez
e o nada
talvez seja o perfume
que sem ver espalho
so-li-tu-de
pronuncio e gosto
solitude é a noite
dentro do quarto
solitude
são os meus passos.
tesouro
se inverno só
preludio o pensamento
petalo os dedos
ao poema primavero
todas primaveras
todas flores
minhas mãos, uma corola
meus braços, um cabo verde
balouçando à brisa.
para o nada
escrevo para o nada
para o vão que habita entre as letras
escrevo para a extrema inutilidade da vigília
no meio do olho da noite
para o mínimo bulício do silêncio
esse que se escuta feito acalanto de sombras
escrevo para ver se me vejo
se concebo os traços que o espelho oculta
te molhar com minhas águas
te levar uma flor
escrevo-te menina
para subir na montanha mais alta
a que tocava o azul, eu sempre queria
para estar comigo mais perto
como se íntimo o mistério parasse
mas não para, cresce
até além da montanha
até para lá da nuvem
e debaixo do leito do rio
escrevo para o meu próprio leito
dou-me esse gozo
de acordar do nada
e ir-me.
caça
eu me espero do outro lado
me olho e me indago
por que não vens?
eu me respondo
não sei
não tenho as rédeas do vento
é ele quem me leva para fora
para longe
eu me olho vagamente
também não entendo a resposta
nem a pergunta que faço
essa conversa obtusa
esse atroar do nada
eu me viro de costas para os meus olhos
para que tanto afã?
melhor eu me deixar um pouco
melhor eu me dar um tempo
eu me aguardo do mesmo lado
esse vício me constrange.
às vezes
o rastro das patas pelo quarto
um resto do cheiro selvagem
o corpo exausto
se eu visse o espelho
veria os olhos fundos
e os ares de vigília
um quê de caça frustrada
amor que não sai do flerte
e consome a vida
o poema, às vezes, esse bicho.
transparência
transparência difusa
dos poros ao tempo
em que me derramo
canto e canto
meu eu extremo
aos píncaros
ao solo
em luas e estrelas
que eu tramo
e me falo
transparência imensa
oceano
de azuis e escuros
que eu ilumino
sim, eu clareio
com o meu canto
desfio as cores
transparência rara
que eu cultivo
como flor do deserto
que não morre.
textura
a noite e os azuis
ternuras
diminutas flores
peixes cantando
assovios
um riacho num bosque
a noite e as fragrâncias
das músicas solitárias
eu, assustada
triste e feliz
entrelaçada comigo
em um jardim confuso.
Márcia Maranhão de Conti: Nutricionista e advogada, publicou, em 2011, ‘’Luar nos Porões – Piano mudo’’, no programa ‘’Prosa e Verso’’ da Secretaria Municipal de Cultura de Goiânia. O livro foi acolhido por poetas e críticos (Gilberto Mendonça Teles, Álvaro Alves de Faria, Flora Figueiredo, Gabriel Nascente, João de Jesus Paes Loureiro, Nei Duclós e Rubens Jardim, entre outros).
Em 2013, seu livro de poesia ‘’Na Fissura do Vestido’’ foi premiado com a bolsa Hugo de Carvalho Ramos.
Participou, como autora, do livro ‘’ Essas Mulheres’’, 2021, da editora Recriar, organizado por Ronaldo Cavalcante, com prefácio de Mia Couto, e com um poema no livro ‘’ A Caligrafia de Dona Sofia’’ de André Neves, Edições Paulinas, 2021.
Em abril de 2022, foi a poeta homenageada no Sarau Gente de Palavra em São Paulo, organizado por Rubens Jardim e César Augusto de Carvalho.
Foi premiada nos concursos, participando das respectivas antologias: 3º lugar no V e VI Concurso Kelps de Poesia Falada 2005 / 2007; 2º lugar no 5º Prêmio Nacional de Poesia Cidade Ipatinga- 2007; selecionada no IV Prêmio Literário Canon de Poesia / 2011 e II Concurso de Poesias da Revista Literária/2011; 2º lugar no 10º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga. Selecionada nos concursos Poemas no Ônibus e no Trem de 2007/2009/2011. Prêmio TOC 140 da Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco/2013. Seu poema ‘’Serventia’’ ficou entre os 10 melhores entre mais de 1100 inscritos avaliados pela comissão julgadora, na votação on line, em rede social, ficou em 5º lugar. Ganhou o prêmio de ‘’Melhor Intérprete’’ no ‘’Concurso de Poesia Falada Geraldo Coelho Vaz – 50 anos de Literatura’’, em 2009.
Participou das antologias: Vinte e Cinco Anos de Poesia – Coletânea Comemorativa do Clube dos Escritores de Ipatinga (2011); Poetas Em/Cena – Reunião de poemas brasileiros no 8º Belô Poético, 2012; 32ª Mini Revista Literária, 2012 ; Poema de Mil Faces e Revista Varal do Brasil (virtuais), 2012; Sarau na Paulista, organizado por Rubens Jardim e Cesar Augusto, publicado pela Editora Patuá, 2019; As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira, organizado por Rubens Jardim, publicado pela Patuá. 2019; Rubens Jardim (antologia em homenagem ao poeta), publicado pela Patuá, 2019; Parem as Máquinas, pela Off Flip, 2020; Festival de Poesia Falada, da Academia Goiana de Letras, 2022.
Foi publicada em diversos jornais, blogs, sites e revistas literárias, entre eles, http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/marcia_maranhao_de_conti.html;
https://www.germinaliteratura.com.br/2021/marcia_maranhao_de_conti.htm;
http://www.sermulherarte.com/2020/04/a-palavra-acesa-de-marcia-maranhao-de.html;
https://comoeuescrevo.com/marcia-maranhao-de-conti/;
https://revistacaliban.net/%C3%A9den-na-l%C3%ADngua-539f6b785f16?gi=a0737857a8d2;
https://ubegoias.wordpress.com/2020/05/28/a-vitima-por-marcia-maranhao-de-conti/;
https://nuhtaradahab.wordpress.com/2013/11/27/marcia-maranhao-de-conti-poesias-avulsas/;
https://www.literaturaefechadura.com.br/tag/tres-poemas/;
Participou dos recitais :
‘’Poemas e Canções de Amor’’, com o Grupo Fé Menina e o poeta Rubens Jardim, na Oficina Cultural Geppetto, Goiânia, 6/2012; Casa das Rosas e Praça Benedito Calixto, São Paulo, 9/2012, Sesc de: Goiânia, Pirenópolis, Brasília e outras cidades. Além da poesia e do roteiro dos shows, participou com a leitura dos textos.
80° Recital Quinta Poética, por Escrituras Editora em 10/2015 na Casa das Rosas..
Festival de Poesia Falada da Academia Goiana de Letras, Goiás Velho, 09/2022.
Seu poema Flor foi para camisetas de catadores de papel de Porto Alegre a pedido do canadense, professor universitário, Denis Beauchamp, que presidiu uma associação voltada para esses trabalhadores.