Feiticeira
O tempo a ti marcou
com doces lembranças e piores dores tatuou.
Chamam-te feiticeira!
Tão cedo tornaste-te mulher
As bocas do mundo ouviste
dores de outras mulheres sentiste
A culpa de ser mulher contigo carregaste
Chamam-te feiticeira!
Das tuas tetas o menino se alimentou
Nas tuas costas brincava
e quando os sonhos medonhos o atormentavam, no teu colo adormecia
Com canções maternais o embalou
Chamam-te feiticeira!
Pelas esquinas te deixaste escancarar em troca de vida para ele
Tudo fizeste por ele
Tudo, por amor a ele.
Chamam-te feiticeira!
Outrora,
nada mais restou
Hoje nada sabes,
dás trabalho,
não serves,
és analfabeta.
Tua velhice envergonha
e enoja.
Chamam-te feiticeira!
Por seres velha,
És um mal para sociedade
contaminas tudo quanto tocas
por isso, por mais chamam-te feiticeira!
Mamã Maria
Não chores
não chores,
mamã Maria!
Não chores,
voltarei algum dia.
Sou um refugiado
em terras alheias.
No coração,
a dor do abandono.
a saudade transborda
no meu peito.
Como camuflar este rio de lágrimas que não cessa?
Não chores,
mamã Maria!
Nesta vida de mineiro,
não sei o que me espera
Agarrei-me à vã ilusão de voltar algum dia.
Beijar meu solo pátrio.
Não chores,
mamã Maria!
Voltarei para os braços teus
Eu, tua eterna criança.
Voltarei,
algum dia
Dar-te-ei todas as flores
Não chores mais
mamã Maria!
HERA DE JESUS
[Maputo, Moçambique,1989]
Começou a escrever desde tenra idade. De 2013 a 2017, participou e foi distinguida em alguns concursos internacionais de poesia. Tem textos publicados nas antologias “Soletras Esse Verso” (2018); “Fique em Casa” (2020); “Linguagens e suas Tecnologias, Manual do professor” (2020); E ” No Cais do Amor” (2022).
Tem contribuído para as revistas Lidilisha, Soletras, Ómnira, Contioutras, Por Dentro de África, Escamandro, Avenida Sul, Mallamargens , Folhinha Poética, Cultural Traços/ Alta Cultura, Germinaliteratura, e Incomunidade. É membro da Confraria Brasil/Portugal.