Política

Os Verdes, o que pensam | Celso Japiassu

Foto de Katie Rodriguez na Unsplash

OS VERDES, O QUE PENSAM

 

A consciência de que o mundo caminha para o desastre e os mitos sobre o fim do mundo podem não ser apenas produtos da imaginação pessimista da humanidade. Foram eles que inspiraram o aparecimento dos partidos verdes. Inicialmente na Europa, ampliaram-se para praticamente todos os países, que passaram a contar com um movimento repleto de advertências, reivindicações e agitações promovidas pelos verdes. No continente europeu, eles estão em 29 países, dois a mais do que possui a própria União Europeia.

 

Não é exatamente uma tarefa fácil classificar os verdes no espectro político. Em alguns países eles estão mais à direita, em outros mais à esquerda e têm feito alianças com partidos de direita para disputar eleições. No geral, são razoavelmente bem-sucedidos e apresentam tendência de crescimento. Seria mais adequado talvez os definir quase todos como de centro esquerda, embora a origem de um dos partidos pioneiros, o partido verde alemão, seja as lutas anticomunistas que anteciparam o fim da Deutsche Demokratische Republik, a Alemanha Oriental, e a unificação do país.

 

Die Grünen

 

O Partido Verde Alemão (Die Grünen) vem desde 1980. Depois da unificação fez a fusão, por afinidades ideológicas, com o Aliança 90 (Bündnis 90), que vinha das lutas de oposição ao governo da Alemanha Oriental. A convivência inicial foi difícil, mas as contradições foram finalmente resolvidas. O partido unificado obteve algumas vitórias significativas, como o fechamento das centrais nucleares do país até 2022, depois de promover a mobilização da opinião pública diante do desastre nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, quando três reatores derreteram em seguida a um tsunami.

 

Die Grünen tem assentos em todos os parlamentos regionais e possui representação no parlamento da União Europeia. Sua plataforma política destaca o desenvolvimento sustentável, respeito pelo meio ambiente, proteção dos recursos naturais e defesa da energia renovável. Defende também uma renda básica de cidadania e a ampliação da previdência social, além de reivindicar direitos para os imigrantes numa sociedade multicultural.

 

Existem duas alas ideológicas no partido verde alemão. Fundis, palavra que define uma posição mais radicalizada, anticapitalista e pacifista; e outra denominada Realo, defensora da Realpolitik, de índole reformista. Nesta última milita hoje Daniel Cohn-Bendit, que se destacou quando estudante nas lutas radicais de 1968 em Paris.

 

Nas eleições regionais de 2019, Die Grünen chegou a aliar-se a alguns partidos de direita, na prática da chamada Realpolitik.

 

Os verdes da França

 

Eles se autodenominam Europe Ecologie-Les Verts. Têm origem no Les Verts, que existiu de 1984 até 2010, quando assumiu a forma atual. Com a vitória de Emmanuel Macron em 2017 o partido enfrentou uma crise de representação, sem deputados no parlamento. Nas eleições de 2019, no entanto, definindo-se como um partido progressista, humanista, antiliberal e de oposição ao sistema, surpreendeu a todos ao receber 13,5 por cento dos votos e obtendo 13 assentos no Parlamento europeu, algo que nenhum instituto de pesquisa havia previsto.  Ultrapassou com folga todas as outras siglas de esquerda, tornando-se a terceira força política da França, depois do Reunião Nacional, de extrema direita, liderado por Marine Le Pen, e do centrista A República em Marcha, de Macron. Seu líder Yannick Jadot, que é também diretor de campanhas do Greenpeace, falou de uma “onda verde” varrendo a Europa.

 

Europe Ecologie defende a igualdade de direitos entre os casais, inclusive os casais homossexuais, a eutanásia como uma escolha para o fim da vida, a legalização das drogas leves com a taxação da sua produção e comércio, o respeito à biodiversidade e o direito de voto para os estrangeiros em eleições locais. Sua plataforma considera que um mundo como o atual, onde subsistem profundas desigualdades sociais, não é durável. E que os ganhos de uma pessoa devem considerar sua contribuição à sociedade e não apenas à economia e ao comércio.

 

A onda verde

 

Na Itália, a Federação dos Verdes (Federazione dei Verdi) tem perdido força eleitoral embora mantenha em redor de 3 por cento dos votos. Na Suécia, o Partido Ambiental – Os Verdes, tem recebido em torno de 7% dos votos, o que lhe garantiu 25 deputados no Parlamento Nacional e 4 assentos no Parlamento Europeu. O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), em Portugal, é coligado ao PCP-Partido Comunista Português. Tem dois deputados na Assembleia da República e cerca de 50 eleitos em diversos municípios e freguesias. 

 

O Iniciativa pela Catalunha Verdes (em catalão: Iniciativa per Catalunya Verds, ICV) faz parte hoje da frente de esquerda Unidos Podemos que viabilizou a posse do atual governo de centro-esquerda espanhol e afirmou-se como poderosa força política. 

 

Na Áustria, Os Verdes – Alternativa Verde (Die Grünen – Die Grüne Alternative), é considerado como de extrema esquerda. Elegeu o seu líder Alexander van der Bellen presidente do país nas eleições de 2016, mas logo em seguida sofreu um racha e nas eleições de 2017 não conseguiu nenhuma representação no parlamento. Em 2019, no entanto, obteve 13,8 por cento do eleitorado e elegeu 26 deputados. Participa do governo em coligação com os conservadores do Partido Popular Austríaco.

 

O partido europeu

 

Os partidos verdes da Europa estão unidos no Partido Verde Europeu (https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Verde_Europeu), que reúne 32 partidos ecologistas de 29 diferentes países. Junto com deputados independentes, nacionalistas e de esquerda formam no Parlamento Europeu um bloco que se autodenomina Os Verdes Europeus/Aliança Livre Europeia. Como não poderia deixar de ser, abriga partidos de diferentes tendências e reflete a realidade política dos seus respectivos países.

 

Há quem considere que os verdes constituem em todo o mundo um movimento conservador, por causa das suas teses conservacionistas. Eles próprios se veem como uma força de esquerda, por desafiarem o establishment e defenderem a igualdade de direitos, o humanismo e o socialismo. Crescem em todo o mundo porque reconheceram, antes de outros partidos políticos, as ameaças de um futuro em que as demandas da população humana, em constante crescimento, superam a capacidade da Terra em atendê-las. O futuro traz consigo, se o mundo se mantiver impassível, a certeza de um desastre.

 

 

fotografia de Celso Japiassu

 

Celso Japiassu: Poeta, articulista, jornalista e publicitário brasileiro. Trabalhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.

É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).

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