

Balança ao sabor dos cheiros e cores da Infância.
No alpendre, seu corpo possível se transforma,
Acontece o milagre.
______________________________passa
Com olhos de fada,
flerta com nuvens de Nada.
dentro_______________________________
Ainda respira.
Até as pedras mudaram de lugar.
Onde havia árvores nativas,
agora as vacas ruminam devagar.
_______________risca_____________________
dentro de casa
sob um céu deste tipo
na primavera
assoviava de cor as canções de ninar
letra malformada
rabiscava no caderno
a primeira palavra
___________________________________ corta
A vida é breve,
amada minha,
que luta sozinha.
Morde________________________________
Alguns dias, depois da chuva, acorda com um gosto amargo na boca.
Intui alguma coisa, mas sente medo e prefere acreditar que tudo não passa
de um pesadelo.
_____________________dorme________________________________
Sonha sonhos extraordinários e tem atitudes estranhas.
Depois de salvar cupins alados do afogamento em poças d’água,
arranca suas asas bem devagar.
Exótica como as formigas é inimiga dos cupins.
Sonha espíritos-pássaros,
corvos-marinhos,
devoradores-de-carne,
bodes-expiatórios,
dejetos que purificam a história.
__________________________________ acorda
Olhos escancarados flerta com o futuro.
Para os vizinhos é o inimigo.
Sou o inimigo e sinto medo.
Vejo:
Luz, relâmpago, centelha,
rio por baixo do rio.
Lavo os olhos para assistir à beleza.
Sonho sonhos impressionantes.
Sou criança, mas não significa que tenho infância.
rasga________________________________________
Não valem de nada móveis, lençóis, gavetas trancadas, traços de memória.
Ela vai morrer, ela está morta.
Neste mundo de interfaces, pouco se diz daquilo que não se sabe.
__________________________________________rasgo
Ah, vasto mundo:
Dragas desmembram picos
apesar do toque desesperado
dos sinos.
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Fotografia de Adriana Versiani
Adriana Versiani é natural de Ouro Preto/MG. É poeta e artista visual. Tem diversos livros publicados, dentre eles: A Física dos Beatles (2005), Conto dos dias (2007), Livro de papel (2009), A lâmina que matou meu pai (2012), Diário de A (livro de artista, 2013), Três Pedras (2014), Arqueologia da Calçada e Farmacopeuma (2018), Um bicho,dois gravetos quatro pingos (2020), O inverno de Idea e Alejandra – Transalucinações (2021), Não me olhe com esses olhos de quem viu um Lobisomem (2022). Integrou o Grupo Dazibao de Divinópolis/ Belo Horizonte. Foi co-organizadora da Coleção Poesia Orbital (1997, produzida para as comemorações dos 100 anos de Belo Horizonte) e do Jornal Inferno. Fez parte do conselho editorial da Revista de Literatura Ato. Foi editora do Jornal Dezfaces.