Cultura

Ode para as luzes do céu | Adriana Versiani

Balança ao sabor dos cheiros e cores da Infância.

No alpendre, seu corpo possível se transforma,

Acontece o milagre.

 

______________________________passa

 

Com olhos de fada,

flerta com nuvens de Nada.

 

dentro_______________________________

 

Ainda respira.

Até as pedras mudaram de lugar.

Onde havia árvores nativas,

agora as vacas ruminam devagar.

 

_______________risca_____________________

 

dentro de casa

sob um céu deste tipo

na primavera 

assoviava de cor as canções de ninar

 

letra malformada 

rabiscava no caderno

a primeira palavra

 

___________________________________ corta

A vida é breve,

amada minha,

que luta sozinha.

 

Morde________________________________

 

Alguns dias, depois da chuva, acorda com um gosto amargo na boca.

Intui alguma coisa, mas sente medo e prefere acreditar que tudo não passa

 de um pesadelo.

 

_____________________dorme________________________________

 

Sonha sonhos extraordinários e tem atitudes estranhas.

Depois de salvar cupins alados do afogamento em poças d’água, 

arranca suas asas bem devagar.

Exótica como as formigas é inimiga dos cupins.

Sonha espíritos-pássaros,

corvos-marinhos,

devoradores-de-carne,

bodes-expiatórios,

dejetos que purificam a história.

 

__________________________________ acorda

 

Olhos escancarados flerta com o futuro.

Para os vizinhos é o inimigo.

Sou o inimigo e sinto medo.

Vejo:

Luz, relâmpago, centelha,

rio por baixo do rio.

Lavo os olhos para assistir à beleza.

Sonho sonhos impressionantes.

Sou criança, mas não significa que tenho infância.

 

rasga________________________________________

 

Não valem de nada móveis, lençóis, gavetas trancadas, traços de memória.

Ela vai morrer, ela está morta.

Neste mundo de interfaces, pouco se diz daquilo que não se sabe.

 

__________________________________________rasgo

 

Ah, vasto mundo:

Dragas desmembram picos

apesar do toque desesperado

dos sinos.

 

__________________________________________________________

Fotografia de Adriana Versiani

Adriana Versiani é natural de Ouro Preto/MG. É poeta e artista visual. Tem diversos livros publicados, dentre eles: A Física dos Beatles (2005), Conto dos dias (2007), Livro de papel (2009), A lâmina que matou meu pai (2012), Diário de A (livro de artista, 2013), Três Pedras (2014), Arqueologia da Calçada e Farmacopeuma (2018), Um bicho,dois gravetos quatro pingos (2020), O inverno de Idea e Alejandra – Transalucinações (2021), Não me olhe com esses olhos de quem viu um Lobisomem (2022). Integrou o Grupo Dazibao de Divinópolis/ Belo Horizonte. Foi co-organizadora da Coleção Poesia Orbital (1997, produzida para as comemorações dos 100 anos de Belo Horizonte) e do Jornal Inferno. Fez parte do conselho editorial da Revista de Literatura Ato. Foi editora do Jornal Dezfaces.

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