Poesia & Conto

O Belo | Cecília Barreira

Era belo.  Brilhante. De famílias. Do alto dos seus 22 anos, com o sorriso conveniente. Não havia rapariga que com ele não quisesse namorar.

Júlia aproximara-se mais.  Colega de mestrado, conseguira captar-lhe a atenção.

Dinis, reservado.

Até lhe propusera um almoço.

O jovem, muito polido, mas na retranca.

Júlia procurou um professor  que lhe era muito próximo.

– Afaste-se.  Ele é um génio, mas como todos os de excelência, há algo nele que não vai gostar-

– O quê?

– Não respondo. Sou amigo da família.

Júlia andava curiosa.  Sabia que vivia sozinho.   Andava sempre com um canivete.

Falou com Ema.

Dava-lhe uma verba considerável se chegasse à intimidade do jovem.

Ema era belíssima. Não havia homem que  ficasse indiferente  ao vê-la.

Como precisava de dinheiro, fazia uns fretes.

 

Foi  fácil.  Ema nem teve de meter conversa.  Surgiu numa  festa  onde Dinis se encontrava.

– És de onde?

– Sou do nada.

Dinis gostou.

Convidou-a para ir à casa dele.

 

Quando Ema chega, vê algo de inaudito. Uma casa térrea plena de cabeças de animais de caça em exposição. Um jardim imenso com animais engaiolados.

– Gostas de pato?

– Sim.

 

Dinis convida-a a escolher o animal  para a refeição.

As gaiolas grandes  espelhavam o desespero dos animais.

Ema,  desconcertada.

Dinis aponta  para um pato.

– Queres este?

– Pode ser.

 

Dinis retira-o com destreza.

Leva-o  para um habitáculo onde ele próprio matava as vítimas.

Havia facas de todo o tipo.

Um cenário de morte.

Ema diz:

– Vais matá-lo?

– Claro.

 

Repugnada, afasta-se para outra divisão.

Mas  Dinis provoca-a.

– Vem cá.

À medida que matava o animal  com golpes certeiros, o sangue espalhava-se.

Ema,

– Desculpa, preciso de ir a casa-

E  saiu o mais depressa que pôde.

Contou a Júlia o sucedido.

Esta  lembrou-se do canivete que ele exibia.

Até do modo como os olhos brilhavam quando se tratava de touradas.

O que faria às namoradas?

Foi mais uma vez ter com o professor.

– Sim. Passa pelos animais. Mas passa por outras coisas com  namoradas.

– O quê?

– Passa  por sangue.

– Mas ele mata-as?

– Não sei. Mas há um ritual.

– Mas ninguém o trava?

– A família dele é intocável.

 

Júlia sempre curiosa descobriu Ana que, num acidente grave, ficara sem os dois braços.

Depois de muita insistência  e  a medo lá referenciou que Dinis a decepara.

Recebia uma quantia  em dinheiro para estar em silêncio.

Júlia, revoltada.

 

Quando regressava a casa ainda percecionou um vulto atrás de si.

A partir daí não se lembra de mais nada.

Já não acordou.

 

Fotografia de Cecília Barreira.



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