as imagens formam fantasmas fúnebres de soldados tristes
a terra é fatalmente um jazigo, ledo de desterro, medo, ferro
terra-pátria de mulheres que parem búzios em ventres noturnos
sem fim -soturnos – cabelos ancestrais / eternas erupções vesuviais
anoitece. renasce o homem
amor ou fardo, imagem de um eterno acontecer elaborado
imagem repetida num quadrado em branco, negro-fado
espasmo inicial ante a colheita; se há fel, cruel receita
soldaremos o espanto, pois o começo é a partida repetida
o GRITO: liberdade guiando o povo!
Irmãs, estivemos debruçadas em muros fálicos, fatídicos
a foice da morte, o cunho da nossa rebelia
se holofernes nos identifica ainda
as vírgulas têm de ser recolocadas,
oiçam:
quero-vos leitoras empenhadas
desnudando o histerismo secular, curado com dedos impunes;
se há mártires e heroínas suicidárias, volto-vos a caneta e as mortalhas
para que tudo se torne justo
somos reais diante nosso real tormento
metalinguagem sobre o tempo, poemas difíceis como fermento
hoje a raiz, amanhã rebento! há uma luz de dignificação pelo talento
sem a rebelia ardente de uma violência implacável, corruptível
porque à linguagem daremos as flores, derrubaremos a intriga,
a voz inimiga da verdade antiga; sim, nossas canetas serão cometas
petardos primaveris já sem penumbra; somos a sombra e o cristal,
lunares como mares, sem espartilho guiando ulisses, seduzindo ciclopes
só com a força do Amor e da Verdade, ambos frutos da fecundidade
e desta saia vestida às avessas.
sem pressas, diante a Narradora
seremos pó, mas com nome de autora.
Jéssica Duarte Silva: Nascida no Porto, no ano de 1997, licenciou-se em História da Arte e concluiu, em 2022, o mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes, especialização em Estudos Comparatistas, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Atualmente, encontra-se inscrita no doutoramento na mesma instituição de ensino. Tendo participado na Antologia “110 anos, 110 Poetas” da Universidade do Porto (2022), escreve (poesia) com regularidade, embora não a publique.