Política

Marx vinculado à realidade em transformação | Alice Caetano

É claro que não foi Marx que criou as classes sociais, como também não forjou a luta dessas mesmas classes. Muito antes dele, os estudos de Thomas More, Campanella, Morelly, Meslier, Saint Simon, Fourier, Lamennais, Weitling, bem como os anteriores movimentos sociais ingleses do séc. XVII, ou ainda os jesuítas do Paraguai, determinadas comunidades judaicas ou comunidades cristãs antigas, nos levam a observar que, ao longo dos séculos, se foi estabelecendo aquilo que hoje podemos designar de “núcleo duro” do comunismo pré-marxista, pelas características mais ou menos objectivas dos seus conteúdos: 

 

*a ideia da propriedade comum (nomeadamente da terra); 

 

*a ideia de igualdade; 

 

* o entendimento da sociedade como uma comunidade. 

 

 Também a cientificidade não é uma reivindicação exclusiva de Marx. É quando Marx e Engels apresentam o conceito de “socialismo científico” que se demarcam de todo um conjunto de concepções socialistas e comunistas existentes. A partir daí, o paradigma do “socialismo científico” contém em si mesmo aquilo que se deve passar a entender por cientificidade, ou seja, “uma compreensão da ciência e da cientificidade que nada tem a ver com o seu conceito positivista e cientista”. Não nos podemos esquecer que Marx se encontrava no ano de 1843, no contexto social e político da Alemanha, numa fase de luta contra os governos e as políticas feudalizantes e é apenas a partir daqui que enceta o seu estudo aprofundado, conforme se verificou nos seus cadernos de apontamentos onde constava muito material histórico e também textos importantes de socialistas e de comunistas, designadamente franceses. 

 

Todo este estudo que depressa passa a incluir a questão económica, o leva a entender que o comunismo não pode ser abstracto nem dogmático, pois isso seria completamente desligado da realidade. Por essa razão, o seu postulado: “nós não queremos antecipar dogmaticamente o mundo, mas queremos encontrar um mundo novo a partir da crítica do mundo velho” nunca abandona o seu pensamento. 

 

Então, se Marx não arquitectou o comunismo, porque se lhe atribui tanta importância? A resposta é:

 

 – Porque foi ele que rompeu com a ideia dogmática, abstracta e desligada da realidade do mundo em constante desenvolvimento e transformação. 

 

Com Marx, a concepção de comunismo passa a ser um exame crítico do mundo velho para nele descobrir a semente que se pode desenvolver no mundo novo. E, logo a seguir, constata que criticar não chega, é preciso organizar as forças sociais capazes de protagonizar o movimento que levará a efeito a transformação. 

 

Desta conclusão primeira, surge a importância do apelo à associação do proletariado com a filosofia, com o intuito de estabelecer ligações entre a teoria e a prática. Esta associação resulta na materialização das ideias que determinam para onde se quer ir, como se pode ir e contra quem se quer ir.

 

Fotografia de Alice Caetano

Alice Caetano: Formação académica: Curso professores do 1º ciclo pela Universidade de Aveiro. Licenciatura em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de ciências da Educação de Lisboa. Profissão – professora do Primeiro Ciclo.

Livros publicados:

Poesia: “Depois do Ninho, a Água”; “Transmutações”. Prosa poética: “Maçã de Zinco”. Poesia, teatro e conto – “Espelho Convexo” (recomendado por Francisco Louçã). Histórico-Biográfico: “Palco Sombrio – Guiné – Guerra Colonial e Actos Cénicos”  (recomendado por Francisco Louçã).

Livros em coautoria:

“Arranja-me um Emprego – crónicas e poesia para salvar o dia” – Editora Versbrava. “Orgânico – Cinco Poetas, a mesma causa” (livro com carácter social) – Edição de autor. “Xafir e a Feiticeira do Pântano” (infantil) – Alfarroba Publicações. Participação na Antologia da Moderna Poética Portuguesa. Participação em iniciativas do Movimento Democrático de Mulheres – MDM – com textos temáticos. Membro do júri do Concurso “Aveiro Jovens Criadores”. Poemas traduzido para italiano e publicados nas revistas Emergenza Climatica e Articoli Liberi. Publicada pelo Jornal literário “RelevO” de Curitiba. Realização de programas de rádio local de âmbito literário. Escrita de prefácios em diversos livros de poesia. Colunista na imprensa regional com artigos de opinião e crónicas políticas. Segunda vencedora do 1º concurso de literatura polaco-português. Distinguida pela Direcção Regional de Cultura do Centro como mulher de destaque no panorama cultural da Região Centro. Elemento da Direcção do Grupo Poético de Aveiro. Elemento do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal Manuel Alegre em Águeda.

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