Política

Guerra global: a eterna luta entre Oriente e Ocidente | Artur Alonso

“No caminho da luz

  o amor sempre importa” (anónimo)

 

O SONHO DE NABUCODONOSOR

 

O Rei da Babilónia sonhou com uma estátua majestosa de forma humana, cuja cabeça era de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e coxas de bronze, as pernas de ferro e os pés eram parte de ferro e parte de barro. A estátua acaba totalmente destruída devido a uma pedra, que chegou do alto, e bateu nos pés (parte mais frágil) da mesma.  

 

Nenhum dos sábios ou sacerdotes do Grande Rei foi capaz de fazer uma interpretação ajeitada. Daniel, o hebreu, é então chamado a interpretar o sonho.

 

A interpretação de Daniel: a estátua simbolizava os domínios imperiais, desde a Babilónia até ao dia do Juízo Final (simbolicamente final de um ciclo). Podemos então discernir que a cabeça de Ouro simbolizava o Império mais florescente: Babilónia – mas ela era herdeira do Grande Poder Sumério. Daí, talvez estamos a falar do Ouro referindo-se ao Império Sumério e Egípcio (que desde a época de Sargão  ou antes, já fusionavam saberes) – A prata fala do Império Medo-Persa, de Ciro, o Grande (conquistador da Babilónia e libertador dos hebreus) – O Bronze fala do Império Grego de Alexandre, o Grande (conquistador da Pérsia, educado por Aristóteles) e, segundo vários autores ocultistas, a encarnação de Enkidu, sendo seu instrutor (Aristóteles) a encarnação de Gilgamesh, ambos irmãos espirituais na cidade de Ur ou Uruk, na Suméria (actual cidade de Tell el-Muqayyar, no Iraque). O Império de Ferro – e barro – seria Roma. Com a queda de Roma chega o fim de todos os Impérios

 

Hoje, a Civilização Ocidental seria a continuidade de Roma, segundo diversos autores (Kaiser, em alemão, significa César, igual que Czar em russo. O Pontífice Máximo é o Papa de Roma, Napoleão retira a Coroa Imperial das mãos do Papa; e ele mesmo se coroa, como símbolo do novo César).  Existe a Ideia de que o fim do atual Império Ocidental – 2º Roma Papal – 1º Roma teria sido a Imperial – seria o fim deste ciclo evolutivo – o Fim dos Tempos.

 

Porém, existe a possibilidade de, na realidade, haver três Romas: A Roma Imperial, a Roma Papal e a Roma ressuscitada de Bizâncio ou Rússia e que, com a ascensão da Euroásia, pode tornar-se o novo centro geográfico material espiritual do Mundo, em aliança com a China, o Irão (herdeiros do Império do Céu e do Império Persa) e a Índia (herdeira de Rama e Krisnha), mas o Brasil (herdeiro do templarismo português) e a África do Sul (herdeira dos guerreiros zulús – lembremos Mandela ser descendente da nobreza Zulú) – BRICS em definitiva… Com a queda, mais adiante, da 3ª Roma, fim dos tempos? Não. Fim de um ciclo. Fim dos Velhos Impérios? – Entroncamento da Profecia de Daniel com o suposto Milagre de Ourique: V Império – Fim dos tempos das sombras? Chegada do Império Global da Fraternidade ou do Espírito Santo, como visionou Joaquim de Fiori, e tentou trazer à terra Thomás Müntzer, e suas revoltas camponesas? Ou falamos então do pensamento budista e a chegada da Energia de Maitreya? Ao fim, todos estes sonhos falam de um novo tempo: tempo do novo ciclo dos cidadãos – a Euroásia, ponte entre o fim do ciclo financeiro, hoje em vigor, e o início do ciclo do poder cívico? A Ucrânia, uma fenda: um divisor de águas entre o já velho poder do Deus Mercado Ocidental e o futuro novo Poder da Euroásia,  caminhando até ao ciclo dos cidadãos?

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O começo de um emergente Poder Espiritual-Material, início dos trabalhos de ma sociedade mais fraterna?… Caminho para esse 5º Império Sebastianista ou 5º Sistema de Evolução? Ou, simplesmente, estamos a falar de superstição? No entanto, mesmo assim, temos um avançado projeto em concorrência do Governo Mundial Global Universal, entre as “Elites de Davos”, que sonhavam com um mundo unilateral governado pelo Ocidente, com controlo financeiro; e um novo projeto Multi-Polar Estatal, com a ajuda do sector privado, que emerge, com força e disputa a hegemonia Ocidental mercantilista de predomínio privado sobre o Estado. Será que a nova era alimenta um acordar de uma nova configuração mundial,  mas não dos mercadores, senão da Federação de Povos? Dialogo inclusivo – Fim da dualidade e da guerra?

 

Ou, simplesmente, um avanço até um novo mundo onde novos atores regionais já não podem ser ignorados? – Poderá ser um início dos trabalhos da volta da Confiança? E finalmente de novo, um embate entre o Oriente coletivo contra o Ocidente individualista e niilista?

 

Vamos observar e acompanhar este processo

 

A SEGUNDA ROMA

 

Neste texto, vamos observar, também, nessa luta entre Oriente e Ocidente, da qual capítulos como as guerras entre Persas e Gregos (incluíndo a famosa batalha das Termópilas) até à destruição deste Império por Alexandre, o Grande, têm formado a nossa cosmovisão cultural; vamos agora observar uma luta, entre a Roma Ocidental e a  Oriental, que ainda parece fazer-se evidente hoje em dia.  

 

Começamos no confronto Igreja – Estado, pela supremacia dentro do Ocidente.  

 

Entre 1266 e 1268, com a derrota dos Gibelinos favoráveis ao poder da casa de Suábia, a Dinastia de Hohenstaufen, pelos Guelfos, da Casa de Baviera, apoiados pelo Papado, o Poder Papal afirma a sua supremacia.

 

Essa relevância vai ser bem afirmada quando o  Papa Bonifacio VIII, na Bula Unam Sanctam, de 18 de novembro de 1302, em seu confronto contra o  Poder Terreno do Rei Filipe VI, da França, declara: 1- Todas as alma pertencem a Roma, dado ser o Papado o herdeiro da Salvação das Águas feita por Noé e  2 – A espada do Poder Espiritual está por cima da espada do Poder Terreno. Sendo que a primeira espada, a Terrena, serve a Espiritual.

 

O papa Bonifacio VIII enfrenta-se assim mesmo com as tradicionais famílias nobiliárias italianas, como os Colonna ou os Orsini, que sempre foram colunas do apoio ao Papado, mas que, agora, estão já trabalhando para o novo ciclo mercantil. Assim mesmo se diminui o poder dos Franciscanos Espirituais, que velavam pela integridade espiritual da obra de São Francisco (um promotor do Império do Espirito Santo e da Fraternidade Humana – percursor do ciclo dos cidadãos, hoje em lento, mas firme andamento?). Esse minorar da autonomia franciscana vem precedido da afirmação do Poder Papal como universal centro, do qual emana o poder material e a guia espiritual, fazendo finca pé, em que  A CABEÇA DE OCIDENTE É ROMA, representando o Papado a Vontade do 1º Trono – do PAI.

 

Em 7 de junho de 1494, o Tratado de Tordesillas cria a Divisão Do Mundo. O papado como Senhor do Centro Geográfico Ocidental em andamento, faz de intermediário entre o Poder Comercial Soberano Português e o Poder Senhorial Comercial Espanhol. Portugal consegue um logro diplomático, quando salva o futuro Brasil do controlo espanhol. As navegações espanholas e portuguesas abrem as rotas marítimas globais, já em pleno auge do Ciclo do Poder Comercial para o controlo global do mundo pelo Ocidente.  

 

No século XVI, também surge a cronologia de Joseph Justus Scaliger (complementada pela do jesuíta francês Denis Pétaou, ou Dionysius Petavius, em latim), que darão maior centralidade a este Poder Ocidental da 2º Roma Papal.

 

O ÚTERO ESPIRITUAL – MATERIAL DA 2ª ROMA

 

A Ocitânia e o Condado da Catalunha do Reino Aragonês (com os mistérios de Maria Madalena, a montanha de Montserrat ou o Mont-Salvat, o Catarismo e Templarismo mediterrâneo, cuja herdeira é a Ordem de Montesa, da qual vai nascer a Companhia de Jesus) e, mais tarde, toda a França até ao século XIX vão aproximar o conhecimento esotérico,  que, após o século XX vai fixar o seu centro na Inglaterra, como eixo vertebral do Império Britânico (herdeiro da renovada Maçonaria escocesa – sendo a Maçonaria tradicional escocesa fiel aos Stuart Jacobitas, de Jacobo II, enquanto a nova escocesa e a do rito de York será fiel aos Hanover, vencedores da Revolução Gloriosa, de carácter mercantilista).

 

No século XVII, opoder mercantil financeiro Lombardo veneziano vai aliar-se do Poder Neerlandês e, finalmente, com a implosão da “Bolha das Tulipas” em Amesterdão iniciar-se-á uma aliança com o Poder inglês, criando o futuro império Britânico, já com a adesão a esta aliança do poder financeiro judeu (associação que se iniciou quando Oliver Cromwell e o judeu de origem portuguesa, Manuel Soalheiro, conhecido como o homem mais rico da Holanda, assinaram o seu compromisso).

 

A capital desse Império, Londres e, mais concretamente, a City londrina vai-se converter no Coração Financeiro – Representante do 2º Trono – do 2º Logos, segundo a teosofia de H.P. Blavatsky desta nossa 2º ROMA, o Equilibrante da Balança. Para o Cristianismo patriarcal, falamos aqui da segundo Pessoa –  do Espírito Santo, representada pela feminina pomba (e, segundo o Evangelho apócrifo de Filipe (Codex II, da coleção de Nag-Hammadi, atualmente no Museu Copta do Cairo), este espírito santo é feminino).

  

Em 1913, o Coronel Ernest Mandel House e o Presidente Woodrow Willso deram luz verde à criação da FED, cedendo o Poder de emissão do dólar aos Banqueiros Internacionais – os Senhores do 2º Trono na 2ª ROMA, convertendo os Estados Unidos no Corpo – local das realizações – Poder Militar e geopolítico –  o Centro Washington D.C. como representante do 3º TRONO e da força do filho ou da filha, da força da realização no plano material da segunda pessoa da tríade do cristianismo. Sabendo que esta divisão triplice: de Um Pai – Uma Mãe  – e Um Filho ou Filha, universais ou cósmicos – está presente na maior parte das mitologias, como na Trimurti indiana, onde a tríade, sendo masculina, tem suas consortes femininas, representando igualmente o Poder criador (semente associada ao Pai) – o poder gerador (útero associado à Mãe ) – e o poder construtor, reciclador ou destruidor (geralmente associado aos trabalhos dos filhos ou filhas, na matéria – na Mãe Reia).

 

Esta 2º ROMA da Egrégora do Cristianismo, dentro do Ciclo astrológico da chamada Era de Peixes, estabelece estas 3 Hipóstases conforme a doutrina de Gregório de Nissa, segundo a qual o Pai, o Filho e o Espírito não são factos objetivos, mas apenas “termos que usamos” para expressar a maneira como a natureza divina (ousia), “inominável e indizível” adapta-se às limitações de nossa mente humana.

 

Esta doutrina não faz sentido fora do contexto cultural da oração, da contemplação e da liturgia, cujo ordenamento está na CABEÇA – na Cidade do Vaticano – NO PAPADO. O Centro ainda na atualidade de grande quantidade das maiores e melhores mentes do mundo em todos os campos, sendo o Observatório Vaticano, por exemplo, o mais antigo do Ocidente, do século XVI, desenvolvendo trabalhos de investigação científica do universo, que se ratifica ao sabermos que 35 crateras lunares têm o nome de estudiosos jesuítas. Mesmo agendas globais, como a atual Agenda 2030 da ONU vem muitas vezes precedida de Encíclicas papais, como neste caso, a “Laudatus Si” do atual Papa Francisco, que segundo o pontífice foi inspirada por Francisco de Assis…

 

O PODER NORTE-AMERICANO

 

“No século XVII o progresso era tão certo que muitos europeus já se voltavam inteiramente para o futuro. Descobriam que tinham de estar dispostos a esquecer o passado e começar tudo de novo, se queriam encontrar a verdade. Essa postura se opunha diametralmente ao retorno mítico ao passado que constituía a base do espírito conservador (…) A verdade nunca era absoluta, pois novas descobertas sempre podiam substituir as antigas; tinha de ser demonstrada objetivamente e avaliada em função de sua eficácia no mundo concreto. O sucesso da ciência moderna em seus primórdios conferiu-lhe uma autoridade que começava a ser mais forte que a da verdade mítica que não seguia nenhum desses critérios. Isso já se evidenciara na obra escrita por Francis Bacon, conselheiro do rei Jaime I da Inglaterra. Segundo Bacon, toda verdade, inclusive as doutrinas religiosas mais sagradas, devia ser submetida aos rigorosos métodos críticos da ciência empírica.”  Afirma Karen Armstrong em seu livro “Uma história de Deus”. Por sua vez, Newton, também, mantinha o critério de submeter o Divino, no qual ele acreditava, à observação racional.

   

 

Não  deixa de ser, de certo modo contraditório, que dois dos homens mais espirituais do seu tempo, Newton e Bacon estiveram a abrir o ribeiro pelo qual o secularismo europeu desembocaria na Revolução Francesa, a queda do conservador poder Borbón, aliado dos Stuart da Escócia e dos Habsburgo (com quem batalharam na Guerra de Sucessão espanhola, entre 1701 e 1714) … e somente a Sagrada Mátria conservadora russa, com a sua Santa Aliança, lhe faria frente. E continua a confrontar esse secularismo, pois, até aos nossos dias a Rússia manteve essa visão tradicionalista coletiva, enfrentando a libertação individualista do Ocidente, hoje decadente racionalista e em procura de uma suposta liberdade individual de consumo desenfreado.

 

Nos inícios do século XX, com a introdução  da espiritualidade “Thelemica” do britânico Aleister Crowley, auto–denominado de “A Grande Besta 666” (fazendo referência ao Simbolo do Poder Obscuro do Apocalipse de São João) – e das suas fraternidades, como a Ordem Hermética da Aurora Dourada (da qual foi expulso) para, finalmente, fundar Astrum Argentum e liderar a  (O.T.O.) Ordo Templi Orientis… Todo o Mundo da Cultura Ocidental se verá afetado pelo niilismo negativo da experimentação de todos os prazeres materiais e sensoriais, junto à retirada de toda a responsabilidade pessoal e a procura de um empoderamento pela força instintiva dentro da matéria – sintetizado na frase de: “Faz o que quiseres tudo é de lei”- levando, com o correr dos anos, este mundo cultural ocidental à situação de entropia, que diversos autores dos mais variados campos (psicologia, sociologia, antropologia, ciências políticas…), apontam termos hoje.

 

No lado positivo, Crowley foi um dos grandes aprofundadores da Cabala moderna (herdeira da tradicional Cabala hebraica que, durante o Medievo fusionou com Esoterismo Islâmico e Cristão, sendo que, no século XV Pico della Mirandola, já fala abertamente em Cabala cristã e outros autores, mais atuais, denominam hoje como “Cabala do Renascimento”).

 

Durante todo o século XX, os Estados Unidos irão comandar a implementação global de um mercantilismo virado para a cara oculta das finanças e o seu controlo global, através das dívidas privadas e soberanas, que remataria num poder absoluto oposto, a “alma dos Pais Fundadores da nação”). Assim afirmava Luiz Alberto Moniz-Bandeira no seu famoso livro “A Desordem Mundial”:  “Esse fenômeno mudou a substância do Estado americano. O sistema de financiamento das campanhas eleitorais nos Estados Unidos inevitavelmente submeteu e submete os políticos a obrigações com o big business, as corporações financeiras e industriais, que lhes doam as maiores quantidades de recursos. E a erosão da democracia, latente na república presidencialista, acompanhou o processo de concentração do capital e acentuou-se ainda mais a partir da desintegração do Bloco Socialista e o desmembramento da União Soviética, em 1991. O significado de liberdade identificou-se mais e mais com a ideologia do livre mercado e de empresa privada, a distanciar-se, amplamente, do conceito de liberdades públicas e direitos civis. E os atentados de 11 de setembro de 2001 aguçaram e aceleraram, nos Estados Unidos”.

 

O movimento atual do mundo emergente, e outros dos aspetos da Guerra Rússia – OTAN, na Ucrânia, também tem a ver com esse desejo de criação dum centro soberano estatal, alternativo à vassalagem pela dívida, com a qual o Ocidente comanda o mundo. Assim os centros Euro-ásiaticos de interconexão entre Rússia, Índia, Irão e China se aproximam do novo BRICS + Plus, onde países como a Argélia, a Arábia Saudita, ou mesmo Irão e o Qatar procuram alternativas a uma possível implosão da “bolha das dívidas soberanas”, complicando a rede global de velhos relacionamentos, com preponderância ocidental. E abrindo faixas de fricção, que de evitar uma guerra global vão tardar decénios em ser consertadas.

 

PEQUENO APONTAMENTO ASTROLÓGICO

 

Em 1778, Plutão entra em Aquário. Para quem acreditar ou não, na conjunção planetária e sua incidência no plano da Terra, a visão holográfica de um todo, com suas partes em continua inter-relação, vamos dar uma pequena dica. Associa-se a entrada de Plutão em Aquário a um desenvolvimento da procura da liberdade, da realização de uma relativa maior bondade, da procura de um bem-estar comum, de uma tentativa de afirmar um ideal altruísta…, cuja realização acelera a contínua mudança, na procura da renovação de cenários geopolíticos já vistos como ultrapassados e constrangedores.

 

Em 1775, dá-se inicio à Revolução norte-americana, que remataria em 1783, apoiada pela velha Maçonaria escocesa antiga (não a do Rito escocês Antigo e Aceito, renovado no livro “Moral e Dogma” de Albert Pike, publicado em 1872), aquela da Casa do Stuart, e pela Franco-Maçonaria, que experimentou um grande auge quando Jacobo II Stuart, rei inglês de origem escocesa, teve de refugiar-se na França, após a derrota na Revolta de 1688, a Revolução chamada Gloriosa, antecedente da mudança de um poder absolutista comercial por um poder financeiro, onde a própria filha do Rei, Maria Stuart trairá o próprio pai, ao apoiar o seu marido Guilherme de Orange (da dinastia Hannover), que se tornaria no final novo Rei da Inglaterra.

 

Em 1776, funda-se a Ordem dos Illuminati de Baviera (muito observada pelos teóricos das diversas conspirações), de curta vida, mas que tem um certo relevante papel quando, no Congresso de Wilhelmsbad, em 25 de Fevereiro de 1781, vai-se iniciar uma suposta união, diálogo e tentativa de colaboração entre a Companhia de Jesus e diversos sectores representantes do movimento maçónico ocidental, em favor do poder comercial–financeiro anglo–neerlandês–veneziano… A partir de aqui, tem havido muito autores, tanto do lado dos jesuítas como do lado dos maçons levantando iradas acusações de mútua infiltração. Nesta altura, o poder do Luxemburgo junto aos Hesse-Kassel alemães, aliados dos britânicos e dos holandeses, luta contra o poder sueco de Gustavo III e de Leopoldo II, do Sacro Império.    

 

Essa suposta unidade de jesuítas e franco-maçons vai ter repercussão na Espanha dos Borbons e no Portugal dos Bragança. Com a tentativa de homicídio do rei José I de Portugal, em 1758, casado com Maria Ana da Áustria (aliança Hasburgo–Bragança), que ia trazer a expulsão dos Jesuítas do reino, por parte do Marqués de Pombal, com a detenção e condenação do Superior da Ordem Jesuíta em Portugal, assim como da nobreza aliada dos mesmos, no famoso caso do Processo dos Távoras. Em Espanha, daria ordem ao famoso “Motim de Esquilache”, em março de 1766, a favor de um modelo económico e social mais do jeito do Iluminismo, mas encobrindo uma tentativa de mudança do poder absolutista comercial por um poder financeiro sujeito ao controlo central britânico.

 

   

Entre outros eventos relacionados a este acontecimento astrológico, temos a descoberta de Urano em 1781; a descoberta da primeira vacina, a antivariólica em 1798, por Edward Jenne; a invenção do primeiro dirigível voador; a primeira abolição da escravatura, na Dinamarca, em 1792 e várias revoluções, como a de Tupac Amaru, no Peru, em 1780, ou a Francesa em 1789. 

 

Nos nossos dias, de novo Plutão volta a estar em Aquário e a guerra da Ucrânia pode significar uma mudança no organograma global do mundo? As revoluções coloridas do Irão, daChina, da Mongólia… Os problemas do Brasil e do Perú… algo a ver com isto? Ou simplesmente superstição?

 

O EXCECIONALISMO DOS ESTADOS UNIDOS

 

Enquanto filosofia da continua mudança, o Ocidente Moderno bebe da Fonte do Ordem após o Caos – Interpretação da “Teogonia” de Hesiodo, assim como da maior parte das mitologias do Mundo, que falam de um Caos primordial após a implosão do “Ovo Cósmico”, talvez a Grande Explosão do Big-Bang; ao final do qual o mundo adquire, devagar, uma forma: uma Ordem. Nessa visão Ocidental, do mesmo jeito que na mudança inicial, as mudanças cíclicas trazem esse caos. E deve ser aceite, assim como mediante una profunda observação, esse Caos pode conduzir – ou mesmo provocar – criando a tese e a sua antí-tese, e dirigindo o mesmo processo até uma síntese já predeterminada.

 

Daí ser preciso todo o organograma do Ocidente nos Três tabuleiros: o Militar, o Económico e o Social–Cultural, – em ambas as polaridades, estejam abaixo do controlo central ou ramificadas. Conexões múltiplas, que partem, em projeção de um poder central, comandado pelas maiores metro-polis do Ocidente. Deste modo, na prática este organograma funciona a nível territorial, com o mundo rural servindo de auxiliar da mão de obra, gerador de renda e riqueza para as cidades regionais. Estes centros regionais servem às cidades centrais da nação e estas, por sua vez, cidades nacionais, da periferia do sistema global, extraindo riquezas para ser entregues às metro-polis centrais. Por meio de uma contínua extração de renda, da periferia ao centro – sendo as academias e as universidades de formação económica orientadas para perpetuar este sistema.

 

Finalmente, para poder perpetuar uma única visão académica associada à livre concorrência e ao livre pensamento, primeiramente tem de ser eliminada a antiga visão e, mesmo a antiga escada de valores tradicionais, associando os mesmos à superstição ou àquilo que não presta, constituindo-se estas práticas num verdadeiro epistemicídio.

 

Antes de poder levar à frente políticas globais de colonialismo cultural, é preciso assegurar um bastião económico e militar que permita aventurar e irradiar esta nova cosmovisão, para o resto do planeta. Os Estados Unidos, rodeados por doos mares (Atlântico e Pacífico), fazendo fronteira a norte com um Estado subordinado ao mesmo poder financeiro, como o Canadá, e fazendo fronteira a sul com um estado vassalo (vencido em guerra), como o México. E mantendo uma faixa territorial, de acordo com a Rússia, como o Alasca, tornando-se o país mais idóneo para estabelecer a base de conquista e expansão do modelo financeiro de controlo atual.

 

  

Assim, na Capacidade Militar do 1º Tabuleiro, o Destino Manifesto e a Excecionalidade Norte-Americana, nos dias de hoje deve ser o Modelo a Impôr no resto do Mundo um modelo de civilização global, que olhe no espelho das conquistas do “País das Oportunidades”.

 

No 2º Tabuleiro, o económico – o modelo Financeiro Privado – de Comando Global através das Dívidas Soberanas e Particulares – e o Poder das Corporações Ocidentais – deve expandir-se por toda a Orbe.  Para isso, conta a 2º Roma com o controlo de todos os Bancos centrais do Mundo através do Banco de Pagamentos Internacionais, com sede em Basileia. Do sistema interbancário SWIFT, como via de transações mantendo o dólar como moeda de câmbio internacional. Do FMI e do Banco Mundial. E, atá agora o controlo do comércio internacional de energia com o Petro – dólar, assim como a sede de intercâmbio de compra de ativos e matérias primas do mundo, em Londres: o que obriga a maior parte dos países a ter ativos de reserva, em bancos ocidentais o qual permite a confiscação dos mesmos em caso de revolta contra o sistema.

 

  

No 3º Tabuleiro, no social-cultural, temos a formulação do controlo do Imaginário Global Coletivo, que deve identificar a cultura ocidental como a mais elevada. Contando com meios mais visíveis no mundo do entretenimento – entorpecimento, onde a maquinaria Hollywood trabalha 24 horas por dia, os 7 da semana.

 

Junto à publicidade Global – e Informativa das 3 agências de Informação  Ocidentais, que servem a rede de emissão  de noticias que se espalha através de todos os meios de comunicação do mundo. Além de entre outros organismos, instituições e academias, temos os valiosos centros Universitários mais famosos do mundo; e os centros tecnológicos mais desenvolvidos do orbe. Por sua vez, no âmbito das orientações do FORO DE DAVOS – como fórum global ego-económico, ego-estratégico e ego-político emissor de agendas globais, previamente pautadas pelos poderes hegemónicos mundiais.

 

   

No lado menos visível – Institutos como o Tavistok de engenharia social – Centros de Pensamento como o Council on Foreign Relations, o Atlantic Council ou Think-Thanks como a Rand Coorporation, entre outros, fazem interconexões amplas para moldar o pensamento em favor do “mundo livre” emblemático e slogan publicitário do Poder Financeiro Ocidental.

 

A TERCEIRA ROMA

 

En 1204, inicia-se a quarta cruzada: A rama mediterrânica da Ordem do Templo em aliança com o poder veneziano, representado pela família Palaviccini de formação filosófica aristotélica, toma Constantinopla, derrotando a dinastia dos Paleólogos, de formação filosófica Platónica. Confronto entre o Ocidente e o Oriente pela supremacia dentro duma 2º Roma ainda unificada.

 

O saque do ouro da Capital de Bizâncio, com destino Veneza, vai significar o início da queda do poder cristão oriental e a afirmação da Roma Papal, referenciada no Império latino do Oriente que ocupa a cidade, até que em 1261 Miguel VIII Paleólogo a recupera de novo para Bizâncio.

 

No entanto, a debilidade da Roma Oriental, após este embate, vai-se manter até à definitiva queda de Constantinopla, nas mãos do Sultão otomano Mehmed II Fatih, no ano de 1453.

 

Em 1501, o monge russo Filoféi de Pskov, em uma carta dirigida ao Grão Duque Basílio III, afirmou: “Duas romas têm caído. A terceira se sustenta. E não haverá uma quarta”. Reclamando para a Rússia a glória da 3ª Roma, como sucessora da Roma Bizantina do Oriente, impulsionando novamente o messianismo russo herdeiro da visão de Joaquim de Fiori e da Era Do Espírito Santo – e olhando já a Roma papal como caída na materialidade, por causa da qual teria perdido, havia tempo, sua supremacia moral.

 

Em 16 de Janeiro de 1547, Ivão IV Vasilyevich – mais conhecido por Ivão, o Terrível – vai ser coroado Czar da Rússia, reivindicando a linhagem Bizantina de Constantino. De novo a Roma do Oriente renascida volta a confrontar a Roma do Ocidente afirmando-se, a partir daí, a dinastia dos Czares como uma dinastia divina herdeira do Primeiro Império do Cristo.

 

O século XIX traz a Rússia à prosa clássica da Era de Ouro de Gógol, Tostói, Dostoiévski, Turguiênev ou Nikolai Nekássov… Marcada pela crítica social, encaminhada para a procura desse cristianismo virtuoso e da igualdade no conceito espiritual do ser humano como mensageiro na terra do Cristo. Tolstoi recupera “No reino de Deus está em vós” a ideia platónica da sociedade da paz, harmonia e procura do bom, do belo e da justiça, inaugurando o chamado “Anarquismo cristão” que, em certo modo, nos lembra uma procura de uma sociedade ideal, como a que Platão nos desenha na “República”, misturada com a visão de Santo Agostinho na “Cidade de Deus” – Procura que tanto Campanella na “Cidade do Sol”, como Erasmo de Rotterdão, na sua “Eloquência da Loucura” ou “Educação do Príncipe Cristão”, junto a outros autores, através de todos os tempos, vão procurar, como parte da chamada humana a ultrapassar a divisão e tentar assentar a fraternidade.

 

       

Mais tarde, a chamada “Geração de Prata”, do início do século XX, impulsionada pela visão do alemão Rudolf Steiner (de ser a Rússia o reduto espiritual de uma Europa já vencida pelo materialismo e em franca decadência), vai fixar no imaginário cultural russo um selo espiritual messiânico de missão divina na Terra, sonhando conquistar na Rússia o que Thomas Muntzer não pode concretizar na Alemanha.

 

O escritor, filósofo e teólogo Vladimir Soloviev nascido em 1853, vai incluir nas suas obras: “As bases espirituais da vida”, “Rússia e igreja universal”  ou “Bizantinismo e Rússia” a questão da missão universal russa de regeneração do Cristianismo. Em seu texto “Justificação do bem”, na boca de uma personagem chamada, curiosamente, de geral Z, Soloviev vai afirmar a ideia do militarismo russo ser a encarnação dos soldados em Cristo. Afirmando, somente um ser humano pode lutar numa guerra com a força inabalável da fé na sua missão sagrada.

 

Em 1917, com a revolução bolchevique, a queda da dinastia Romanov é olhada como presságio da grande queda no materialismo, pela espiritual geração de prata. No entanto, no início da revolta várias seitas messiânicas cristãs vão apoiar os bolcheviques, aguardando que a sua suposta política de igualdade social seja o anúncio da inauguração na Rússia da prometida Nova Jerusalém terrestre, da qual a cidadela do Kremlim, construída em 1156 por ordem de Yury Dolgoruky, estaria à sua espera.

 

O czar da Rússia que se tinha oposto à criação de um Banco Central, enfrentando o Poder Financeiro Ocidental, vai cair e o novo governo soviético vai conceber um Banco Central, dirigido por um banqueiro sueco. O progressismo futurista bolchevique inicia o seu caminho contra o tradicionalismo conservador russo, no entanto ambos mantendo a filosofia do coletivo por cima do individual.

 

Esses mesmos banqueiros internacionais vão apoiar a seguir o novo exercito czarista. Na guerra civil, os soviéticos chegam a perder 90% do território, mas milagrosamente rodeados perto de Moscovo, e através da criação por Trosky do Exército Vermelho revertem a situação e terminam por ganhar uma guerra que vai ceifar mais de 20 milhões de vidas, a maior parte delas não mortas pelas balas e sim pela fome.

 

Em 3 de abril de 1922, Joseph Stalin toma o Poder, derrotando Trosky e iniciando uma virada a favor de um conservadorismo tradicionalista de carácter soviético, representado pela ideia do “socialismo em um só país”, oposto à ideia da “revolução permanente” internacionalista troskista.

 

No 1 de dezembro de 1934 em Leninegrado, é assassinado Kirov, o até então representante das virtudes do conservadorismo soviético. Alguns autores ocidentais têm relacionado Stalin com a sua morte, mas recentemente autores russos e ocidentais têm afirmado serem a fação progressista ainda viva no bolchevismo a que teria assassinado Kirov, e também envenenado Stalin. Por sua vez, esta fação teria ordenado o fuzilamento de Beria (homem de confiança de Stalin), figura muito controversa, acusado pelos seus detratores de ser quem mandou realizar o famoso “Massacre de Katyn”, ocorrido em 1940 onde foram assassinados oficiais, militares e intelectuais poloneses. A cifra varia segundo as fontes, chegado a afirmar os opositores soviéticos terem sido cerca de 22 mil. O objetivo era evitar um poder polonês que, no futuro, confrontasse as ideias de Stalin de implantar um regime “fantoche” na Polônia.

 

Mas estas mortes favoreceriam o novo poder, de novo progressista de Nikita Kruschev, dado ambas as personagens (Beria e Kirov) formarem parte das duas colunas que ladeavam o dirigente soviético de origem georgiana, Stalin. Kruschev, que com o seu Relatório Secreto, desacreditaria todo o período stalinista iniciava outra reviravolta mais progressista e de maior aproximação e tentativa de acordos com o Ocidente.

 

Segundo o historiador norte-americano Grober Furr, das 61 teses que contém este relatório 60 são criações literárias destinadas a dar morte ao culto a Stalin. Nos seus livros “Kruschev mentiu” e “Em defesa de Stalin”, Furr tem sido um dos modernos autores a reabilitar ou ao menos a tentar situar, numa dimensão histórica, menos apaixonada a figura do ditador soviético.

 

    

O NOVO CENTRO DA 3ª ROMA EM ANDAMENTO

 

Entre 1936 e 1938, produzem-se os juízos contra toda a velha guarda bolchevique progressista (no Ocidente, chamados das Purgas de Stalin), acusando precisamente, a este sector, de anti-soviéticos e agentes estrangeiros do Ocidente.

 

Em 1945, na primeira celebração do Dia da Vitória sobre a Alemanha nazi, a bandeira tricolor russa é atirada aos pés do mausoléu de Lenine.

 

A bandeira tricolor do maçon Aleksander Kérenski vai ser desde então associada pelos patriotas russos aos denominados por eles traidores à pátria. Boris Ieltsin, o 1º presidente da atual Federação Russa, vai recuperar esta bandeira. Ieltsin, com Gorbatchov, seguem sendo chamados pelos patriotas russos de traidores à pátria. Inteletuais nacionalistas não entendem como Mikhail Gorbatchov colocou um representante da família Palaviccini, descendente dos Palviccini que em 1204 saquearam Constantinopla, como reitor das finanças russas. Esse ato é sentido pelos nacionalistas como um ultraje.

 

Nos dias de hoje, alguns intelectuais nacionalistas falam abertamente de procurar uma bandeira mais de acordo com os ideais da Federação Russa. Uma bandeira associada à vitória e à unidade dessa federação multi-étnica e multi-nacional. Fala-se de uma bandeira vermelha com um novo escudo, não o da foice e do martelo sendo que essa bandeira vermelha já foi bandeira do Império Bizantino, com a cruz ansata do Cristo no centro. Também vermelha era a bandeira dos hussitas, seguidores de Jan Huns, na Bohemia checa, por certo com um cálice no centro…

 

   

Em 1948 Stalin sela a paz com a Igreja Ortodoxa Russa, ao comprovar a eficácia do credo e da fé, na chamada Guerra Patriótica ou IIª Guerra Mundial, mas delegando o poder espiritual no poder terreno. Inversão das duas Espadas do Papa Bonifácio VIII.

 

Daí que ao atual poder russo não lhe custar nada reivindicar e unificar a conservadora história czarista, junto à stalinista e a ambas acrescentar a suposta missão civilizacional do atual Presidente Vladimir Putin.

 

A Rússia atual está a tentar construir um novo centro geográfico civilizacional – substituto dum Ocidente visionado pelos russos como inimigo do seu Cristianismo e, portanto, decadente.

 

A Nova Cronologia Histórica dos Académicos Russos, dirigida por Anatoli Fomeko, reclama precisamente um centro histórico russo, ligando as elites governantes russas com a linhagem direta do verdadeiro Cristo, que ele afirma ter sido o Imperador de Constantinopla Andrónico I Commeno, que morreu martirizado de forma semelhante a Jesus Cristo, inclusive com a cena de um soldado romano cravando sua lança no costado do Imperador crucificado.

 

A TERCEIRA ROMA NO CENTRO EURO-ASIÁTICO

 

O filósofo Alexander Dugin, o criador da quarta teoria política e promotor do Euroasianismo – com sua ideia da aliança conservadora pardo–vermelha – mudou a dicotomia da Guerra Fria, de luta entre capitalismo versus socialismo – pela atual luta de globalistas progressistas de esquerda e de direta, contra conservadores tradicionalistas de direita e de esquerda.

 

A filha de Dugin, a também filósofa Daria Dugina (falecida num recente atentado, supostamente realizado pelos serviços secretos ucranianos, dado ela, junto a seu pai, serem grandes apoiadores da invasão russa da Ucrânia) escrevia seus textos com o nome de Daria Platona – reivindicando aquele platonismo primigénio dos Paleólogos de Bizâncio. Muitos autores ocidentais consideram Dugin um nacionalista – fascista – oportunista, que chegou mesmo a fundar um partido nacional bolchevique que, para eles, teria uma simbologia claramente nazista. Mas hoje, com a chamada pelo poder russo “operação especial” na Ucrânia, qualquer discurso filo-nazista está fora de contexto pelo que Dugin, leva tempo a assegurar, é um simples patriota russo…

 

A nova política chinesa de Xi Jinping tem aberto outra dicotomiam associando no plano económico esse multilateralismo supostamente soberanista, a ideia do Poder Estatal com o auxílio do Poder Privado, em confronto com o Poder Unilateral globalista financeiro privado, que controla e dirige o Estado.

 

Pavel Sukoi, Artion Mikoyá e Tupolev revolucionaram a aeronáutica militar soviética e russa. Valeri Guerásimov, com a sua doutrina militar de “Amplo Espectro” revolucionou a estratégia de combate soviética e russa.

 

O economista russo Sergey Glazyev, criador da estratégia russa de resistência às sançoes ocidentais – e desenhador de uma futura nova moeda euro-asiática ou talvez dos Brics, baseada numa cesta de bens tangíveis – contrariamente às moedas fiduciarias ocidentais, como o euro ou o dólar – escreveu em 2014 após a revolução ucraniana do Maidan um livro intitulado “EEUU inicia a 3º Guerra Mundial e a perde”, onde descreve a situação do confronto atual Ocidente – Oriente, e explica o modo como o Oriente vai sair vencedor em este embate.

 

Todas estas pessoas estão a trabalhar em favor deste novo centro civilizacional euro-asiático, que traz consigo, no seu aspeto mais espiritual, a ideia da 3º Roma – e como todo o centro a realizar-se terá suas luzes e sombras. Para o Ocidente, este poder é autocrático em oposição ao poder europeu e norte-americano democrático.  

 

O líder muçulmano checheno Ramzán Kadirov (acusado de múltiplas violações dos diretos humanos pelos seus opositores) reivindica abertamente o ideal de uma guerra santa ou Yihad da Federação Russa contra o Ocidente, tendo como campo de combate as terras da Ucrânia. Kardirov identifica o Ociente com Satán, tal como faziam alguns dirigentes iranianos, em seu dia.

 

Curiosamente, essa acusação de satanismo que Kadirov e os revolucionários xiitas do Irão  atribuem aos Estados Unidos e ao Ocidente foi precisamente o mesmo argumento “de serem filhos de Satã” que foi utilizado pelos revolucionários norte-americanos contra os ingleses e o Papado, após a revolta do chá de Boston, em 1773 e das batalhas de Lexington e Concord, em 1775. Depois da Independência das 13 colónias, foi relacionado este espírito messiânico pelo povo norte-americano ao destino de um povo eleito por Deus, que seria utilizado como instrumento divino para mudar o mundo, acabando com a noite das trevas, escuridão representada pelo Papado e pelo rei Jorge III da Inglaterra, associados ao Anti-Cristo.

 

No início do processo de Independência norte-americans, temos a aparência de que o destino manifesto do EEUU devia ser realizado quebrando seus laços com a 2ª Roma Papal, dominada pelo poder Financeiro Ocidental. Naquela altura, a Russa Czarista da 3º Roma não era visionada como um inimigo se não como um aliado. Facto comprovado quando Abraham Lincoln pôde reverter o curso da Guerra de Secessão, favorável até esse momento para o Sul, pela ajuda recebida do Imperador Russo. “A Rússia deseja, acima de tudo, a manutenção da União Americana como uma nação indivisível”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros Aleksandr Gortchakov, em 1862, para Bayard Taylor, secretário da embaixada dos EUA em São Petersburgo.

 

Em setembro de 1863, uma frota russa com seis navios de guerra dirigiu-se para a costa leste da América do Norte atracando em Nova Iorque, e outra para a costa oeste, atracando em São Francisco.  

 

Ante a possibilidade de intervenção dos britânicos desde o Canadá, em favor da Confederação, o Czar Alexandre II declara que qualquer tentativa de intromissão de tropas britânicas ou francesas na guerra Norte-Americana significaria uma guerra contra a Rússia. Naquele momento, o destino manifesto dos EEUU e o mesianismo russo confluíram. Lincoln culpa os jesuítas da insurreição do Sul. Tanto o Czar como Lincoln estavam contra a criação de um banco central privado que controlasse as moedas de ambos países…

 

Hoje, contrariamente, os EEUU, formando parte da 2º Roma, já controlada pelo Poder Financeiro Privado, Confronta a 3ª Roma, que manifesta estar a lutar pela sua sobrevivência e por um mundo multipolar de Estados Soberanos. E, por desgraça, o combate parece irreversivel a não ser que um terceiro foco, neutral, obrigue a um acordo geopolítico, que todo o planeta deseja.

 

Por sua parte da invasão russa da Ucrânia, tem posicionado essa ambiência de mundos em contraste. Assim, o analista militar russo Dimitri Orlov tem-no verificado no seu ultimo artigo, de 2 de dezembro de 2022, intitulado “A guerra dos cachinhos dourados e os três ursos” ao afirmarem: “Desde o colapso da URSS, vários agentes ocidentais, como o NED, o Departamento de Estado dos EUA, várias fundações Soros e uma ampla variedade de subsídios e programas de intercâmbio ocidentais fizeram sérias incursões na Rússia. O objetivo geral era enfraquecer e, finalmente, desmembrar e destruir a Rússia, transformando-a num servo complacente dos governos ocidentais e corporações transnacionais que lhes forneceriam mão-de-obra barata e matérias-primas. Para ajudar nesse processo, essas organizações ocidentais fizeram o que puderam para levar o povo russo à eventual extinção biológica e substituí-lo por uma raça mais dócil e menos aventureira (…)  Desde há mais de 30 anos, as ONG ocidentais começaram a corromper as mentes dos jovens da Rússia. Nenhum esforço foi poupado para denegrir o valor da cultura russa, para falsificar a história russa e para substituí-las tanto pela cultura pop ocidental como por narrativas de propaganda. Essas iniciativas alcançaram êxito limitado. A URSS e a cultura soviética permaneceram sempre populares, mesmo entre aqueles que eram jovens demais para ter experimentado a vida na URSS em primeira mão. Onde os danos foram mais graves foi na educação. Excelentes livros didáticos da era soviética que ensinavam os alunos a pensar de forma independente foram destruídos e substituídos por importações. Estes foram, na melhor das hipóteses, úteis para treinar especialistas em campos estreitamente definidos que podem seguir procedimentos e receitas previamente definidos, mas não podem explicar como esses procedimentos e receitas foram alcançados ou para criar novos. Os professores russos, que viam seu trabalho não apenas em instruir, mas em educar seus alunos para serem bons russos, amarem e estimarem seu país, foram substituídos por educadores treinados no Ocidente que viam como sua missão fornecer um serviço competitivo, baseado no mercado na educação qualificada e competente (…) Particularmente prejudicial para o futuro da Rússia foi o surgimento e a preeminência das elites económicas e financeiras pró-ocidentais. Desde a privatização aleatória e, em muitos casos, criminosa dos recursos estatais na década de 1990, foi levantada toda uma corte de poderosos agentes económicos que não têm em mente os interesses da Rússia. Em vez disso, são atores económicos puramente egoístas que até muito recentemente pensavam que seus ganhos ilícitos lhes permitiriam entrar na sociedade ocidental elegante”. Manifestando, ao mesmo tempo, que graças ao conflito estas inércias estão a ser derrotadas pela volta da ideia tradicional russa conservadora, coletiva, multi-nacional e multi-étnica. Daí, ele pensar que a guerra deve prolongar-se…

 

Esse militarismo espiritual russo parece então de novo emergir, confrontando o Ocidente. E, de novo, precisamos de um polo neutral, para tentar que esta situação não derive numa guerra global aberta. Por agora, o sofrimento do povo ucraniano parece não preocupar a muitos, talvez nem sequer a seus próprios governantes.

Fotografia de Artur Alonso

 

Artur Alonso: escritor com vários livros editados de teatro, poesia, ensaio e romance…

Ex diretor do Instituto Galego de Estudos Internacionais e da Paz.

Ex secretario do Instituto Galego de Estudos Celtas.

Membro do Conselho Consultivo do Movimento Internacional Lusófono.

Membro de Honra da Associação de Escritores.Mocambicanos na diáspora.

Membro do Conselho de Redação da Revista Identidades, etc.




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