Cultura

Falésia da Praia das Azenhas em Ferrel | João Camacho

Ferrel era uma aldeia de pescadores até há bem pouco tempo. Devagar foi-se voltando para a agricultura e o turismo. Agricultura extensiva apoiada em tractores e trabalho de sol a sol. A um quilómetro do Baleal, ficou conhecida pela tentativa frustrada de aí instalar uma central nuclear. A canção da Lena de Água ainda soa nos nossos ouvidos. Nesta zona do litoral, fomos descobrir as falésias da Praia das Azenhas. O nome da praia vem de uma unidade fabril que existiu em tempos no topo de uma das falésias. Muitas vezes, é incluída em etapas de competições de surf, como é o Meo Rip Curl Pro Portugal. Todas as falésias estão em perigo iminente de derrocada. Para lá chegar, temos de largar a estrada de alcatrão e aventurarmo-nos pelos campos cultivados. Ele são agriões, tomates, couves, um sem número de legumes. 

 

Por esses caminhos, passam muitos turistas na sua ânsia de encontrar o graal: ondas bem potentes que os deixam singrar no meio das águas turbulentas. Quase que se torna numa pequena aldeia. As mesas preparadas para ver o pôr do sol, a bebida típica é água e a boa vontade predomina. 

 

Estas praias quase infinitas têm o condão de maravilhar quem por aqui passa. Os grãos de areia nem são muito finos nem muito grossos. As falésias, essas, guardam nas suas camadas várias cores à espera de serem decifradas. Predominam os sinais de perigo para que as pessoas não se aproximem devido ao perigo de derrocada sem aviso. Os carros estacionam à sua beira sem perceber que num momento qualquer poderá haver um mal escondido que os espera. 

 

As falésias falam a linguagem dos sinais. São as suas rachas, as cores das areias, as plantas que ali nascem, mas sobretudo, pequenas nascentes que vão gotejando no seu interior. As várias camadas que apresentam são mostradas com detalhe pela câmera do autor. O tratamento da imagem permite descobrir propriedades até aí não vislumbradas. Fluxos de água do inverno a roxo, outras a verde onde a vegetação prospera. Um oásis em perigo com o aumento do nível das águas do mar e as tempestades de inverno. Provavelmente, no ano que vem, tudo estará diferente.

 

A luta continua

 

Ferrel é uma vila pacata, mas nem sempre foi assim. Houve alturas em que com o nevoeiro e as tempestades, os navios acabavam por vir aqui naufragar. Do Baleal à Nazaré são muitos os pontos e dezenas de salvamentos efectuados.

 

Uma parte de Ferrel é descendente de templários e cruzados que aqui se estabeleceram. Outra parte veio num barco de piratas e estabeleceu-se a norte. De um lado e do outro, sempre houve rivalidades. Um lado era a Coreia do Sul, outro a do Norte, tais eram as disputas. São também conhecidos por terem as melhores festas da Região Oeste. Impreterivelmente, a 5 de Agosto iniciam-se durante cerca mais de uma semana. São dedicadas a N.ª Sr.ª da Guia desde 1639, data em que foram concedidas licenças pela Câmara Municipal da Atouguia da Baleia, para os mordomos caçarem umas aves numa ribeira próxima. No último sábado, realiza-se a já famosa corrida de burros, símbolo tradicional da agora vila, desde 2011. Ficou conhecida por fazer o único projecto de central nuclear em Portugal. A população revoltou-se, tocou os sinos e enfrentou os ursos. Comos lhes chamam. Há os leões e os macacos. Não tem nada a ver com futebol, mas com a coragem de preservar a natureza no seu estado mais puro. Zeca Afonso, Pedro Barroso, Vitorino, Fausto e Sérgio Godinho actuaram nessa manifestação de solidariedade.

 

Enfrentaram de frente a GNR e os cães para plantarem batatas. Uma forma simbólica de dizerem: a natureza ajuda-nos a sobreviver, não a matem. O projecto acabou por perecer já nos idos anos de 82. Uma luta que iniciaram em 15 de Março de 1976.

 

Aqui encontramos praias famosas como o Baleal e a Almagreira. Raúl Brandão apelidou-a da mais bonita de Portugal. Não foi por acaso. Este é um local onde as pessoas se encontram em paz e a natureza cresce quase sem ser importunada. 

 

Ninguém diria que um local destes tem tantas histórias para contar. A população mais velha tem crescido. Fruto dos emigrantes que voltaram e de outros que aqui resolvem estabelecer-se. São 2759 habitantes pelo Censo de 2021. A Junta de Freguesia é PS. O PC só ganhou uma vez, tal como o PSD.

 

Observações – Para o formato sensor MOS 1/2/3’’ (8,8 x 6,6 mm) corresponde um factor de 4,2x (4,15) crop (efeito de escala) ao formato 136 quadro completo (full frame) (36 x 24 mm) negativo 35mm, para o ponto focal (5,4 mm / 24mm).



1/500, f/3,5, 5,4/24 mm, 80 ISO

 

1/80, f/4,9, 16,1/66,8 mm, 400 ISO

 

1/100, f/4,4, 9//37,4 mm, 80 ISO

 

1/80, f/4,4, 9/37,4 mm, 80 ISO

 

1/100, f/4,4, 11/45,7 mm, 80 ISO

 

1/80, f/3,8, 7,2/29,9 mm, 250 ISO

 

1/125, f/3,9, 7,8/32,4 mm, 80 ISO

 

1/80, f/3,9, 7,8/32,4 mm, 80 ISO

1/100, f/4,1, 9/37,4 mm, 3200 ISO

1/125, f/4,1, 9/37,4 mm, 3200 ISO

1/80, f/4,6, 13,2/54,8 mm, 250 ISO

1/1600, f/5,4, 25,6/106,2 mm, 80 ISO

1/125, f/4,6, 13,2/54,8 mm, 500 ISO

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1/80, f/4,1, 9,6/ 39,8 mm, 160 ISO

1/125, f/4,6, 13,2/ 54,8 mm, 400 ISO

1/80, f/4,6, 13,2/ 54,8 mm, 250 ISO

1/80, f/4,6, 13,2/ 54,8 mm, 400 ISO

1/80, f/4,6, 16,1/ 66,8 mm, 250 ISO

1/80, f/5, 17,5/ 72,6 mm, 125 ISO

1/125, f/4,3, 10/ 41,5 mm, 125 ISO

1/80, f/4,6, 13,2/ 54,8 mm, 80 ISO

 

 

Ficha técnica: Panasonic Lumix DC TZ-90, lente Leica 24mm DC VARIO-ELMAR. 24-720mm eq. f/3.3-6.4 asph. 30x zoom óptico. Sensor MOS. 20.3 Mb. Processamento em Darktable 4.5.0 Night Edition, Frequency Separation da Retouch4Me, Topaz Photo AI 2.74x, Denoise AI e Sharpner AI. Computador Dell 7490,  16 Gb ram, 500 Gb SSD, Windows 11



 

Fotografia de João Camacho

Camacho especializou-se em jornalismo de informática, cultura e arquitectura. Desenvolve trabalho fotográfico sobre a paisagem no seguimento de ter iniciaido o doutoramento em Arquitectura Bioclimática e construção com palha. Teve um projecto de Galeria de Fotografia em Alfama, na Rua dos Remédios, em Lisboa, o qual durou cerca de 5 anos. Chamava-se POET- Projecto Observatório Estuário do Tejo e era dedicado ao Estuário do Tejo como entidade global e única. Aí chegaram a ter um laboratório com sete ampliadores quase todos de grande formato onde realizavam cursos de fotografia e exposições. Curso de Fotografia Profissional Carlos Marques/Kodak, Visualização no Domínio da Imagem/Alain Desvergnes, Centro Português de Fotografia, Porto. Jornalismo/Cenjor 1999. Autor do livro de fotografia Ad-ver-cidade com o apoio do Centro Português de Fotografia, Autor do livro Micke Garrett e a Rosa Branca, Edições Apuramomentos/2023. Editor da Revista O Instalador (n.os 44/48). Várias exposições de fotografia: Espaço Positivo/Póvoa de Santarém, Caderno de Artistas e Tails- Contos Tradicionais Portugueses/Galeria Palácio dos Coruchéus, Lisboa,  Matri/Patri, Margens, Nautilus e Esteiro Furado-Galeria POET, Ad-ver-cidade/Galeria e Livraria Caleidoscópio, Lisboa e Alçude/Évora, Tudo Está Bem/Centro de Saúde S. Miguel, Alvalade, etc. Colaborou com as galerias Arte Bruta, 666, 111, Modo B, Quadrum, Altamira, Diferença, etc.

 

A paisagem enquanto modelo intelectual humano deixa rastos. Rastos da idade da terra e da utilização do ambiente que nos rodeia. A paisagem pode ser rural ou urbana, conter habitats animais ou vegetais ou estar dependente da água e do ar que respiramos. As nuvens, os moinhos, as pontes, os rios e ribeiros. Tudo isso interessa dentro de uma metodologia da imagem estética a qual pela sua natureza é trabalhada até ao pormenor do pixel. A luz e o detalhe acabam por ser mais importantes do que a máquina ou a objectiva com que se fotografa. É nesse espólio natural que Camacho explora as vertigens da perspectiva e a composição das volumetrias.

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