Auspício I
partes
de asas abertas
o sal na face
e o amor
fica
Auspício II
na morte dos pássaros
nos dentes dos gatos
latejam os ignotos
arcanjos
movimentam-se atordoados
no espaço marcado pelo gato
explode o coração
lascas de defuntos e miseráveis
exemplos
para a definição da morte
Auspício III
partiram hoje
os pássaros
dançaram por cima das nossas cabeças
remoinhos de vento nas folhas
que ainda não secaram
só as asas
transpareceram em breve Outono
as causas libertas
reergueram marcas
desacumularam aspas
um fel
agora
água
Inez Andrade Paes nasceu em Pemba, Moçambique em 1961. A natureza, a escrita, a arte são o fundamento do seu universo – pintura, ilustração, poesia, prosa, fotografia. Da escrita publicou O Mar que Toca em Ti, crónica de viagem – 2002; Paredes Abertas ao Céu (poesia 2011, com prefácio de Fernanda Angius); Libreto para uma Ópera em três Actos – Acto I Mar Falante; Acto II Transparente Luva de Água; Acto III Flores de Acanto Em Marfileno Lençol, constituindo o conjunto a Cantoriana Marítima, e três Cantatas adaptadas do mesmo poema todas musicadas pelo Maestro Vasco Pereira (em elaboração); Da Estrada Vermelha (Poesia 2015); Da Eterna Vontade (Poesia 2015). À Margem de Todos os Rostos (Poesia 2017); Sobre a Água Dentro Dela Anda uma Ponte (Poesia 2018)
Representada em várias antologias e revistas literárias.
Mantém o blog Contos de Fadas Não de Reis.
É coordenadora do Prémio Glória de Sant’Anna desde a sua formação em 2012.