The legacy em Duo Fills | Camacho 22
A primeira série de Duo Fills inspira-se naquilo que estamos a deixar às novas gerações. O nosso legado será lembrado durante muito tempo, isto se até lá sobrevivermos. O excesso de população, o uso e abuso dos recursos naturais, as migrações dos países em guerra, as mudanças climáticas, a falta de água, a associação de malfeitores que representam os países governados por ditaduras, tudo isto mais a “oferta” falaciosa de guerras sem fim aos países em vias de desenvolvimento, são motivo para muitas apreensões quanto ao nosso futuro.
Estas correntes migratõrias foram amplamente aproveitadas pelos países que precisam de mão de obra qualificada e barata. Mas chega-se rapidamente à conclusão que este acréscimo vai trazer rupturas seja em quem fornece como em quem recebe estas forças de trabalho. Numa primeira análise passam de emigrantes a refugiados, sendo depois deportados sem apelo nem agravo. Medidas que encaixam na perfeição nos media, ávidos de noticias sensacionalistas e populares.
Percebemos que estas culturas consideradas menores por alguns partidos de direita foram no passado exemplos de autonomia e inovação. O grande apanágio das sociedades contemporâneas que gastam rodos de energia para se manterem têm nestas sociedades ditas primitivas o corolário da utilização de sistemas artesanais passivos. Sempre viveram sem energia, o que não quer dizer que não possam estar informados do que se passa no mundo. Apenas preferiram, por circunstâncias várias, manter os seus hábitos seculares.
A falta de integração social nos países para onde imigram leva a que muitos não falem a língua nem dominem as culturas locais. Há todo um esforço que requer a participação da sociedade como um todo e não o contrário. Não podemos ter grupos de indivíduos que a cobro da democracia ameacem e invectivem estas populações a viver subjugadas pelo terror. Como se não fosse suficiente o esforço que fazem para se integrarem da melhor forma. É criminoso esse procedimento e deverá ser alvo de perícias e julgamento para efeitos de falta aos princípios constitucionais. Lei basilar da sociedade portuguesa.
Deixamos um legado pesado, um fardo que se configura um lastro para quem vem a seguir tomar conta dos destinos do planeta. A Sociedade das Nações, ONU depois da 2ª Guerra Mundial, faz o possível com o contributo escasso que é possível. O mundo tem de se voltar para ele próprio. De o tratar com se de um corpo moribundo em fim de vida, ligado a complexas máquinas de reanimação.
Porque não se consegue então tratar? Será que o que uns fazem bem vêm logo outros por detrás desfazer? Milhares de funcionários, entidades, acordos bilaterais, conferências, cimeiras, reportagens, documentários, debates, estudos, equipas de trabalho, leis, organismos internacionais, figuras públicas, abaixo assinados, manifestações, intervenções, happenings, tratados e pouco ou nada acontece. Diríamos que quem está no poder está subjugado a outros poderes. Está lá porque é o melhor aliado possível entre tantos. Mas essa resposta não responde a qualquer questão, apenas levanta suspeitas não provadas. Portanto não serve. As máquinas representadas pelas sociedades humanas são complexas e requerem energias próprias. Elas consomem mais do que produzem. Tanto em recursos naturais como em produtos transformados. Ora se a população global tem crescido a uma taxa de 2% ao ano ela duplica o consumo de recursos naturais em pouco tempo. O mundo não está preparado para um crescimento tão grande. Nem os terrenos agrícolas estão para isso preparados. As guerras são inevitáveis. Os políticos sabem disso. Aliás, foi por essa razão que se tornaram políticos. Têm a capacidade de sintetizar o que vai na alma do povo e transformar esse magnetismo em força anímica. Dependemos deles na medida em que precisamos de bons líderes para levar os projectos para diante. Depois ficamos deles dependentes. Nada que seja do outro mundo. Vamos as números. Como é que tem crescido a população mundial? De 1975 a 2022 duplicou, só 4 biliões em 47 anos… O mundo que conhecíamos com praias a correr de vista, repentinamente, ficou super ocupado. Entre 1928 e 75 foram 2 biliões, isto em 47 anos também e com uma guerra mundial pelo meio. De 1814 até 1928, estamos a falar de 94 anos e outra guerra mundial pelo meio foram 1 bilião e 500.000 em 1600. No ano 0 éramos 190.000 almas distribuídas mais ou menos com maior densidade ao longo do Equador. Desde a Ásia, sempre a mais populada até às Américas do Pacífico sul ao México. A proporção entre a população asiática para a restante diminui de 68% para 60%. A Índia (1.35 biliões) em breve irá ultrapassar a China (1.42 biliões) como o país mais populoso do mundo. O Brasil (211 milhões) encontra-se em 5º lugar e os Estados Unidos em 3º lugar (327 milhões). A Indonésia é o 4º país mais populoso do mundo com 267 milhões de pessoas.
Rapidamente levantam-se várias questões. Quais são aqueles que mais consomem per capita? Quais os que mais poluem? Quais os países que desbaratam os seus recursos naturais? Qual o PIB? Qual o salário médio? Quanto custa lá viver? Quais os mais democráticos e os menos? Onde existe liberdade de imprensa? e de religião? Como são encaradas as questões de género e de justiça social? Igualdade de opções? Educação e cultura? Saúde, gratuita ou paga? Avanços tecnológicos? Recursos naturais? Ditaduras? Regimes militares? Perseguições, livre comércio? Mais influentes? Influência dos lobbies? Fabricantes de armas? Mais ricos? Mais pobres? Tratados subscritos? Politicamente dependentes? Intervencionados por forças exteriores? Corruptos? Mafiosos? Investigação científica? Economias mais sustentadas? Sector primário, secundário e terciário? Inflacção? Perto do mar? Isolado ou cercado, com as melhores vias de comunicação? Menos ou mais problemas com as alterações climáticas? Vivem do armamento que exportam, das matérias primas que exportam ou importam, do combustível, do gás, do carvão, destroem as florestas, fabricam vacinas, hospitais per capita, escolas per capita, segurança, políticas de esquerda, de direita ou do centro, influência da religião nos processos, etc. O nosso algoritmo ficará bem gordinho e demorará algum tempo a responder às nossas questões.
Cada caso é um caso o qual inserido num contexto global toma diferentes aspectos consoante os prismas de análise. Depois teremos de ver a sua história. Como surgiu, como obteve a sua independência. Quem foram as suas grandes figuras, cientistas, artistas e governantes. Que obras lega à posteridade? Vive do turismo? Por que crises passou, como as enfrentou? Por último a densidade populacional vai-nos dar uma ideia da maior ou menor facilidade de inserção no meio social tanto profissionalmente como culturalmente. Dessa integração há ainda que saber se o sujeito se sente feliz e profissionalmente reconhecido.
Tudo para chegarmos a uma conclusão simples: este país está a seguir as suas metas para com a sustentabilidade e será energeticamente autónomo no ano de…
CAPÍTULO II
Por ser um sistema muito complexo, onde uma parte da equação ou algoritmo muda assim que as restantes partes se alterem. Baixa do preço nos combustíveis, logo um maior consumo que leva à subida da inflacção e por sua vez a uma subida dos preços. O contrário também ocorre, daí os especialistas aconselharem a subida dos juros com meio de controlar o consumo. Mas onde é que ficamos? Qualquer alteração no sistema demora tempo a estabilizar.
Maior consumo significa sempre mais poluição. Menor consumo menos poluição como se viu durante a reclusão por causa da epidemia Covid 19. Os países subdesenvolvidos consomem menos como tal deveriam poluir menos. Mas há um outro problema: têm excesso de população. Esse excesso de população significa que grandes áreas são ocupadas por bairros de barracas sem esgotos, água e electricidade. Quando têm electricidade utilizam muitas vezes ar condicionado devido às insuficiências construtivas. Falta de isolamento, telhados sobreaquecidos feitos de chapa, cheiros, doenças, infecções, etc. São muitas as dificuldades porque passam. Se resolvem uma logo outra aparece sem terem fim à vista. É natural que o seu sonho seja sair dali, mas não conseguem. A inércia do sistema não os deixa, é centrípeta. As drogas, os bandos, a máfia, o jogo, a polícia, a falta de segurança, onde se mata por qualquer razão.
Se vivo numa zona de Guerra, o problema é semelhante: tenho de encontrar em primeiro lugar refúgio e logo de seguida apoio. Quantos países estão nestas condições? Basta uma insurgência para dar cabo de parte da população. Boko Haram, Guiné, Haiti, Libéria, Honduras, Equador, Síria, Palestina, Tunísia, Tchetchénia, Ucrânia, Bósnia, Hungria com as perseguições a ciganos, na Turquia com o PKK, Afeganistão, Bangladesh, China com os Yugurs, Etiópia, Somália, e muito mais. Para onde vão todas estas pessoas senão quiserem ficar num campo de refugiados? Para o norte, evidentemente. São refugiados porque na sua maioria são mulheres com crianças ao seu cuidado, os emigrantes com a força do seu trabalho tentam outras rotas que lhes deem maior segurança. O sonho é um dia poderem reunir a família e desfrutar de alguma paz e cultura. Não que a sua cultura fosse menor ou fraca, mas nunca puderam usufruir dela com qualidade de vida.
O mesmo se passa no interior do país. Quem aqui vive fez o ensino básico e rapidamente teve de assumir um posto de trabalho para ajudar em casa a família. Em famílias numerosas que pouco ou nada tinham para comer. Muitos morriam pelo caminho. Mas voltamos ao ponto em questão. Depois da revolução e dos milhões que entraram da Europa para construir redes de teatros e piscinas quem tem tempo e vontade de usufruir destes bens? Será que alguma vez foram a uma exposição, tiveram feriados, fins de semana ou férias? Não. Mas também não sentem a sua falta. Só quando chegam os citadinos com as suas ideias a lembrar essas questões. Estamos perante um dilema. De um lado aqueles que precisam de emigrar para terem melhores condições, do outro aqueles que não sentem essa necessidade e estão bem assim. Não há uma fórmula abrangente. aqueles que estão no campo produzem muitos poucos desperdícios, tudo é reciclado. Ou se dá aos animais, ou se queima na lareira ou serve para outra função qualquer.
Será que não há uma solução?
É a resposta que todos procuramos. Há dentro de cada um de nós. Se fizermos a nossa parte tudo se irá acondicionando. Se os políticos fizeram a parte deles também. Se as indústrias da guerra acabarem ainda melhor. Mas isso só será possível quando as pessoas conseguirem gerir o tempo de vida que têm. Tempo para pensar, para ler, para conviver e amar. Tempo para educar e usufruir da vida.
Tempo para pensar
Não é apenas o apanágio dos filósofos nem dos políticos. Todos temos de pensar durante uma parte do dia. Tirar conclusões e fazer opções. Todos mesmo quando não nos dão essa opção. Se trabalhamos numa fábrica temos de estar atentos ao que se passa no nosso entorno. Não perder a concentração. Se trabalhamos num call-center temos de atender o cliente da melhor forma. Aceitar as suas reclamações e aconselhá-lo da melhor maneira. A obra de arte poderá servir como écran onde se projecta a nossa mente. DUO FILLS tem essa preocupação. Deixar o observador vaguear sem destino, no meio das formas e das cores dos quadros. Um quadro compõe-se de uma estrutura coberta por uma tela pintada a qual reflete as cores com que foi feita. Essas cores e formas têm uma função simbólica no inconsciente. São paisagens justapostas com uma zona contrastante por ser uma a cores e outra em tons de preto e branco.
Esta conjugação de opostos que se justapõem provocam ao mesmo tempo um efeito de surpresa e por outro lado questionam o observador. Será que estou a ver aquilo que julgo estar a ver? Este questionamento constante poderia ser cansativo se a tela não comportasse em si uma série de harmónicos. Proporções que são fruto dessa partilha espacial. A colocação dos elementos obedece a algumas regras. Em particular, o topo em escala de cinzentos tem um elemento central sobre um fundo. A parte debaixo polícroma serve de caixa de detalhes. Aí se encaixam o que o pintor decidiu colocar. A questão em forma de imagem com uma resposta a preto e branco. A resposta nem sempre responde num tom formal. Prefere o tom jocoso do humor negro. A arte pode ser séria, mas não seria ao ponto das pessoas pensarem que estão a um nível inferior. Até poderão estar, mas não é essa a parte da questão, isso será uma mera formalidade.
A questão procura uma resposta e tal como um jogo de cartas, pode-se ter mais ou menos sorte. mais ou menos inteligência para superar as dificuldades surgidas. Sim, isto da pintura não é só facilidades. Não é só pintar com uma técnica determinada e usando uma palete própria de cores. A pintura levanta inúmeros problemas durante a sua produção. A ideia é superá-los num tempo mais ou menos útil. Se criamos muitos problemas e temos de estar a pensar na melhor forma de os resolver vamos aprendendo nessa busca. Daí que nunca sejam favas contadas. Evidentemente que dependerá de cada um.
O próximo artigo chama-se SINAIS e aí irei colocar os quadros quantitativos dos vários países para comparação.
Quadros
Mr. Pluttini, acrilic on canvas, 70 x 100 cm. Signed. Serie Duo Fills. #painting #acriliconcanvas #modernart #camacho22
Atol, acrilic on canvas, 70 x 100 cm. Signed. Serie Duo Fills. #painting #acriliconcanvas #modernart #camacho22
Vistas da minha janela, acrilic on canvas, 70 x 100 cm. Signed. Serie Duo Fills. #painting #acriliconcanvas #modernart #camacho22
Camacho22 é um artista multifacetado. Pintor, músico experimentalista, designer, arquitecto, fotógrafo e documentarista. Cursou a FAUTL, ainda tentou o doutoramento em arquitectura bipoclimática e cursou uma pós-graduação em Artes e Discursos Emergentes na Nova. Tem dedicado a sua vida a inúmeros projectos na área do vídeo, da fotografia e da música electroacústica com a formação DaFênix Lounge Jazz, Elektronik Cirkus e, mais recentemente, Dazz_Dazz.