Poesia & Conto

Poemas | Márcia Maranhão de Conti

atrás

 

bem atrás do tempo eu estava

adormecida

desde que a noite cantava

 

cantava a noite e tu calavas?

 

estava eu na margem da palavra

sentindo

os lábios ávidos por imitar 

o que eu ouvia

 

havia um aprendizado:

desaprender a palavra

que eu preciso

 

estar na passagem

de tudo

antes da travessia

 

é esse o estado sereno

de espera e furor

que a noite canta

 

ninguém ousa dizer palavras tão

contraditórias.

 

toca-me

 

toca-me os tímpanos 

e os pelos

as pernas

os cabelos

toca-me inteira

nos órgãos 

toda eu na memória

no instante

 

toca-me

como se eu fosse uma poça d’água

e tu, uma chuva fina

toca-me, porque és minha vida

dona de mim

toca-me, assim forte

para caminharmos sozinhas

tu dentro e nas paisagens

toca-me, cavalo 

toca-me, pombinha

mar valente

maresia

toca-me, meu amor.

 

guardo-me

 

guardo-me, corpo e palavras

para o afã 

as penumbras

 

tocar o céu na tarde escura

chorar calada

erguer vogais em viagens de esquecimentos

 

guardo-me para me doer sozinha

no gosto de me guardar somente

guardo-me para me cantar para ti

arder aos teus ouvidos

enrubescer tua face como duas maçãs do éden

 

guardo-me como se fosses o que esperei

e nunca veio

mas em ti derramo essa fantasia 

aérea e insana como eu

pronta a levitar chorando

 

és o meu amado sem defeito

porque só existes em mim

forjo-te com músicas

elevo-te a um pássaro voando

 

tu és minha aflição

a minha saudade

 

minha cidade arruinada.

 

              

 

é para ti

 

é para ti esta dor

e cada palavra que procuro

palavra de dentro

que seja igual a mim

quando transbordo

 

é para ti a pronúncia

com o meu pulso

minha dança

 

cada sílaba

e as outras, distantes

os ecos

e os desencontros premeditados

porque és minha vida

desprotegida no papel

dono das horas

dos navios

 

é para ti que sou música

ou melodia silenciosa.

                      

 

                         hábito

 

cálida noite fria, sou eu e meus extremos

uma sombra de um galho no rio

a água trêmula de vento

imagino cenários

estou deitada falando contigo

tu, meu outro lado

tu, hóspede triste

tu ou eu, tanto faz 

o que importa é o que vem à língua

 

tudo ferve em meu corpo morto de frio

mas a noite é morna

a noite é cálida e fria

eu sou tu, poema?

não me respondas

continua o silêncio.

 

fuga

 

para não escutar o pensamento

ouço a distância

o íntimo

 

as mãos

os pés

a língua

 

para fugir

ouço o mar

mas às vezes me confundo.

 

Fotografia de Márcia Maranhão de Conti

Márcia Maranhão de Conti: Nutricionista e advogada, publicou, em 2011, ‘’Luar nos Porões – Piano mudo’’, no programa ‘’Prosa e Verso’’ da Secretaria Municipal de Cultura de Goiânia. O livro foi acolhido por poetas e críticos (Gilberto Mendonça Teles, Álvaro Alves de Faria, Flora Figueiredo, Gabriel Nascente, João de Jesus Paes Loureiro, Nei Duclós e Rubens Jardim, entre outros). 

Em 2013, seu livro de poesia ‘’Na Fissura do Vestido’’ foi premiado com a bolsa Hugo de Carvalho Ramos. 

Participou, como autora, do livro ‘’ Essas Mulheres’’, 2021, da editora Recriar, organizado por Ronaldo Cavalcante, com prefácio de Mia Couto, e com um poema no livro ‘’ A Caligrafia de Dona Sofia’’ de André Neves, Edições Paulinas, 2021; ‘’Contos dentro da esfera’’, organizado por Ademir Luiz, 2023; Diálogos Poéticos, Rubens Jardim, 2023.

Em abril de 2022, foi a poeta homenageada no Sarau Gente de Palavra em São Paulo, organizado por Rubens Jardim e César Augusto de Carvalho.

Foi premiada nos concursos, participando das respectivas antologias: 3º lugar no V e VI Concurso Kelps de Poesia Falada 2005 / 2007; 2º lugar no 5º Prêmio Nacional de Poesia Cidade Ipatinga- 2007; selecionada no IV Prêmio Literário Canon de Poesia / 2011 e II Concurso de Poesias da Revista Literária/2011;  2º lugar  no 10º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga. Selecionada nos concursos Poemas no Ônibus e no Trem de 2007/2009/2011. Prêmio TOC 140 da Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco/2013. Seu poema ‘’Serventia’’ ficou entre os 10 melhores entre mais de 1100 inscritos avaliados pela comissão julgadora, na votação on line, em rede social,  ficou em 5º lugar. Ganhou o prêmio de ‘’Melhor Intérprete’’ no ‘’Concurso de Poesia Falada Geraldo Coelho Vaz – 50 anos de Literatura’’, em 2009. 

Participou das  antologias: Vinte e Cinco Anos de Poesia – Coletânea Comemorativa do Clube dos Escritores de Ipatinga (2011);  Poetas Em/Cena – Reunião de poemas brasileiros no 8º Belô Poético, 2012; 32ª Mini Revista Literária, 2012 ;  Poema de Mil Faces e Revista Varal do Brasil (virtuais), 2012; Sarau na Paulista, organizado por Rubens Jardim e Cesar Augusto, publicado pela Editora Patuá, 2019;  As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira, organizado por Rubens Jardim, publicado pela Patuá. 2019; Rubens Jardim (antologia em homenagem ao poeta), publicado pela Patuá, 2019; Parem as Máquinas, pela Off Flip, 2020; Festival de Poesia Falada, da Academia Goiana de Letras, 2022.

Foi publicada em diversos jornais, blogs, sites e revistas literárias, entre eles, http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/marcia_maranhao_de_conti.html

https://www.germinaliteratura.com.br/2021/marcia_maranhao_de_conti.htm;

http://www.sermulherarte.com/2020/04/a-palavra-acesa-de-marcia-maranhao-de.html;

https://comoeuescrevo.com/marcia-maranhao-de-conti/;

https://revistacaliban.net/%C3%A9den-na-l%C3%ADngua-539f6b785f16?gi=a0737857a8d2;

https://ubegoias.wordpress.com/2020/05/28/a-vitima-por-marcia-maranhao-de-conti/;

https://nuhtaradahab.wordpress.com/2013/11/27/marcia-maranhao-de-conti-poesias-avulsas/;

https://pt.slideshare.net/roberley/memento-mori-v-noite-de-poesia-mrcia-maranho-de-conti-presentation;

https://www.literaturaefechadura.com.br/tag/tres-poemas/;

Foi entrevistada em março de 2023 pelo Canal do Poetariado: 

https://www.youtube.com/watch?v=VWjJgvxGYWM

Participou dos recitais :

 ‘’Poemas e Canções de Amor’’, com o Grupo Fé Menina e o poeta Rubens Jardim, na Oficina Cultural Geppetto, Goiânia, 6/2012;  Casa das Rosas e Praça Benedito Calixto,  São Paulo, 9/2012, Sesc de: Goiânia, Pirenópolis, Brasília e outras cidades.  Além da poesia e do roteiro dos shows, participou com a leitura dos textos. 

80° Recital Quinta Poética, por Escrituras Editora em 10/2015 na Casa das Rosas..

Festival de Poesia Falada da Academia Goiana de Letras, Goiás Velho, 09/2022.

Seu poema Flor foi para camisetas de catadores de papel de Porto Alegre a pedido do canadense, professor universitário, Denis Beauchamp, que presidiu uma associação voltada para esses trabalhadores.

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