

atrás
bem atrás do tempo eu estava
adormecida
desde que a noite cantava
cantava a noite e tu calavas?
estava eu na margem da palavra
sentindo
os lábios ávidos por imitar
o que eu ouvia
havia um aprendizado:
desaprender a palavra
que eu preciso
estar na passagem
de tudo
antes da travessia
é esse o estado sereno
de espera e furor
que a noite canta
ninguém ousa dizer palavras tão
contraditórias.
toca-me
toca-me os tímpanos
e os pelos
as pernas
os cabelos
toca-me inteira
nos órgãos
toda eu na memória
no instante
toca-me
como se eu fosse uma poça d’água
e tu, uma chuva fina
toca-me, porque és minha vida
dona de mim
toca-me, assim forte
para caminharmos sozinhas
tu dentro e nas paisagens
toca-me, cavalo
toca-me, pombinha
mar valente
maresia
toca-me, meu amor.
guardo-me
guardo-me, corpo e palavras
para o afã
as penumbras
tocar o céu na tarde escura
chorar calada
erguer vogais em viagens de esquecimentos
guardo-me para me doer sozinha
no gosto de me guardar somente
guardo-me para me cantar para ti
arder aos teus ouvidos
enrubescer tua face como duas maçãs do éden
guardo-me como se fosses o que esperei
e nunca veio
mas em ti derramo essa fantasia
aérea e insana como eu
pronta a levitar chorando
és o meu amado sem defeito
porque só existes em mim
forjo-te com músicas
elevo-te a um pássaro voando
tu és minha aflição
a minha saudade
minha cidade arruinada.
é para ti
é para ti esta dor
e cada palavra que procuro
palavra de dentro
que seja igual a mim
quando transbordo
é para ti a pronúncia
com o meu pulso
minha dança
cada sílaba
e as outras, distantes
os ecos
e os desencontros premeditados
porque és minha vida
desprotegida no papel
dono das horas
dos navios
é para ti que sou música
ou melodia silenciosa.
hábito
cálida noite fria, sou eu e meus extremos
uma sombra de um galho no rio
a água trêmula de vento
imagino cenários
estou deitada falando contigo
tu, meu outro lado
tu, hóspede triste
tu ou eu, tanto faz
o que importa é o que vem à língua
tudo ferve em meu corpo morto de frio
mas a noite é morna
a noite é cálida e fria
eu sou tu, poema?
não me respondas
continua o silêncio.
fuga
para não escutar o pensamento
ouço a distância
o íntimo
as mãos
os pés
a língua
para fugir
ouço o mar
mas às vezes me confundo.


Fotografia de Márcia Maranhão de Conti
Márcia Maranhão de Conti: Nutricionista e advogada, publicou, em 2011, ‘’Luar nos Porões – Piano mudo’’, no programa ‘’Prosa e Verso’’ da Secretaria Municipal de Cultura de Goiânia. O livro foi acolhido por poetas e críticos (Gilberto Mendonça Teles, Álvaro Alves de Faria, Flora Figueiredo, Gabriel Nascente, João de Jesus Paes Loureiro, Nei Duclós e Rubens Jardim, entre outros).
Em 2013, seu livro de poesia ‘’Na Fissura do Vestido’’ foi premiado com a bolsa Hugo de Carvalho Ramos.
Participou, como autora, do livro ‘’ Essas Mulheres’’, 2021, da editora Recriar, organizado por Ronaldo Cavalcante, com prefácio de Mia Couto, e com um poema no livro ‘’ A Caligrafia de Dona Sofia’’ de André Neves, Edições Paulinas, 2021; ‘’Contos dentro da esfera’’, organizado por Ademir Luiz, 2023; Diálogos Poéticos, Rubens Jardim, 2023.
Em abril de 2022, foi a poeta homenageada no Sarau Gente de Palavra em São Paulo, organizado por Rubens Jardim e César Augusto de Carvalho.
Foi premiada nos concursos, participando das respectivas antologias: 3º lugar no V e VI Concurso Kelps de Poesia Falada 2005 / 2007; 2º lugar no 5º Prêmio Nacional de Poesia Cidade Ipatinga- 2007; selecionada no IV Prêmio Literário Canon de Poesia / 2011 e II Concurso de Poesias da Revista Literária/2011; 2º lugar no 10º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga. Selecionada nos concursos Poemas no Ônibus e no Trem de 2007/2009/2011. Prêmio TOC 140 da Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco/2013. Seu poema ‘’Serventia’’ ficou entre os 10 melhores entre mais de 1100 inscritos avaliados pela comissão julgadora, na votação on line, em rede social, ficou em 5º lugar. Ganhou o prêmio de ‘’Melhor Intérprete’’ no ‘’Concurso de Poesia Falada Geraldo Coelho Vaz – 50 anos de Literatura’’, em 2009.
Participou das antologias: Vinte e Cinco Anos de Poesia – Coletânea Comemorativa do Clube dos Escritores de Ipatinga (2011); Poetas Em/Cena – Reunião de poemas brasileiros no 8º Belô Poético, 2012; 32ª Mini Revista Literária, 2012 ; Poema de Mil Faces e Revista Varal do Brasil (virtuais), 2012; Sarau na Paulista, organizado por Rubens Jardim e Cesar Augusto, publicado pela Editora Patuá, 2019; As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira, organizado por Rubens Jardim, publicado pela Patuá. 2019; Rubens Jardim (antologia em homenagem ao poeta), publicado pela Patuá, 2019; Parem as Máquinas, pela Off Flip, 2020; Festival de Poesia Falada, da Academia Goiana de Letras, 2022.
Foi publicada em diversos jornais, blogs, sites e revistas literárias, entre eles, http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/marcia_maranhao_de_conti.html;
https://www.germinaliteratura.com.br/2021/marcia_maranhao_de_conti.htm;
http://www.sermulherarte.com/2020/04/a-palavra-acesa-de-marcia-maranhao-de.html;
https://comoeuescrevo.com/marcia-maranhao-de-conti/;
https://revistacaliban.net/%C3%A9den-na-l%C3%ADngua-539f6b785f16?gi=a0737857a8d2;
https://ubegoias.wordpress.com/2020/05/28/a-vitima-por-marcia-maranhao-de-conti/;
https://nuhtaradahab.wordpress.com/2013/11/27/marcia-maranhao-de-conti-poesias-avulsas/;
https://www.literaturaefechadura.com.br/tag/tres-poemas/;
Foi entrevistada em março de 2023 pelo Canal do Poetariado:
https://www.youtube.com/watch?v=VWjJgvxGYWM
Participou dos recitais :
‘’Poemas e Canções de Amor’’, com o Grupo Fé Menina e o poeta Rubens Jardim, na Oficina Cultural Geppetto, Goiânia, 6/2012; Casa das Rosas e Praça Benedito Calixto, São Paulo, 9/2012, Sesc de: Goiânia, Pirenópolis, Brasília e outras cidades. Além da poesia e do roteiro dos shows, participou com a leitura dos textos.
80° Recital Quinta Poética, por Escrituras Editora em 10/2015 na Casa das Rosas..
Festival de Poesia Falada da Academia Goiana de Letras, Goiás Velho, 09/2022.
Seu poema Flor foi para camisetas de catadores de papel de Porto Alegre a pedido do canadense, professor universitário, Denis Beauchamp, que presidiu uma associação voltada para esses trabalhadores.