

Já ninguém tem pressa
aonde
o mais relevante é o onde
agora
Estou a tocar o mundo
– luvas de látex não são como uma prótese
são como uma irmã
Estrondeiam as ruas vazias
– eco das apneias receosas
sem máscara
Enquanto a solidão avança ligeiramente
Logo pela manhã fico enjoada da fobia social
que incha no prato como uma papa indigesta
às vezes poderia dar um passeio numa floresta
perder-me pelo menos por um momento
entre as árvores
Por todo o lado surgem as indicações
toca com cuidado
ama com máscara
limita os beijos
faz-te pequeno nos becos perante a multidão
Respiro profundamente
ao ler dos teus olhos
agora confia
Ficaremos calmos no fundo do oceano
“Em jardins zen”
Nos serenos jardins
as pedras falam
selvaticamente,
sob as areias,
criando filosofias
duradouras,
que refrescam emoções
por entre o lixo
que levará à inexistência
da humanidade.
Provavelmente
fácil será perdoar
superando o fingimento,
provavelmente será mais fácil amar
do que lançar areia aos olhos humanos
e destruir a harmonia do Paraíso.
No jardim da tranquilidade
não recordo o cheiro dos miosótis
ou talvez nem tenham cheiro na minha memória,
florescendo à beira do rio num azul deslumbrante
com um amarelado olhar pleno de desafios
enquadrado nas reflexões a cada início de cada verão.
Decálogo depois dos quarenta
1 – Que se fortaleçam os corpos.
2 – Que se desenvolvam os músculos e intelecto
no ginásio da sabedoria.
3 – Que se marche num trânsito
contra todas as curiosidades.
4 – Que se pressionem as gentes
e a sua intolerância.
5 – Que se torture o cérebro com a leitura
não alimentando quezílias sem interesse.
6 – Que se desanuvie a mente
e se aqueçam os corpos.
7 – Que se ignore a flacidez
e a celulite.
8 – Que se confunda a aromatização,
mas apenas nas suas exéquias.
9 – Que se dê atenção à simplicidade
dos rostos enrugados.
10 – Que se ame sem ilusões,
com a verdade que se vê
em frente a um espelho.


Fotografia de Katarina Lavmel
Katarina Lavmel é poeta, animadora cultural e professora de língua polaca. Concebeu e organizou duas edições da Festa Poética em Kobylnica e sete edições do concurso poético para os alunos do ensino médio na região de Słupsk, na Polónia. Autora de volumes de poesia: Żona Beduina (Esposa de um beduíno — Bydgoszcz, 2011), Szept i przestrzeń (Sussurro e espaço — Varsóvia 2014, Entourage – Poznan 2020. Publicou os seus poemas em antologias e revistas: “Topos”, “Aktant”, “Liry Dram”, “Poezja dzisiaj”, “Angora”, “Mroczna Środkowo-Wschodnia Europa”, “Kontury”, “Powiat Słupski”,” “Pegaz Lubuski”, Participou em vários encontros de artistas e festivais de literatura na Polónia e no estrangeiro. É membro do Clube de Poetas de Gdańsk e do Grupa Literyczna “Na Krechę”. Foi galardoada com a bolsa do Presidente da Câmara Municipal de Słupsk na área de cultura em 2011, 2020, 2021. E redatora “Azulejo vestido com centáureas” antologia da poesia polaco -portuguesa(Varsóvia 2020). Editou a antologia polaco-espanhola “Logos” (Konin 2021) em 2021.
É presidente da Associação Polaco-Ibérica Arendi Cultural( ACAPI).. Participou de diversos festivais internacionais e pololacos: Festival de Poesia Eslava (2014,2016), Festival de Poesia Polonesa em Varsóvia, Festival Internacional de Poesia “Poesia a Sul” 2019, 2020,2021. Festival Internacional de Poesía “Poetas en Mayo”2020 (Espanha), Festival “Locomotiva Branca “Łazieniec (Polônia) 2020, 2021. mora em Portugal, país pelo qual é fascinada.