Cultura

Poemas | Katarina Lavmel

Já ninguém tem pressa

aonde

o mais relevante é o onde

agora

Estou a tocar o mundo

– luvas de látex não são como uma prótese

são como uma irmã

Estrondeiam as ruas vazias

– eco das apneias receosas 

sem máscara

Enquanto a solidão avança ligeiramente 

 

Logo pela manhã fico enjoada da fobia social

que incha no prato como uma papa indigesta

às vezes poderia dar um passeio numa floresta

perder-me pelo menos por um momento 

entre as árvores 

 

Por todo o lado surgem as indicações

toca com cuidado

ama com máscara

limita os beijos 

faz-te pequeno nos becos perante a multidão

 

Respiro profundamente

ao ler dos teus olhos

agora confia

 

Ficaremos calmos no fundo do oceano

 

“Em jardins zen”

 

Nos serenos jardins

as pedras falam

selvaticamente,

sob as areias,

criando filosofias

duradouras,

que refrescam emoções

por entre o lixo

que levará à inexistência

da humanidade.

 

Provavelmente

fácil será perdoar

superando o fingimento,

provavelmente será mais fácil amar

do que lançar areia aos olhos humanos

e destruir a harmonia do Paraíso.

 

No jardim da tranquilidade

não recordo o cheiro dos miosótis

ou talvez nem tenham cheiro na minha memória,

florescendo à beira do rio num azul deslumbrante

com um amarelado olhar pleno de desafios

enquadrado nas reflexões a cada início de cada verão.

 

Decálogo depois dos quarenta

 

1 – Que se fortaleçam os corpos.

 

2 – Que se desenvolvam os músculos e intelecto

      no ginásio da sabedoria.

 

3 – Que se marche num trânsito

      contra todas as curiosidades.

 

4 – Que se pressionem as gentes

      e a sua intolerância.

 

5 – Que se torture o cérebro com a leitura

      não alimentando quezílias sem interesse.

 

6 – Que se desanuvie a mente

      e se aqueçam os corpos.

 

7 – Que se ignore a flacidez

      e a celulite.

 

8 – Que se confunda a aromatização,

      mas apenas nas suas exéquias.

 

9 – Que se dê atenção à simplicidade

      dos rostos enrugados.

 

10 – Que se ame sem ilusões,

        com a verdade que se vê

        em frente a um espelho. 

 

Fotografia de Katarina Lavmel

 

Katarina Lavmel é poeta, animadora cultural e professora de língua polaca. Concebeu e organizou duas edições da Festa Poética em Kobylnica e sete edições do concurso poético para os alunos do ensino médio na região de Słupsk, na Polónia. Autora de volumes de poesia: Żona Beduina (Esposa de um beduíno — Bydgoszcz, 2011), Szept i przestrzeń (Sussurro e espaço — Varsóvia 2014, Entourage – Poznan 2020. Publicou os seus poemas em antologias e revistas: “Topos”, “Aktant”, “Liry Dram”, “Poezja dzisiaj”, “Angora”, “Mroczna Środkowo-Wschodnia Europa”, “Kontury”, “Powiat Słupski”,” “Pegaz Lubuski”, Participou em vários encontros de artistas e festivais de literatura na Polónia e no estrangeiro. É membro do Clube de Poetas de Gdańsk e do Grupa Literyczna “Na Krechę”. Foi galardoada com a bolsa do Presidente da Câmara Municipal de Słupsk na área de cultura em 2011, 2020, 2021. E  redatora “Azulejo vestido com centáureas” antologia da poesia polaco -portuguesa(Varsóvia 2020). Editou a antologia polaco-espanhola “Logos” (Konin 2021) em 2021.

É presidente da Associação Polaco-Ibérica Arendi Cultural( ACAPI).. Participou de diversos festivais internacionais e pololacos: Festival de Poesia Eslava (2014,2016), Festival de Poesia Polonesa em Varsóvia, Festival Internacional de Poesia “Poesia a Sul” 2019, 2020,2021. Festival Internacional de Poesía “Poetas en Mayo”2020          (Espanha), Festival “Locomotiva Branca “Łazieniec (Polônia) 2020, 2021. mora em Portugal, país pelo qual é fascinada.


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