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A terra foi cavada há pouco
as coroas de folhas quase murchas
pendem na pedra tumular.
Viajante, que dizem as letras?
Que dizem elas dos ossos,
que a laje diz guardar?
HERAKLEITOS
Quando ciprestes foguearem o céu
é porque o inverno chegou
e com ele o rumor do pó
na chuva
com bagas fluorescentes
de Natal.
Então, molemente
haverá fruto de mármore
eterno
que possa ensinar-te.
Inédito
de ANTÓNIO CANTEIRO
in O SOL INCENDEIA O ALARIDO DAS CIGARRAS – poesia
(Prémio Literário Fausto Guedes Teixeira 2022)
LUGAR DO AMOR GUARDADO EM PARTE ALGUMA
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GÓIS
Caselhos é aldeia de Góis
que cruza silêncio de sábios
com tédio de poetas
No recanto dos quelhos
há destroços de escrita
num pastor que apascenta versos
entre as cabras
A toda a volta
no prado
há um pousio de poemas
à espera
entre penedias
Inédito
de ANTÓNIO CANTEIRO
in O SOL INCENDEIA O ALARIDO DAS CIGARRAS – poesia
(Prémio Literário Fausto Guedes Teixeira 2022)
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CORROCÔVO
Ah! Carlos
sempre a eterna casa de Corrocôvo
onde o tempo guarda
um cheiro a charco
na intimidade do pátio
Meninos acariciam pés
descalços de fantasmas
E correm lestos
à procura dos avós
na memória dos sótãos!
Inédito
de ANTÓNIO CANTEIRO
in O SOL INCENDEIA O ALARIDO DAS CIGARRAS – poesia
(Prémio Literário Fausto Guedes Teixeira 2022)
ANTÓNIO CANTEIRO, pseudónimo de João Carlos Costa da Cruz, nasceu em S. Caetano – Cantanhede, em 1964. Vive atualmente em Febres – Cantanhede.
Frequentou o Conservatório de Música de Coimbra até ao 3º ano de classe musical (flauta transversal) e foi membro efetivo da Orquestra da Tuna Académica de Coimbra, durante o ano do seu Centenário (1988).
Desde jovem vem colaborando com vários jornais e revistas locais: jornal “Ver Lendo” (de que foi cofundador), Jornal “Aurinegra”, “Independente” de Cantanhede” e “O Varzeense” de Góis.
É Técnico Superior de Reinserção na Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, desde 1992, tendo iniciado o seu percurso profissional em Paços de Ferreira, encontrando-se no mesmo serviço, em Aveiro, desde 1995.
Na poesia e no romance, conta com 11 obras publicadas, uma inédita e uma tradução: Parede de Adobo (Edições Húmus), romance que recebeu Menção Honrosa do Prémio Carlos de Oliveira, em 2005; Ao Redor dos Muros (Gradiva Publicações), romance, venceu o Prémio Alves Redol, em 2009; Largo da Capella (Gradiva Publicações), romance, obteve a Menção Honrosa do Prémio João Gaspar Simões, em 2011; O Silêncio Solar das Manhãs (Gradiva Publicações) venceu o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, em 2013; Logo à Tarde vai Estar Frio (Gradiva Publicações), romance galardoado em 2013, com Menção Especial do Júri, no Prémio João José Cochofel/Casa da Escrita de Coimbra, e vencedor, em 2015, do Prémio Mª Amália Vaz de Carvalho; Na Luz das Janelas Pestanejam as Sombras (Edições Húmus) arrecadou o Prémio de Poesia de Bocage, em 2015; A Luz Vem das Pedras (Gradiva Publicações), romance que venceu o Prémio Alves Redol, em 2015; Vamos Então Falar de Árvores, romance (Edições Húmus), venceu ex aequo o Prémio Bento da Cruz, em 2018; A Casa do Ser (Gradiva Publicações) venceu o Prémio de Poesia de Bocage, em 2018. Não Fosse o Tumulto de Um Corpo (Edições Húmus) venceu o Prémio de Poesia António Cabral, em 2019 e foi Menção Honrosa no Prémio Glória de Sant’Anna, em 2022. Nocturno (Gradiva Publicações), romance, venceu o Prémio Literário Ferreira de Castro, em 2020. O Sol Incendeia o Alarido das Cigarras (inédito) venceu o Prémio de Poesia Fausto Guedes Teixeira, em 2022.
Foi traduzido para língua inglesa, por Joanna Popielska-Grzybowska, o romance Logo à Tarde Vai estar Frio (IT WILL BE COLD IN THE AFTERNOON – e foi publicado pela Eglantyne Books – Publishers of Distinctive Electicism – 2022).
O Capítulo “Cela 13”, do romance Ao Redor dos Muros, faz parte do Manual de Português do Ensino Secundário (Profissional), da Porto Editora, de 2012, da autoria de Olga Magalhães, Fernanda Costa e Vera Magalhães.