Poesia & Conto

Os estames do açafrão | Alice Caetano

Foto de Benyamin Bohlouli na Unsplash

Os estames do açafrão são da cor do sol na hora do crepúsculo. O crepúsculo cheira a estrelas de ouro. As estrelas de ouro foram inventadas para se colocarem em fios, ao pescoço das raparigas. As raparigas cantam e dançam, porque ainda não sabem que existe o sofrimento. O sofrimento chega sempre na hora do crepúsculo. O sol do crepúsculo sabe doirar muito bem os estames do açafrão que vão perfurar muito lentamente as veias das raparigas. 

 

Quando as raparigas estão na varanda da idade luminosa, apenas vêem o brilho das estrelas nos colares que as enfeitam e não sentem os estames do açafrão a perfurar as veias do pescoço, tão perto da derrocada, tão perto da morte plangente.

 

As raparigas cantam canções sobre Poemas a esvoaçar. Cantam canções sobre as águas dos rios que nunca irão secar. Cantam canções sobre o derrube dos muros nos dias de revolta…dançam, depois, bailes marinheiros, com as estrelas de ouro ao pescoço. Beijam bocas com o sabor das uvas. Beijam bocas com o sabor das cerejas. Beijam bocas com o sabor da conquista.

 

E tudo se compõe, no andaime onde amanhecem e anoitecem os estames do açafrão. São sete dias de vida e sete dias de morte. São mulheres velhas escondidas debaixo da pele jovem das raparigas. São os alfinetes a perfurar, a perfurar, numa brandura de manicómio. São gumes de espadas incendiadas pelo odiado conhecimento sobre as idades. Não adianta chamar as raparigas para dentro da realidade da chegada do envelhecimento, porque o desfasamento entre a harmonia e as ondas do mar é gigante demais. 

 

As cinzas do mundo são formadas por compósitos de deslumbramento, tudo por causa da manipulação dos estames do açafrão.

Fotografia de Alice Caetano

Alice Caetano: Formação académica: Curso professores do 1º ciclo pela Universidade de Aveiro.

Licenciatura em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de ciências da Educação de Lisboa.

Profissão – professora do Primeiro Ciclo.

Livros publicados:

Poesia: “Depois do Ninho, a Água”; “Transmutações”.

Prosa poética: “Maçã de Zinco”.

Poesia, teatro e conto – “Espelho Convexo” (recomendado por Francisco Louçã).

Histórico-Biográfico: “Palco Sombrio – Guiné – Guerra Colonial e Actos Cénicos”  (recomendado por Francisco Louçã).

Livros em coautoria:

“Arranja-me um Emprego – crónicas e poesia para salvar o dia” – Editora Versbrava.

“Orgânico – Cinco Poetas, a mesma causa” (livro com carácter social) – Edição de autor.

“Xafir e a Feiticeira do Pântano” (infantil) – Alfarroba Publicações.

Participação na Antologia da Moderna Poética Portuguesa.

Participação em iniciativas do Movimento Democrático de Mulheres – MDM – com textos temáticos.

Membro do júri do Concurso “Aveiro Jovens Criadores”.

Poemas traduzido para italiano e publicados nas revistas Emergenza Climatica e Articoli Liberi.

Publicada pelo Jornal literário “RelevO” de Curitiba.

Realização de programas de rádio local de âmbito literário.

Escrita de prefácios em diversos livros de poesia.

Colunista na imprensa regional com artigos de opinião e crónicas políticas.

Segunda vencedora do 1º concurso de literatura polaco-português.

Distinguida pela Direcção Regional de Cultura do Centro como mulher de destaque no panorama cultural da Região Centro.

Elemento da Direcção do Grupo Poético de Aveiro.

Elemento do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal Manuel Alegre em Águeda.

 

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