Cultura

O ser-no-mundo na pintura de Amirah Gazel | Henrique Dória

Havia um deus na América Central pré-colombiana que representava a aspiração humana  à divindade, o Quetzlcoatl. Era o deus do vento e da fecundidade. Num texto na língua nahuatl está escrito:

Ele era o vento, o guia e varredor de estradas dos deuses da chuva, dos senhores da água, daqueles que traziam chuva. 

Era um deus dual, significando a união do céu e da terra, a união da ave Quetzal com a serpente Coatl, uma dualidade que é o símbolo  da perfeição, pois,  para muitas civilizações, desde os dogons do Mali aos Toltecas da América Central, o um é sempre imperfeito e só o dual pode aspirar à perfeição. 

Sendo um deus masculino, era, no entanto, associado ao planeta Vénus  e assumia também qualidades femininas. A serpente representava a imperfeição do corpo, as penas representavam a espiritualidade dos homens.

Nos códices Borbónico, Tellerian-Remensis e Tovar, o Quetzlcoatl é sempre representado com cores primárias fortes, plenas de vida, predominando o vermelho e o verde, cores do quetzal resplandecente, a par do azul e do amarelo.

São estas as cores predominantes na obra de AMIRAH GAZEL, particularmente nestas catorze obras a óleo sobre tela que agora apresenta numa mostra sob o título “ser-en-el-mundo”, com o subtítulo da-sein, um termo criado pelo filósofo alemão Martin Heidegger significando que o homem só pode ser e ser compreendido através do seu modo de estar no mundo, no espaço e no tempo.

Um conjunto de belas obras que traduzem a identidade do ser no mundo   e a aspiração à inocência do devir e ao gérmen da mudança, citando os títulos de algumas delas.

Na obra de AMIRAH GAZEL, confluem o pensamento ocidental e a mitologia da América Central pré-colombiana, o cubismo e o surrealismo ocidentais com a pintura dos códices aztecas, toltecas e maias unidos com notável maestria. O feminino é nela não só o símbolo da gestação e da fertilidade mas também o símbolo do devir, da deusa e da sua alma, gérmen da mudança e da vontade  de poder  da mulher contra o absurdo e a morte.

Nestas obras de AMIRAH GAZEL consideramos central a obra  A Vontade de Poder em que o quetzal de fogo debica o verde da esperança com que se quer cobrir, colocado sobre a campa púrpura e a cruz cinzenta, significando que o mistério da ressurreição é maior que o mistério da morte. 

São a arte e a beleza que ela cria, a arte e a beleza que nos oferece a obra de AMIRAH GAZEL  que, com outras obras de arte, nos permitem estar no mundo e triunfar sobre a morte.

 

HENRIQUE DÓRIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LADO A DEL DEPLIAN

 

De izquierda a derecha:

 

1 “Metanarrativa”

2 “Compromisos mutuos”

3 “Identidad en el mundo”

4 “El dominio de las distinciones, observadores activos”

5 “La Diosa y su alma”

 

LADO B DEL DEPLIAN

 

De izquierda a derecha:

 

1 “Legitima expectativa”

2 “La voluntad del poder”

3 “La inocencia del devenir”

4 “La mirada desaparece…”

5 “Germen del cambio” 

 

 

 

 

Fotografia de Henrique Dória

É advogado e colaborou no Diário de Lisboa Juvenil e nas revista Vértice e Foro das Letras. Tem quatro livros de poesia e três de prosa publicados. É diretor da revista online incomunidade.com, e da radiotransforma.

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