Poesia & Conto

O quanto me permitem os mundos

Pelo lado astrolábio há vozes esgrimidas e restos plantados na margem que me permitem ser nas minhas folhas de imaginação só minha, um resto que permanecerá inculcado onde quiseres, as minhas palavras não são apenas o fim de todos os princípios.

Verberar-te nu meu abraço, um zunido palavreador nos escombros do amor adormecido e contigo a meu lado que temer? Ganho uma força impressionante sentir que não estou sozinho por isso meu amor, invento-te como se tudo isso fosse nascer todos os dias neste dicionário que acabará nunca, é que as palavras nascem também assim, todos os dias, quando eu me permito ser com elas o meu próprio caminho e nesta sala só eu e tu, testar como ficam num jornal ao amanhecer aquela palavras que nunca ninguém tenha ainda visto em lugar nenhum, sim, é essa a beleza que me fazes sentir minha poetisa que nunca adormece antes de mim, verdade, és o meu dicionário quando me esfrego sozinho em tentativas de sair desta casa e partir para a lua voando com as minhas próprias palavras e um dia quem sabe, a minha filha irá estudá-la.

Verberar-te nu meu abraço, um zunido palavreador nos escombros do amor adormecido e contigo a meu lado que temer?

O lugar do absoluto queima da mesma forma que a tua razão sempre, essa fórmula de equívocos cresce como cátedras do sul decorando no vazio dos rios secos que navegam sombras até à tua imagem, um dia só tua ou para ti apenas, é isso, não te encolhas, verbera como a loucura que penetra o belo dos céus coloridos enquanto na televisão as notícias se vergam e anunciam mais uma chegada santa que inventaram os prantos nas letras casmurras dos alísios.

Adoro a placa ainda lá, na aldeia mais antiga do meu sonho plantando sem dor uma pharmácia desflorada sem hífens para recordar adormecidos que cheguei, eis-me nela como um dia um rei qualquer que já partiu para sonos de que apenas a história nos faz lembrar, compro aspirinas de gelo para que durem neste calor de tantos verbos de nada para nada e que importa a palavra por ti se de mim apenas aquela ali plantada na parte superior da pharmacia do avô da Cristina, sentado ele nos limos da memória como se fosse para todos ainda o único a curar saudades sem verbos que me tentas agora ensinar. 

O quanto me permitem os mundos sabes?, esta folha será sempre minha nem duvides, os génios já partiram e ficamos apenas nós os dois a olhar a saudade que nunca mais volta, ficaram aqui os seus dedos marcados na tinta que foi também, ficaram as garrafas cheias para tudo os fazer esquecer. Dorme donzela, apetece-me tanto ver-te dormir, sim, sentir que assim descansas e nem tempo perdes, desde que adormeceste cresci tanto para te explicar devagar quando acordares que cheguei, irás olhar para mim com os braços que me aquecerão como invenções para o amor, tudo isso, não só isso, o mundo ficará também ele ali, sentado ao nosso lado para nos aplaudir e dizer, quem sabe, descobrimos tudo que havia sido já esquecido nos dicionários do meu avô, agora és de novo a minha poetisa.

Vítor Burity da Silva

Vítor Burity da Silva, natural do Huambo, Angola, a 28 de Dezembro de 1961. Professor Honorário. Doutor Honorário em Literatura. Ph.D em Filosofia das Ciências.

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