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O caminho de Lugh – O caminho de Horus – O caminho de Khrisna e Cristo | Artur Alonso

“Nada a dizer. Nada a ensinar. A verdade é tão evidente por si, tão obvia, que toda e qualquer explicação somente servirá para obscurecer essa mesma verdade”

(Alan W.Watts – em “O Budismo Zen”)

 

Um dia comprendi: “A sabedoria traz prudência, o amor fraternidade. Afastando de nosso coração os medos que ainda o perturbam, podemos iniciar o abandono de toda animalidade“… E escrevendo esta frase se me deu por pensar que… Existe o ciclo, aquele no qual pela morte se rejuvenesce na vida. Existe a vida que surge, resurge após a morte. Existe o caminho e existem, como fala o ditado romeno “as pedras”; “pois as pedras também são parte desse caminho e desta cíclica caminhada”. Existe o desvio, individual e coletivo. Quando o coletivo aprofundar e a lei natural começar a degenerar-se em favor da voragem insaciável dos homens e seus egos, surge então, chamado pelo universal ciclo de reintegração aquele que caminha por cima das águas, aquele que pode elevar-se pelo ar, para ver acima dos mundanos aconteceres. Aquele que prega sua paz no grande deserto estéril das almas já pelo sonho corrompidas, adormecentes. 

 

Diz Khrisna a Arjuna, no Bhagavad Gita:  “Todas as vezes, ó filho de Bhârata! – que Dharma declina, e Adharma se levanta, Eu me manifesto para a salvação dos bons e destruição dos maus. Para restabelecimento da Lei, Eu nasço em cada Yuga” – Sendo Dharma a lei e Adharma seu oposto, sendo Yuga a Era ou ciclo… E existem ciclos maiores e ciclos menores, e ciclos dentro de ciclos. E existe o ritmo e existe a frequência. E existe a vida dentro da vida, e a morte, no seio da espiral que nasce, cresce e se fortalece. Tudo tem seu inicio, tudo seu fim aparente e sua reciclagem neste plano das correções cabalísticas, também chamado físico…   

 

Lugh, sendo Samildanach é o mercurial homem perfeito. Aquele que pode e deve ser exemplo para regeneração dum povo cegado na noite profunda das trevas. Ele está agora a retornar, pois a Galiza precisa suas vestes. Ele com a destra mão ensinar-nos-á de novo a a vivificar, dentro, o ouro da racional consciência que traz a mente tão emocional, irrequieta, a ansiada calma e sossego. Deves, pois, lembrar que tua mente sempre mente: eis sua precária natureza. Lugh na esquerda mão ensina a jóia de prata da emoção e sensibilidade, viciadas na etérea esfera dos que se deixam arrastar pelas paixões que os instintos despertam. Nas verdadeiras bodas da exuberância, o homem que aspira atingir o verdadeiro livre amor, deve de Lugh compreender, como apaziguando o apaixonado coração tranquilizada fica a astuciosa mente. Sendo que aí, no meio do peito, a união verdadeira pode realizar-se com a alquímica fusão do emocional fundido na ração verdadeiramente ética. Um novo caminho então poderá, este povo novamente iniciar: onde a intuição já não vai precisar de comparar continuamente o que deve ou não ser feito. Ele, Lugh, guiará teu caminhar já em contanto eterno com as estrelas. Permanentemente. 

 

Criaste assim dentro de ti o ser universal que voa por cima das nuvens rarefeitas, como águia livre que pode antecipar da terra qualquer movimento. 

 

Lugh, o dos “três rostos”, sabes que contém em seu seio também as três hipóstases imensas: O Pai, a Mãe, o Filho, em comunhão  – Sendo de ele a tríplice coroa aureamente bela. Assim como um primeiro impulso de vontade para o gelo animar, um segundo de sabedoria  no amor para aquecer a mônada no seu desidério, um terceiro para realizar-se ao fim. No mundo das causas, no meio está a lei finalmente provando na areia seus efeitos. 

 

Tenta esta tríplice chama não apagar, se não quiseres perder para sempre teu caminho reto: no seio da mãe o círculo de contenção, no meio o pau que sustenta a abóbada ou teto celeste; juntos tens a palhoça onde os filhos dormem e refúgio sempre há para que a fraternidade acrescenta… 

 

Na sociedade humana deverás equilibrar a função espiritual – sacerdotal, a função guerreira – transformadora pela vontade das negras humanas inércias; assim como a função artesanal no espírito criativo a desenvolver o belo por gratidão ao universo. 

 

O amor tudo embelece. Daí em equilibro os três poderes poderão projetar, na vida dos seres, a estrutura da sociedade ética… 

 

Lugh sempre pode ser útil para ajudar a criar os alicerces, por isso não deves tua porta fechar quando convidada já foi tua alma a abrir-se por dentro: seu caminho é o da luz, o sol interior que sempre acende. O astro inicial, o zero no astro, o Zero-Astro para melhor falar, meu bem, num povo agora ressurecto. Qualquer um, que deixe de viver na pequena ilusão, pode entender que tem nesses ouvidos a Palavra de Valor sua coragem sempre prestável, sempre na boca a voz perfeita.

 

Horus, filho da virgem Ísis – Sendo de Lugh, Khrisha, Cristo ou Mitra outro gémeo irmão – outro guia para iniciar aquele caminho estelar, que pode levar nosso povo atingir o campo das estrelas. Antes de no promontório elevado local, nossa alma ter de render no túnel luminoso seu derradeiro amen eterno (quando no pôr do sol esta porta se abrir, na ida e na volta já plenas). Lembrando o portão de entrada e saída, no mundo celta, ser guardado pelo Divino Feminino. Segundo conversação particular com nossa amiga a Dra. Branca García Fernández-Albalat, as almas ao além são guiadas pelo Divino masculino, no caso galaíco Laros; enquanto são recebidas por Leera. Ambos como Lugh e Brigantia trabalham como gêmeos espirituais, ajudando-te a viver tua realização miraculosamente.  

 

Se a roda do retorno puderes quebrar (após uma vida contínua e virtuosa) da qual Rumi, no Masnavi, nos veio antecipar: teu novo reino será aquele dos Anjos Alegres… Caminha, não deixes de caminhar, lembra o exemplo de Lugh – de Brigantia ou Briga, a luta daqueles que a si mesmos se vencem: a exemplo de Horus vingador de Osíris, assassino de Seth (o irreal), e dizer: transformador e vencedor do Ego profano: a egolatria.

 

Horus a 25 de Dezembro também nasceu, marcando o começo duma Nova Era. Outra Nova Era está hoje a alvorecer, na que todos os seres, povos, serão em abraço fraterno libertos – no final de todos os mitológicos tempos – aqueles que o iniciático hino galego anuncia são chegados. Em essa esperança a humanidade confia, mesmo sem entender, que serão precisos longos trabalhos de séculos, milénios… Mas no íntimo, por isso vivemos, sabemos serem parte da construção de algo muito maior, agora mesmo (como dizem os cabalistas) na etapa das correcções, desenhando-se. Mas já idealizado, somente temos de subir a enconsta íngreme – espiralada, até, com aquele arquétipo de luz, encontrar-nos. 

 

LUZ 

 

Não sejas parte da escuridão, quebra tua dual interior luta cega: nada existe que da natureza te possa separar, se tens o espírito apaziguado do rancor, do ódio, remorsos, feridas por curar, ânsias de reclamar, ignorância insana- Cura-te por dentro. No feminino que acolhe acharás respostas que estavam guardadas, no mais profundo do teu coração: primeiro orgão a crescer no ventre da tua Mãe- útero da esperança!

 

Assim quando o falcão te incitar, senão te renovas na mágica flor não poderás voar na tua alma por dentro: o lis do gaulês brasão dela é um símbolo perpétuo. Lembra que Horus porta o disco Solar, de Ouro, na sua testa e Lugh é o senhor do octógono eterno.. 

 

Horus com a amarelada cor da serenidade espiritual, com a azul da serenidade anímica, com a verde da vitalização – sintetizadas no Clarão virginal , daquele que traspassou o portão lumínico. 

 

Horus com doze anos tomou instrução no Templo da palavra eterna. Com trinta anos batizado foi, à beira do rio Eridanos, por Anup o purificador da original mácula terrestre. Com doze discípulos predicou. Tentado por Seth, o filho da Grande Escuridão, no deserto de Amenta. Ali a seus infernos teve de descer e vencer todos seus medos, grandes e férreos apegos (aquele que dessa viagem regressar fica livre de toda venal inércia, ira, vileza). Como o Cristo 40 dias no deserto – após a cruz, segundo o evangelho de Bartolomeu, desceu para libertar os infernos (nosso e vosso infernos – sanação, tem sempre de ser interior e exterior- Retirando nosso medo, ajudamos a retirar o vosso).

 

Horus depois pode realizar o grande sermão na Montanha Hetep, onde as multidões puderam escutar aquele que se tornara, por seu próprio esforço, Iluminado Mestre.

 

Horus que crucificado morreu no meio de dois ladrões, aos quais ele amou também profundamente, como amava a todo humano ser, a todos os seres vivos deste planeta. 

 

Horus que o terceiro dia ressuscitou na cidade de Anu. Escuta sua palavra que é a tua mesma (é a palavra de Lugh, a palavra de Cristo – Khrisna – Horus tem a vida semente ao Cristo). Escuta aquele que  nasce por detrás da tua voz, criada pelo enganoso ego. Compartilharás, então, com Horus, Lugh, Mitra, Khrisna, Kristos, do amor solar à mais pura essência. Eles símbolos são do teu transcendente divino; como Brigantia é da mulher – como a Rainha Lupa, da estirpe de lobas guerreiras, defensoras do amor, da comunidade (o comum na unidade) e da Terra. 

 

O escrivã Aun, sua missão recebeu para levar pelo mundo a palavra que sempre é certa. Não desesperes, por isso ou aquilo meu amor, Lugh – Horus mostram o caminho belo. O Buda, Cristo, falam sua mesma língua. Maitreya está a se materializar, tem meu amor um bocadinho de paciência e não te esqueças de perdoar aos teus inimigos como a ti mesmo. 

 

Se conseguires o labirinto escuro ultraspassar, serás bem-aventurado na luz da verdade eterna, por sempre, para sempre imensa. Um ungido te tornarás. Se ainda não conseguiste, paciência…

 

– Que dizes?… Que queres saber como esta negra sombra ao chão deitar ?

  • Escuta atentamente: segue o caminho de Horus, de Lugh, segue a senda do bem-aventurado na terra. Forma parte do que ainda está por se realizar, não permitas que teu ódio, tua culpa e negatividade contaminem teu Superior, muito por cima da tua mente.


  • E lembra, lembra sempre: a mente sempre mente. A conexão é interior – como a Toltecayolt de Quetzalcoalth nos ensinou: a voz do coração, que na poesia, sem intermédio da razão vibra como canto

   

Deixa teu espírito te guiar, fala com ele na solidão de teu Horus neste deserto, da descida no cimo da Pirâmide de Viracocha ou Quetzalcoalth – de Lugh em comunhão com Brigantia. O caminho dos gêmeos espirituais: a semente e taça … 

 

Areia atiram a teus olhos sem tu saber… Limpa da tua face esse véu carregado pelo medo denso.  

 

Vibra na frequência de Lugh, voa como falcão destas pesadas cadeias para semrpe Liberto! Escreve de novo os versos de Nezahualcóyotl – vive na Toltequidade: seja tua alma receptáculo do Sol radiante.

 

Quando o voo da águia chegar: Lugh-Horus-Quetzalcoalth-Mitra-Khrisna-Cristo-Buda, contigo estarão atravesando os portões na barca de Brigantia.

 

Fotografia de Artur Alonso Novelhe

 

Artur Alonso: escritor com vários livros editados de teatro, poesia, ensaio e romance… Ex diretor do Instituto Galego de Estudos Internacionais e da Paz. Ex secretario do Instituto Galego de Estudos Celtas. Membro do Conselho Consultivo do Movimento Internacional Lusófono. Membro de Honra da Associação de Escritores.Mocambicanos na diáspora. Membro do Conselho de Redação da Revista Identidades, etc.

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