Cultura

Hieros gamos | Coca Trevisan

Belchior já afirmava que o novo é o antigo. Ele percebeu que a velocidade moderna revela tempos “atemporais”.

 

Saboreando uma leitura de Clarissa Pinkola Estés, descubro no seu livro “A Ciranda das Mulheres Sábias” o conceito hieros gamos.

 

Vem deles, claro, dos gregos e possibilita uma nova força entre a união do humano com o divino. Duas forças gerando uma terceira mais aguerrida, nascendo novas perspectivas.

 

Quem sabe uma luz vigorosa realçando um terceiro estilo de vida provando que o apocalipse trata de renovação. 

 

Uma força “decorrente da conjunção do antigo com o moderno, com o atemporal e cronológico” diz Clarissa. 

 

Um matrimônio diferente mas especial que envolve o indivíduo com a alma. 

 

Que beleza.

 

Que revigorante. 

 

Que esperança. 

 

Que equilíbrio. 

 

É o hieros gamos, que significa “casamento sagrado”, uma união entre um Deus e uma Deusa originando, quem sabe, traços do super-homem de Nietzsche. Nessa ciranda das mulheres insiro a classe masculina, ora, também queremos conhecer nossos âmagos ou como Clarissa acrescenta “a alma e o espírito esperam por você na sua floresta interior, uma mulher, a maior das maiores, sentada à beira da maior das maiores fogueiras”.

 

Florestas que representam humanidades pois não somos como árvores, novas, renascidas ou centenárias?

 

Renascendo sempre.

 

Se fôssemos tijolos as mudanças seriam inviáveis mas somos como bananeiras e quando somos “cortados”, renascemos da velha cepa e fortalecidos.

 

Já escrevi algo semelhante ao citar uma edição da Seleções, ou Planeta. Numa floresta da Alemanha árvores doentes recebem “micélio”, uma ajuda das árvores sadias através das raízes.

 

Que fantástico a tal “humanidade” da natureza…

 

Um auxiliando o próximo, como Clarissa diz, o relevante é ser velha quando jovem e jovem quando velha lembrando teses de que a mente comanda o espetáculo. Afinal não conhecemos jovens velhos e velhos jovens?

 

Passamos por isso, já me senti derrotado na juventude e por outro lado, no auge depois dos 50 anos. Estou com 61 anos e tem dias que parece que estou com 20 anos, porém há dias que pareço um defunto vivo esperando os vermes de Machado de Assis. 

 

Faz parte.

 

Mas aí vem o hieros gamos sacudir minha cabeleira exigindo uma terceira via. É quando lembro dos versos do Gonzaquinha “viver e não ter a vergonha de ser feliz…”.

 

É a bonança vencendo tempestades. 

 

É a resiliência vencendo os canhões dos malditos opressores. 

 

É…hieros gamos.

 

E quando o nefasto e arrogante se aproximar não deixe seu “Eu” sucumbir por forças estranhas. Existem outras forças por aí…

 

Os gregos estão presentes, sua literatura está nas bibliotecas e livrarias esperando uma força esticar seus braços para selecionar os livros das estantes.

 

Esses gregos…

 

Eles estão lá, esperando mais de 300 leitores…

 

Fotografia de Coca Trevisan

 

O jornalista Coca Trevisan nasceu em Santa Maria, RS. Atuou como repórter e redator nos jornais NH, de Novo Hamburgo; VS, de São Leopoldo e Jornal Alto da XV, de Curitiba. Como profissional freelancer assinou matérias em diversos periódicos. Participou de workshops e atuou em debates sobre a Indústria Cultural dos anos 1980/90. Mais recentemente, concluiu pela PUC-RJ o Curso de Extensão Origens do Existencialismo. Mantém e abastece o blog Violências Culturais. Atualmente mora em Florianópolis, SC.

 

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