Cultura

Excerto do romance Teratoma | Ricardo Pedrosa Alves

EXCERTO DO ROMANCE TERATOMA: (p. 225 a 232) (Curitiba: Editora Medusa, 2022, 364 páginas) 

 

 

Achar o Apocalipse e fazer o que devo fazer. Beber um peixe. O Apocalipse vai exterminar a existência de deus. Volto a ter o dom da palavra. Deus morre deus é o aprendizado eterno. Amor. O que será, eu determinarei. Meu pai e minha mãe estão certos. Largarey dessa vida de merda. Aceito sim a rehab, Ahab de minha baba. Fico sim nesse Instituto, podem me largar aqui que eu deixo tentar desrachar o eixo-Exu. Gostei muito de ir com meu pai para o Instituto Público (eu não sabia das torturas de lá, eu não sabia que tinha polícia política etc.). Ainda íamos visitar outras instituições, mas logo me encantei com o ar oxfordiano daquele prédio antigo. Nada havia de moderno naquela arquitetura. Além disso, naquela manhã solar, a velharia não revelava sua umidade de cascas lúgubres nas placas de tinta descolando dos andares mais altos. E como meu pai tinha deixado a decisão excêntrica totaltolamente comigo, o que me fez feliz naquele dia como nunca, imediatamente decidi. Pe. Silvestre, do alto de sua autoridade, mostrou-se absoluto em cifras muito distantes de nossas posses suburbanas. Achei que tudo estava acabado, eu não iria praquele Instituto supostamente público. E eu tinha gostado tanto daquele afastamento nórdico do mundo que começava naquele prédio defasado, mas hierático. Entrava-se por um rápido caminho entre ciprestes (pesteados, soube depois): só tínhamos acesso à rua se atravessássemos o bosque de espinheiros. Nunca descobri o caminho que, margeando a grade, levava os carros para perto do lago. Meu próprio pai, no dia do acidente que o levou – deus o tenha – me fez tampar os olhos, pirata duplo, eu no banco do carona com as duas mãos nos olhos e depois as abrindo para as estrelas ficarem piscando naquela luz que o filtro do Chevrolet diminuía, vendo enfim de um lado a rua e do outro o bosque imenso dos espinheiros-alvares. O fato é que naquele primeiro dia passamos os ciprestes e chegamos ao prédio e ao longo jardim elevado que ocultava a pocilga e o lago de pesquepague, obviamente ocultados por serem os locais de trabalho forçado dos pacientes, soube depois na própria lavagem que derrubei para os porcos e o Pe. Silvestre me fez chupar as fezes dos pratos de comida dos presos e levar pros porcos pérolos. E aquilo tudo não era mais, meu pai não podia pagar tanto. Então ele fez uma coisa inédita e recorreu a um político. O Hinça também lucrou pois se reelegeu no ano seguinte com a exigência do caráter “público” do Instituto. Pe. Silvestre, no entanto, foi mantido à frente do hospício, necessário, segundo o político, devido ao índice de 40% de loucos na população de Curitiba. No meu caso, ainda não tinha sido votada a lei, então ficou tudo pela metade, meu pai foi convencido também a fornecer notas frias da Olga Saad e o Pe. Silvestre vinha e comprava tudo em cuecas, meias e colares pros filhos dele com as moças da copa e as polacas da foto. Era bom até para a Olga Saad. E, afinal, o Pe. Silvestre era pai de família. E até eu participei da operação uma vez, numa das minhas fugas pro Sítio Cercado: meu pai mandou que eu somasse várias vezes o mesmo produto, o que não seria percebido por Pe. Silvestre, uma vez que ele era relaxado com os gastos pessoais, criava os filhos soltos e gastadores e, principalmente, o dinheiro nem era dele, pois a nota ia pros gastos de merenda e livros do Instituto Público. Enfim, todos, menos eu, saíram ganhando algum. Mas voltando: os grandes falaram na mesa do Pe. Silvestre, meu pai, o padre e o Hinça, e na semana seguinte eu fui pra lá. Eu fiquei esperando na recepção e não tinha nenhuma descrição com a singularidade de Tolstói. Eu estava mais para extasiado, fantasiando viver em paz ali – tirante as maritacas, os periquitos e as arapongas – dentro daqueles vitrais enormes. O mais legal dali é que quase não tinha doente, era mais louco mesmo. Era tipo uma fazenda lá atrás e nos fins de semana podíamos ficar soltos no capim como vacas e os cães e os cajados nos recolhiam com elas nos fins de tarde. Não tinha muito daquele papo Bicho de Sete Cabeças, não. Eu fugia mais de sem-vergonha, era fácil demais. Fugia sempre fingindo para mim mesmo que ia em busca de deus pai. A razão de deus para Inácio é o quociente deus/Inácio. Se os fatores que compõem Inácio somados chegam a um valor inferior ao valor-deus, deus é um deficiente, como o oito ou o nove, e não Inácio, que se salva via Pitágoras. Ah ah ah, teantropo de uma figa…. é incrível, mas é verdade: estamos todos, todos e todos na ambiguidade da fronteira… À língua enfim vencida, minha boca diz pau de deus goze na minha boca, gozo na minha, o pai na mão, na mãe, feras não são ferozes, embora queiram o que ferem, fazem-se coisas com que involuntariamente chorem ou com que gozem, o domador as faz coisas que penam como pensa o senhorio. Uma espécie de artista visual (adult video) trabalhando em um mural – vago e longe, nos acercamos de seus ramos, pressentimos a flora densa, espinhenta, fragmentando à luz o dia de tintas e retratos (que não vemos, mas de onde apreendemos o vário proposto como estrutura). Sua imaginação vem de imagens – paisagem da memória, pornografia, trastes do dia. Como já se matasse para pintar, passou a ejacular para pintar a pintura do seu jorro. Uma índia de calça cáqui e seios morangas de fora recebeu entre cactos Arizona um soldado fugitivo perdido acuado dispensado a passeio louro com uniforme royal montado num cavalo branco desceu fizeram-se carícias o dele era branco e fino, extenso e teso. A índia de líndios seios era havaiana de negra pelagem pubiana e plissados grandes lábios penetrada segurando a píton venada e dando a rodela até chupar mucilagem da cobra que pingava até à titta d’índia. Dormíamos, párvulo eu, meu pai em outra cama, ficava olhando seu rosto (de novo, de novo) (escrevo de novo), Vem de volta me comer. Oscular-me o cóccix. Flagelar. Solavancar. Calcar. Deixa-me rúbida, sanguífera, traz pra mim o sacrilegus, o grosseiro o dia inteiro tintando-me. Coraçãocachorro, me leva a me submeter. Se machuca, é bom. Esta é minha opinião clínica, e a dos médicos do Instituto. O diagnóstico é: você quer à força colar seus pedaços despedaçados. Ou: por outro lado: desperdiça-se no vício-Inácio de perder o achado. Machado. Fulano é macho? É machu(o)cado. Dizem que quem nasce puxado, fica broxado, fórcepszinho, vincado, espetado, “atravessasse”, vazado, estropiado. Para quem quer pagar os pecados em vida, machucar-se é bom, são. Morrer, então… veja: bye-bye pleural. Fluxo mucoso dos brônquios, parada a baga globosa do olhar (a única certeza, não se saiu do lugar), tristeza terebrante nos poros, fórceps e lobotomia, beleza só se perdida, dispo-me para deus e os humanos, estupram a língua tantos tropos, sida, hepatite b, mononucleose infecciosa, herpes, condilomas acuminados, micoplasmas, clamídias, então, insidiosamente, ouço, “ah meu amigo amiga! Você que pode estar preso em um quarto, com depressão, você está gostando  mais da escuridão do que da luz. E nunca mais estará o meu povo ao vosso alcance, Mal. E deus promete trazer este grande livramento pra você. Você pode ligar e participar. O diabo falava: não adianta você lutar. A fé traz insistência, é a convicção de fatos não vistos. A pessoa quer o livramento, mas ela não busca. Não tem coragem de sair de casa e ir em nossos templos, não é, pastor? A pessoa tem que ir de coração aberto. Não só basta a pessoa ficar em casa. Isso não vai mudar sua vida, não. Tem que ir ao templo”: sinapse pornô-cristã entre nosso senhor (ofídio predador, manopla priápica, robalo sulfúreo, esporão sagital, rapagão prolongado) e nossa senhora (granja pulcra, racha sedosa, naquele setor orificium, redemunho). A experiência do sim ou do não. Aceita-se o passado. E o presente o vai filtrando, o reescrevendo. Assim nunca o passado está pronto. Ele é o mais longo dos tempos. E o que sempre recomeça. Não há presente, mas passado a se reatualizar. Não olhar para a frente não é opção, é imposição do passado que sempre rola de novo para o chão. Lá embaixo, o recomeço. Lá no alto não é uma meta, sabemos a que preço, e voltamos e voltamos e o útero (quando eu era só zigoto, depois o leite azedo virou meu corpo) nos deixou e o seio nos deixou e o beijo do pai nos deixou e a morte chega e devasta tudo e ensina o valor dadá da vida e mostra que a vida vale nada, vale um troco de bosta. Deus, o não-mestre, ensina a fazer certo o errado. Me abriga, agora, me põe do seu lado, não-escravo, quaseamado. Transfere o reinado, mas não entrega o osso, ainda sua salvaguarda. Alerta, deus Inácio desperta. Degolarei um hilota e lhe trarei, de um branco o escalpo também. Se o faço rei, sou rei. Se me humilho, me elevo, torno meu seu relevo, seus pelos, torno-me ele, inteiro. Mesmo em seu seio, meu seio próprio me torno. Tomo meu recheio. Pintar a galope, disparadacusparada. É um cavalo que se pode, sim, cavalgar, embora por cavalgado não deixe de cavalo ser. Eu gastei exatos 50 minutos. Eu tranquei a porta do quarto, tirei a calça, liguei o ex-poeta-dor (?parcialmente ilegível?), tomei a Skol grande que o Mané Bispo contrabandeou, sentei-me, enforquei um mato, acendi o eco, pus o CD-ROM 5 horas de garanhõesXninfetas. Fiquei vendo o filme, fui até o frigobar da sala de reuniões, pegay a margayrina, uma colher de pau, abri a gayveta, pegay um marcador de quadro branco Pilot, da minha colecção de cascos de cerveja one-way pegay a Sol, sem papel no gayrgaylo, e, vendo o filme, abri o cós, passei margayrina e fui fodendo da menor para a maior circunferência, até que, me mastranstornando ao ver na tela o talo imenso e negro o casco de cerva no rabo, gazela gozasse (seguro o homem que te mete o muito). Tenho dores agora. !eu vi o que há lá!vi como é do lado de lá!um aquário verde, com luz, água, escorrendo pelas paredes, não há a noção de temperatura, como numa exposição de répteis, vários tons de verde, e não há vento, nem faz calor nem frio!!!!sempre surge uma mulher branca, vestida de vampira e aí vem o vento e dissipa o pensamento, entra o ruído dos carros e seus estacionamentos!!!o pai, quando soube do falecimento de Inácio, ficou pensando “coitado, que vida triste, o idiota” “meu filho amaldiçoado” ou “que fiz para tanto?, culpa minha?” ou ficará, como Inácio, num canto nu de um sanatório, escrevendo para morrer?, um livro chamado (O Mural até anoitecer) O Livro de Sagitário: escrito assim: Inácio não existe. Eu apenas usei o meu corpo, o seu físico, para transmitir uma ideia. Onde começa a ficção do diabólico personagem Inácio?: esta dúvida terrível é o grande suspense de O Exorcismo Negro de Teratoma. Inácio seria apenas uma possessão demoníaca no trabalho de Ricardo Pedrosa Alves? Seria uma encarnação do demônio fixada no trabalho do pintor de murais? O desespero de um homem lutando para livrar-se da demonológica encarnação de seu personagem. Zé Inácio do Caixão pela 1ª vez enfrenta um oponente tão poderoso quanto ele próprio: o homem que o criou. Um duelo entre o homem e a força de sua mente. A terrible luta íntima do kineasta/pintor para livrar-se do personagem que criou e interpretou em vários dos seus filmes/murais. Direção: José Ricardo Pedrosa Alves Mojica Marins. No 1 xhiqueirinho depois da Ala B, não uma árvore que paira, sem asa ou pausas, mas animalzinho mau, mascarado, via na pedrela, uma xotin piscan procês pramim. Por que os dados não têm paciência? Por que o norte traz ilusões? E as flores não têm consciência de que nos causam emoções? O mau inferno podia ficar bom purgatório. Fugitivos, discutiam quando do acidente, o Chevrolet na estrada, o pai pra fora  estirado na flora, Inácio sai vagando sonâmbulo entre galhos, uma pérgola em gala, pérgula, um túnel (o corredor do ambulatório) em que da floresta se entra na terra, cava-se terra, cava-se o corpo, Inácio entra vivo no mundo nadir dos mortos, no de todo morto. Desliza, Inácio era uma mão em volta de um pau decepado, digo, sem radiais no corpo, Inácio era aquela mão morta indo e vindo, deslizando em desleixo, delícia sim descia para o nadir, nadir que expulsava sêmen, assim, isso, nadir que exalava creme nata, flocos de pseudo-gente, Inácio assim pensava não ser parente do pai, o pai que era um fóssil eixo de Inácio. O pintor que pintou sua morte. Levou uma cara fazendo tal ócio. Fazer-me também fóssil, comer-me indo ao osso. Inácio, um pouco eu, um pouco qualquer moço. O pai, lembrem-se, injusto, troçando muito, achando pouco. Pelo pai, Inácio de borco. Nossa, que vontade me deu agora de ir ali do lado agora mesmo e esganar meu velho até pedir um arrego; não lhe daria. Consciente, eu seria imbatível. Última ponta. Agora, apenas temível, cambaleado. Claro que os cachorros morrem aos poucos. Atropelados: era em câmera lenta. Como eu posso ter desejado o esgoto? O ser e o tempo do lixo. Agora que morri, eu não quero morrer de novo. Eu não quero morrer ainda. Quero viver mais um pouco. Atingir a saúde e a sabedoria selvagem dos ex-loucos cantando como enamorado até o fim da minha parolagem santa e rubra de dançar a sanha. Eu só quero subir, subir, atingir a quina donde caí, sair daqui. Eu quero o claro, o vivo caos, o divino alvo. Já me salguei com todos os salmos guris. Um fim, então. Um fim, então não explicarei. Sairá tudo no suor e no esperma, não sou gélido. O ar tomou conta de mim. A vida disse seu sim: paraíso vai-vim sim. Os peixes entraram em meus olhos. Agora eles nadam sobre agruras lépidos. Sairá tudo na ourina, beijo sua lâmpada amarela. O fogo se extinguirá, como se extingue uma criança. Agora somos todos maus. Agora podemos ser bons. Eu não falo mais de Inácio, ele sumiu de meus sonhos. Foi substituído por um assalto: estamos eu, a doutora Gleuza Salomon e o Campana numa loja de conveniências num posto. Comemoramos minha fuga “saída pela direita”. É noite, e o ar está limpo, não caiu neblina, nítido, o Campana come um cachorro-quente, a Gleuza comenta a nossa Gazeta e dois assaltantes me matam no assalto à loja. Sou levado para a cabine telefônica e de lá telefono, sangrando como carne vermelha, não sei para quem, não sei por quem. Fim. Intenso pavor. Transe trincado. Espelho de elevador. Embaçado. Quando quero, me refugio no lago-irrealidade. Saio, deslizo num espelho de morte, fora do tempo, sensualidade da inconsciência. Depois, choques de realidade: óbito do observador. No trânsito, desvio dos acontecimentos, depois estaciono na 24 horas comprar revista masculina. Eu via em priscas eras era Beatriz-e-atroz sentindo no nada seus pelos nos meus no chuveiro os acariciava como se seus pelos no ar na minha cara me sufocando me agarrava na cortina caía no box meu pai e um amigo deus vieram me socorrer, lavaram-me o sangue depois levaram-me ao box (de onde, suponho, nunca deveria ter saído) e me lavavam o sangue respingava na camisa branca deles enfermeiros siameses me levaram passear de carro – eu ia morrer mesmo – num Instituto Público iam me largar lá eu segurei o volante pro outro lado matei meu pai num assassinato num acidente de Chevrolet ele caído meio corpo pra fora do auto dizia coisas inaudíveis eu saí, me limpei dos cagos e cacos de vidro açúcar cristalizado me lancei contra os arbustos espinheiros alvares uma trilha entre sombras, árvores e esquilos atravessando sombreiros pérgulas indo longe até um não-aqui, digo longo-longe até o nadir. Vi que o amigo deus do meu pai estava ali, a perna sangrando um pouco: como ele saiu sem que eu o visse? Começa a me contar, depois de me pedir “Põe mais um pouco de açúcar no meu café; não gosto da vida amarga, da vida como ela é (bis). Quem se lembra da história? Você talvez não se lembre, Inácio, mas eu estive na sua casa e presenciei o seguinte: Inácio era jovem e ordenhava sempre uma égua. Um dia, ia levar uma jovem potranca ao jogo de basquete. O pai – sempre – mandou que, antes, Inácio ordenhasse sua mãe. Saiu com bosta de vaca no carro com a garota, e aí… ficou pensando na vida e achou que iria morrer. O corpo sempre em transe de trâmites lentos, devagarinho tremor, e a dor um sinalzinho de agulhinha numa parte qualquer do corpo – elas alternavam como moradadador. Dores pluripuriputanas. Muitas que enganavam o cérebro com caras de anjos castíssimos. Você se lembra disso. Então, quando você for pintar o quadrão Ala B paredes descascadas precisei lixar tudo eu me arrepiava umas horas meu pai insistia que eu raspasse, era o fogo sobrevivente da família ali, cheio de tinta na cara, lembrando e inventando e omitindo e onde eu mais sabia era que não sabia fazer o livro sobre nada que seu pai disse que você estava fazendo, lembra de incluir essa história…”. Inácio depois pintava por prazer e na punctura estava o seu ser: o ritmo pontilhado – fazia o trote de um cavalo com a língua tilintando no céu da boca – a fala inflada de urgência de suicida – as mudanças bruscas – Heráclito (às avessas) relê Hegel legal – de tom, atitude, conveniência – Nietzsche. Gostava muito, pra caralho mesmo, de citação. Meu deus! Copiava os outros se construindo de retalheios. Parecia que não ia morrer nunca se ficasse sempre neste Canto, mas viu que um dia a lagarta, numa manhã cinza, numa floresta reciclada por pinheiros, lagarta de listras amarelas, velha subindo entre galhinhos tímidos filhos do tronco, viu que caiu a lagarta e, no chão, se debatendo, veio um cão (era um cão um cãozinho que falava alemão; era não, não um zinho que zoiava ‘sombração; era rio e era terreno, era grande e bem pequeno; era longe e ainda é longe, e esquema; era incêndio e agora esquema; era espuma, esperma, esfinge, esgrima e agora esquema; era fome, enigma-fome, terra, terra-sem-nome; era sem rumo, menos o rei, menos o reino; era sim, era no outro reino; era perto do início, antes do meio; era o livro de pré-palavras, era o livro de um pobre; era sujo e era manchado e ainda esquema) caramelo lindo e a matou com a pata, depois foi chorando pro enfermeiro. Pensa que o que eu disse é verdade? Talvez seja.

 

Fotografia de Ricardo Pedrosa Alves

Ricardo Pedrosa Alves (1970) é professor universitário e pesquisador de literatura. Publicou os livros de poesia Desencantos mínimos (Iluminuras, 1996), Barato (Medusa, 2011), Poemas baseados (Kotter, 2018), Algo chega tarde demais (Medusa, 2020), Vagau (Olaria Cartonera, 2021). Teratoma (Medusa, 2022) é seu primeiro romance.

 

Qual é a sua reação?

Gostei
0
Adorei
2
Sem certezas
0

Também pode gostar

Os comentários estão fechados.

More in:Cultura