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Editorial: o triunfo do bezerro de oiro | Henrique Dória

EDITORIAL: O TRIUNFO DO BEZERRO DE OIRO

 

Dois dos acontecimentos mais relevantes para o mundo, neste ano sofrido de 2022, tiveram lugar em dois países islâmicos: a Cimeira do Clima, COP27, no Egito, e o Mundial de Futebol no Qatar.

O que têm esses países em comum além de serem países islâmicos?

Essencialmente, quatro aspetos: 

O primeiro é serem duas ditaduras. O Egito uma ditadura militar altamente repressiva e criminosa, o Qatar uma ditadura monárquica mais suave mas igualmente ditadura.

O segundo é serem ambos países ligados aos lóbis do gás e do petróleo, de que dependem as suas economias, sobretudo a economia do Qatar. 

O terceiro é serem ambos países traidores à causa palestiniana, sendo que a clique militar que governa o Egito foi imposta por um golpe orquestrado por Israel e pelos EUA contra um governo legitimamente eleito.

O quarto é serem ambos dominados por regimes altamente corruptos e corruptores.

Só através da conjugação destes aspetos se compreende a realização da COP27 e do Mundial de Futebol nesses países.

Quanto ao Qatar, é sobejamente conhecido como a FIFA e, particularmente os Srs, Blatter e Platini, entre outros, foram corrompidos com milhões para que o Mundial se realizasse num  pequeno país, que poucos praticantes de futebol tem e que, depois do Mundial, vai destruir a maior parte dos luxuosos estádios construídos através de muito esbanjamento e da morte e da escravidão de milhares de trabalhadores.

Já no que toca à COP 27, a corrupção é menos notória, mas ela não deixou de existir através do tráfico de influências da clique militar egípcia mas também de Israel e dos EUA. 

Tudo, a começar pelos assassinatos e pelas prisões em massa levadas a cabo pela ditadura militar egípcia, fazia com que esse país não fosse escolhido por uma organização que tem inscrita na sua Carta de princípios a defesa dos direitos humanos, da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Mas a corrupção material e moral triunfou. O dinheiro do petróleo e do gás, dois dos maiores inimigos do clima, mostrou a sua eficácia. 

Nada aconselhava a que a FIFA escolhesse um país tão pequeno e futebolisticamente irrelevante, um país que viola sistematicamente os direitos das mulheres, dos trabalhadores e das minorias como o Qatar para organizar o Mundial de Futebol. 

Mas era necessário que os dois países comprassem a realização desses dois eventos para lavarem a sua face repulsiva perante o mundo.

E para Israel e os EUA dizerem ao mundo que esses seus dois seus desprezíveis mandaretes eram países respeitáveis.

Não espanta, por isso, que da COP27 saísse uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, e que o Mundial do Qatar só servisse para o desprestígio da FIFA e do futebol.    

Tudo isso se passa não longe do Monte Sinai, onde Moisés aniquilou os adoradores do bezerro de ouro. Em 2022, no Egito e no Qatar, os adoradores do bezerro de ouro triunfaram. 

A palavra Islão significa submissão. O mundo submeteu-se não a Alá mas ao bezerro de ouro.

 

HENRIQUE DÓRIA

 

Fotografia de Henrique Dória

 

BIOGRAFIA: É advogado e colaborou no Diário de Lisboa Juvenil e nas revista Vértice e Foro das Letras. Tem quatro livros de poesia e três de prosa publicados. É diretor da revista online incomunidade.com, e da radiotransforma.




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