Soneto com cor-de-laranja
Achada de Chão Bom se achou
Lugar de forma ou degredo
Onde o alcatraz se agitou
Por abrigar tal segredo
E se fez escudo imperante
De pranto e gritos mais
Por certo, lugar constante
Área aberta de covais
A Chão Bom do Tarrafal
Areia por cinza se coa
Fã siderurgia seminal
Não há céu, não há pessoa
Transverso é tanto, o sal
E água que dos olhos escoa
Soneto com amarelo claro
Do mar, grande preposição
Vem a carga e o espadachim
Mais a chuva e o vento cão
Mosquitos e febre ruim
No peito, um largo aperto
De torno, prego de aranha
Finca tanto desacerto
Marca angústia tamanha
De maus tratos é o uso
Isolamento sem nau
Humilhação, osso-abuso
Ao anticolonialista mau
Ao opinante obtuso
E às palavras sem grau
Soneto com azul petróleo
Em cada barraca de pano
Estão doze homens de lado
A morte é lenta por ano
Num corpo acabrunhado
Nenhuma prisão tem flor
Se o casulo é qu’agrilhoa
Oficina de queimor
Sem junco posto na proa
Apodrece a lona molhada
Arrefece a alma vazia
Mesmo em parede pedrada
Nem um sonho haveria
Nem uma cara lavada
Ou uma frase bravia
Soneto com negro rosa
Entrando para o abismo
P’lo entreferro batido
Não há sombra, não há sismo
Apenas nome esquecido
Se na frigideira absoluta
A morte é feita aos bocados
Os que resistem são luta
Ou antes uns cães danados
O que vai no pensamento?
Vão duas maçãs rosadas?
Um sopro do barlavento?
Fugir com as mãos atadas
Certidão de casamento
Sonhos suando às bagadas
Soneto com vermelho vivo
Fazem a estátua de pé
Os joelhos em quebranto
Se vacilam em maré
Vem o castigo entretanto
Se rangem ou adormecem
Chega a pancada ufana
Martírio, todos padecem
Rezar é tese profana
E quando urinam carmim
Adivinham sua morte
De todo o lugar sem fim
É chegado o passaporte
E toca alto o clarim
Para o caixão de recorte
Alice Caetano: Formação académica: Curso professores do 1º ciclo pela Universidade de Aveiro.
Licenciatura em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de ciências da Educação de Lisboa.
Profissão – professora do Primeiro Ciclo.
Livros publicados:
Poesia: “Depois do Ninho, a Água”; “Transmutações”.
Prosa poética: “Maçã de Zinco”.
Poesia, teatro e conto – “Espelho Convexo” (recomendado por Francisco Louçã).
Histórico-Biográfico: “Palco Sombrio – Guiné – Guerra Colonial e Actos Cénicos” (recomendado por Francisco Louçã).
Livros em coautoria:
“Arranja-me um Emprego – crónicas e poesia para salvar o dia” – Editora Versbrava.
“Orgânico – Cinco Poetas, a mesma causa” (livro com carácter social) – Edição de autor.
“Xafir e a Feiticeira do Pântano” (infantil) – Alfarroba Publicações.
Participação na Antologia da Moderna Poética Portuguesa.
Participação em iniciativas do Movimento Democrático de Mulheres – MDM – com textos temáticos.
Membro do júri do Concurso “Aveiro Jovens Criadores”.
Poemas traduzido para italiano e publicados nas revistas Emergenza Climatica e Articoli Liberi.
Publicada pelo Jornal literário “RelevO” de Curitiba.
Realização de programas de rádio local de âmbito literário.
Escrita de prefácios em diversos livros de poesia.
Colunista na imprensa regional com artigos de opinião e crónicas políticas.
Segunda vencedora do 1º concurso de literatura polaco-português.
Distinguida pela Direcção Regional de Cultura do Centro como mulher de destaque no panorama cultural da Região Centro.
Elemento da Direcção do Grupo Poético de Aveiro.
Elemento do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal Manuel Alegre em Águeda.