Cultura

Carmen Miranda: a portuguesa com coração brasileiro que mostrou o Brasil ao mundo | Wesley Sá Teles Guerra

Carmen Miranda, nascida Maria do Carmo Miranda da Cunha, em 9 de fevereiro de 1909, em Marco de Canaveses, ao norte de Portugal, foi uma cantora e atriz naturalizada como brasileira e que se tornou um ícone da cultura pop mundial. Carmen Miranda se mudou para o Brasil ainda na infância e, ao longo de sua carreira artística, ajudou a popularizar a música brasileira e a cultura do país para o mundo.

 

Carmen Miranda começou sua carreira no Brasil na década de 1920, se apresentando em programas de rádio e atuando em filmes musicais. Seu estilo exótico e colorido, com roupas extravagantes, chapéus frutados e sapatos plataforma, logo se tornou sua marca registrada. Carmen se destacou não só por seu talento musical, mas também por sua habilidade como atriz cômica, fazendo sucesso em filmes como “Alô, Alô, Brasil” (1935) e “Banana da Terra” (1939).

 

Em 1939, Carmen Miranda foi convidada para se apresentar na Broadway, em Nova York, onde se tornou um grande sucesso. Sua apresentação no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, chamou a atenção do empresário americano Lee Shubert, que a convidou para se apresentar em seu teatro na Broadway. Carmen se tornou a primeira artista brasileira a se apresentar na Broadway e rapidamente conquistou o público americano.

 

Em Hollywood, Carmen Miranda se tornou um grande sucesso, estrelando em filmes como “Down Argentine Way” (1940) e “That Night in Rio” (1941), onde mostrou seu talento musical e sua habilidade como atriz. Seu estilo único e exótico se tornou uma sensação em todo o mundo, e ela se tornou uma das primeiras celebridades latinas a ter um grande impacto na cultura pop americana.

 

O sucesso de Carmen Miranda ajudou a promover a música brasileira e a cultura do país em todo o mundo. Sua música, conhecida como samba, foi um dos principais estilos musicais que ajudaram a definir a identidade cultural do Brasil. Seus sucessos incluem “O Que É Que a Baiana Tem?” e “Tico-Tico no Fubá”, que ainda são populares até hoje.

 

Carmen Miranda também desempenhou um papel importante nas relações entre o Brasil e Portugal. Ela foi uma das primeiras artistas brasileiras a se apresentar em Portugal, ajudando a promover a música e a cultura do Brasil no país de sua origem. Além disso, Carmen Miranda se tornou um símbolo da comunidade brasileira em Portugal e ajudou a fortalecer os laços culturais e diplomáticos entre os dois países.

 

No final da década de 1960, Carmen Miranda foi redescoberta pelos artistas do movimento tropicalista, que a viram como uma figura inspiradora que ajudou a popularizar a cultura brasileira em todo o mundo. O tropicalismo, um movimento cultural que surgiu no Brasil na década de 1960, valorizava a mistura de diferentes culturas e estilos musicais, algo que Carmen Miranda personificava em sua música e estilo de vida.

 

Embora Carmen Miranda tenha sido amplamente celebrada por suas realizações artísticas e culturais, sua imagem e legado foram objeto de algumas controvérsias e críticas.

 

Uma das principais críticas a Carmen Miranda é a de que ela perpetuou estereótipos culturais e raciais em suas apresentações, especialmente em suas performances em Hollywood nos anos 1940. Alguns argumentam que ela foi forçada a se apresentar de maneira exótica e caricatural para agradar aos gostos americanos e atender às expectativas dos produtores de cinema. Isso levou a acusações de que Carmen Miranda teria ajudado a reforçar os estereótipos de que todos os brasileiros usam roupas tropicais exageradas e adoram dançar samba.

 

Outra crítica comum a Carmen Miranda é que ela foi vista como uma figura cínica e comercial, cujo sucesso na indústria do entretenimento foi baseado em uma exploração superficial da cultura brasileira. Alguns argumentam que ela não fez o suficiente para promover a cultura e a música brasileiras fora dos Estados Unidos e que ela não era uma representação autêntica da cultura do Brasil.

 

Além disso, há quem argumente que Carmen Miranda era uma figura controversa em relação à sua identidade brasileira. Enquanto alguns a consideram uma embaixadora da cultura brasileira, outros a veem como uma artista que não estava realmente conectada com as raízes culturais do país.

 

Apesar dessas críticas, muitas pessoas argumentam que Carmen Miranda foi uma figura importante na história do Brasil e da cultura pop mundial, tendo ajudado a popularizar a música brasileira e a cultura do país em todo o mundo. Sua música e estilo continuam sendo influências importantes para muitos artistas até os dias de hoje.

 

No entanto, ela também manteve uma forte conexão com suas raízes portuguesas e frequentemente incorporava elementos da cultura portuguesa em suas apresentações. Um exemplo disso é a música “Coimbra” (1946), que Carmen Miranda gravou e que se tornou um sucesso no Brasil e em Portugal.

 

Ao longo dos anos, muitos outros artistas brasileiros e portugueses têm colaborado e influenciado uns aos outros. Um exemplo notável é o poeta português Fernando Pessoa, que teve uma grande influência sobre os modernistas brasileiros na década de 1920. Sua obra foi celebrada por escritores brasileiros como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, que ajudaram a trazer suas ideias para o Brasil.

 

Outro exemplo é a música popular brasileira, que tem sido influenciada pela música portuguesa. Um exemplo é a canção “Tiro Liro”, do compositor brasileiro Dorival Caymmi, que foi inspirada em uma melodia portuguesa tradicional.

 

Mais recentemente, a cantora portuguesa Mariza tem colaborado com músicos brasileiros em suas apresentações e gravações. Ela gravou uma versão da música “Meu Fado Meu” com o cantor brasileiro Seu Jorge, misturando o fado português com a música brasileira.

 

Além disso, a literatura também tem sido uma área importante de intercâmbio cultural entre Brasil e Portugal. O escritor português José Saramago, por exemplo, viveu no Brasil por alguns anos e teve uma influência significativa sobre os escritores brasileiros. O escritor brasileiro Paulo Coelho também é popular em Portugal, tendo vendido milhões de livros em todo o mundo.

 

Esses são apenas alguns exemplos de como a relação cultural entre Brasil e Portugal tem evoluído ao longo dos anos. Apesar das diferenças culturais e históricas entre os dois países, há uma rica tradição de colaboração e troca cultural que continua a inspirar artistas e escritores de ambos os países até hoje.

 

Bibliografia: 

Moura, R. (2014). Carmen Miranda: A brasileira mais popular do século XX. São Paulo: Companhia das Letras.

 

Veloso, C. (1997). Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras.

 

Martins, M. (2018). Portugal e o Brasil: a história das relações culturais. Lisboa: Caleidoscópio.

 

Mattos, R. (2018). Fado, samba e bossa nova: história e cultura de Portugal e Brasil. São Paulo: Editora 34.

 

 

Fotografia de Wesley Sá Teles Guerra

 

 Wesley Sá Teles Guerra, formado em Negociações Internacionais pelo Centre de Promoció Econômica del Prat de Llobregat (Barcelona), Bacharel em Administração pela Universidade Católica de Brasília, Pós-graduado em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, MBA em Marketing Internacional pelo Massachussetts Institute of Business, MBA em Parcerias Globais pelo ILADEC, Mestrado em Políticas Sociais com especialização em Migrações pela Universidade de A Coruña (Espanha), Mestrado em Gestão e Planejamento de Cidades Inteligentes (Smartcities) pela Universitat Carlemany (Andorra) e doutorando em Sociologia e Mudanças da Sociedade Contemporânea Internacional. 

Atuou como paradiplomata e especialista em cooperação internacional e smartcities para a Agência de Competitividade da Catalunha (ACCIÖ – Generalitat de Catalunya), atualmente é colaborador sócio do Instituto Galego de Análise e Documentação internacional (IGADI) e do Observatório Galego da Lusofonia (OGALUS), Também participa como coordenador da área de Economia, Ciência e Tecnologia do CEDEPEM – UFF.

Idealizador e diretor do CERES – Centro de Estudos das Relações Internacionais, membro do Smart City Council, do IAPSS International Association for Political Sciences Studentes, do Consório Europeu para a Pesquisa Política, REDESS, Centro de Estratégia e Inteligência das Relações Internacionais e colaborador da ANAPRI.

Autor dos livros”Cadernos de Paradiplomacia” (2021) e “Paradiplomacy Reviews” (2021) além de participar do livro “Experiências de Vanguarda, no ensino nos países lusófonos” publicado em 2021 pelo CLAEC e organizado pela Dra. Cristiane Pimentel. 

Professor, articulista e especialista: wesleysateles@hotmail.com

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