Para Rosarivo*
Toda obra literária tem uma estrutura e possui, como ideal supremo, sacralizar-se, tornando-se O Livro. Sob o ponto de vista de um escritor, a maior missão de um escritor é fazer-se literatura, tornar-se literatura. Escrever bem qualquer um consegue. O diferencial é conseguir metamorfosear-se em O Escritor, transformar-se em matéria-prima de lendas, em homem santo da religião sem deus dedicada à adoração do hegeliano espírito da literatura, entronizar-se como Filho do Absoluto.
Esta obra literoplástica tem o essencial de um livro: duas manchas de páginas. O espaço em preto, diria o poema-práxis. Em Ovo Alquímico, no conto O Naufrágio, o Sobressimbolismo usou sinais de pontuação em lugar de frases. Agora, produzimos um livro sem frases, com um não-texto como texto. Como o significante Saussuriano, é uma forma que significa. Um produto sem estrutura ou técnica convencionais. É mais um invariante universal absoluto, um objeto eidético, porque todos os livros têm uma mancha e esta, segundo Rosarivo, é portadora do número de ouro, do número secreto que decodifica e contém todos os demais.
O Livro Que Não É torna-se mais real porque seu título forma um dístico ou uma epigrama.
Ou seja, o título e as manchas são tudo que há no livro, figura de linguagem chamada de elipse. Mas todo título é um abstract, um resumo. Assim em O Livro Que Não é, o título é seu roteiro, sua trama, seu personagem e sua história, com as unidades de ação tempo e lugar do teatro clássico. O Lugar é o livro, seu tempo é o da edição e a ação é a que você está lendo à Baudelaire, leitor hipócrita, meu igual, meu irmão.
*Raúl Mario Rosarivo (nascido em 1903, em Buenos Aires, Argentina – 1966) foi um tipógrafo argentino, pesquisador, designer, poeta, pintor e ilustrador, conhecido por seu trabalho na análise das Bíblias de Gutenberg. Ele ocupou o cargo de Diretor Geral dos Trabalhos Gráficos da Província de Buenos Aires.
Rosarivo, em sua Divina Proporção Tipográfica, publicada pela primeira vez em 1947, analisou livros renascentistas com a ajuda de régua e compasso e descreveu o uso do “número de ouro”, pelo qual ele descobriu a proporção de 2: 3, em livros produzidos por Gutenberg (bem como Peter HYPERLINK “https://pt.qwertyu.wiki/wiki/Peter_Sch%C3%B6ffer”Schöffer , Nicolas Jenson e outros). Segundo o próprio Rosarivo, seu trabalho é a afirmação de que Gutenberg usou o “número de ouro” (ou “número secreto”, como Rosarivo também chamou) para estabelecer as relações harmônicas entre as diversas partes de suas obras impressas. Seu livro foi analisado por especialistas do Gutenberg Museu e republicado no Gutenberg Jahrbuch, sua revista oficial.
( Wikipedia)
OSCAR GAMA FILHO, escritor capixaba, nascido em 1958, busca captar a essência dos momentos estéticos justapostos, passados e presentes. Por meio da soma de seus diversos pontos de vista, tenta atingir a completude da arte. Eis um esboço da equação passada:
Esforçou-se por alcançar a essência do poema em De Amor à Política (Vitória: edição marginal mimeografada, 1979, obra dividida meio a meio com Miguel Marvilla); em Congregação do Desencontro (Vitória: Fundação Cultural do Espírito Santo, 1980); em O Despedaçado ao Espelho (Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida/UFES, 1988); em O Relógio Marítimo (Rio de Janeiro: Imago, 2001) e em Ovo Alquímico, escrito com seu filho Alexandre Herkenhoff Gama (São Paulo: Escrituras Editora, 2016).
Procurou o tempo perdido em obras como História do Teatro Capixaba: 395 Anos (Vitória: Fundação Cultural do Espírito Santo/Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1981) e Teatro Romântico Capixaba (Rio de Janeiro-Vitória: Instituto Nacional de Artes Cênicas/Ministério da Cultura, Departamento Estadual de Cultura, Secretaria de Estado da Educação e Cultura, Governo do Estado do Espírito Santo, 1987).
Precisando de outras línguas para auxiliá-lo em sua tarefa, traduziu-se para Rimbaud em Eu Conheci Rimbaud & Sete Poemas para Armar um Possível Rimbaud mesclado com O Barco Ébrio/Le Bateau Ivre (ensaio-tradução-conto-poema, Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida, Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento Estadual de Cultura, 1989).
Acrescentou sabedoria à sua equação graças à Razão do Brasil em uma sociopsicanálise da literatura capixaba (Rio de Janeiro: José Olympio Editora; Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1991).
Percebendo a insuficiência da ótica literária, realizou a exposição de arte ambiental poético-plástica Varais de Edifícios, em 1978, a partir do conceito criado por Hélio Oiticica.
Como compositor, criou o disco Samblues, lançado em 1992 pelo Departamento Estadual de Cultura, e incluído no selo histórico Série Fonográfica do Espírito Santo.
O CD Ecos de Sereia, de Elaine Rowena, possui cinco composições suas.
Escreveu o libreto de Canoeiros do Santa Maria, opereta do virtuose Maurício de Oliveira. O interessante é que Maurício achou a primeira versão muito vanguardista, e pediu para que fosse escrita uma história de amor, que é a letra citada em sua biografia, escrita por Marien Calixte, em O Pescador de Sons.
Suas canções foram apresentadas nos shows O Barco Ébrio (1989) e Samblues (1992), produzidos por ele.
Em 2005, lançou o CD Antes do Fim-Depois do Começo, que contém músicas em parceria com Mario Ruy e em que aparece pela primeira vez o invariante eidético universal absoluto: o Ovo Alquímico. As músicas foram executadas pela Ovo Alquímico Samblues Band.
Mas era pouco: dirigiu suas peças A Mãe Provisória, em 1978, e Estação Treblinka Garden, em 1979. Miguel Marvilla encenou seu poema dramático Onaniana, em 1990.
Foi escolhido por Afrânio Coutinho para escrever o verbete Literatura do Espírito Santo em sua Enciclopédia de Literatura Brasileira (Oficina Literária Afrânio Coutinho/Fundação de Assistência ao Estudante, 1990), na qual mereceu inclusão como escritor.
Citado como escritor e crítico na História da Literatura Brasileira, de Carlos Nejar (São Paulo: Leya, 2011), honra que se repetiu na 3ª edição da mesma obra, pela Editora Unisul, em 2014.
Assis Brasil também lhe concedeu verbete em A Poesia Espírito-santense no século XX (Rio de Janeiro, Imago; Vitória, Secretaria de Estado de Cultura e Esportes, 1998).
Participou de todas as antologias de escritores capixabas publicadas nas duas últimas décadas, entre elas: Panorama das Letras Capixabas (organizada por José Augusto Carvalho, na Revista de Cultura-UFES. Vitória, Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1982); Poetas do Espírito Santo (organizada por Elmo Elton. Vitória, UFES/ Fundação Ceciliano Abel de Almeida, Prefeitura Municipal de Vitória, 1982); Torta Capixaba II (Vitória, Academia Espírito-Santense de Letras, 1989); Palavras da Cidade (poemas. Vitória, Prefeitura de Vitória, Secretaria Municipal de Cultura e Esportes, 1990); Palavras da Cidade (contos. Vitória, Prefeitura de Vitória, Secretaria Municipal de Cultura e Esporte, 1991); De Amar e Amor (poemas organizados por Jorge Solé. Vitória, Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1992); Escritos de Vitória (crônicas. Secretaria Municipal de Cultura e Esporte, Prefeitura Municipal de Vitória, 1993); Escritos de Vitória — bares, botequins, etc. (conto. Prefeitura Municipal de Vitória, Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo,1995); Daqui Mesmo — 34 Poetas (seleção e apresentação de Reinaldo Santos Neves. Vitória, Rede Gazeta de Comunicações-UFES, Coleção Nosso Livro, Suplemento especial de A Gazeta, novembro de 1995); A Poesia Espírito-Santense no Século XX (antologia. Organização, introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro, Imago; Vitória, Secretaria de Estado de Cultura e Esportes,1998).
Colaborou em diversos jornais brasileiros, entre eles Folha de São Paulo, Zero Hora, Suplemento Literário de Minas Gerais, A Gazeta e A Tribuna.
Orgulha-se, especialmente, de A Essência da Poesia, publicado na Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras (Rio de Janeiro: Fase VII, outubro-novembro-dezembro de 1996, Ano III, nº 9, p.48). Assim como de As Metamorfoses do Homem, também estampado na Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras (Rio de Janeiro: Fase VIII, abril-maio-junho de 2015, Ano IV, nº 83, p.191).
Pertence à Academia Espírito-santense de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
Como psicólogo clínico, foi coordenador e fundador do Serviço Psicológico da Sub-Reitoria Comunitária da Universidade Federal do Espírito Santo desde a sua criação, em 28/4/1986, até solicitar a sua exoneração, em 4/11/95. Em 2003, a Desportiva Capixaba o contratou como psicólogo, tendo participado da subida do time da segunda para a primeira divisão e da conquista do vice-campeonato da Copa Espírito Santo de futebol. Solicitou sua demissão em janeiro de 2004.
Sua excursão argonáutica mereceu os seguintes comentários:
Assis Brasil (A Poesia Espírito-santense no século XX, p. 210): “a poesia de Oscar Gama Filho, em especial seu quarto livro, de 1988, O Despedaçado ao espelho, é de feição original, recursos técnicos e de linguagem personalíssimos, num momento em que voltamos ao academicismo das fórmulas, das costumeiras metáforas e… do soneto. Nada contra a coinvenção de Petrarca, mas é raro um poeta, hoje, época algo sincretista — como o foi o começo do século — criar os seus próprios recursos de expressão.”
Afrânio Coutinho (orelha de Razão do Brasil): “A obra de Anchieta é analisada com a maior penetração, como jamais fora feito antes. Livro original e destinado a ser um marco na historiografia brasileira e capixaba.”