Cultura

Arte e utopia | João Camacho

Neste artigo pretende-se discutir os vários tipos de arte coleccionável, mormente a pintura e a escultura. Porque sendo a arte pictórica considerada o apogeu de todas as artes pode-se questionar se vamos no bom caminho para a Utopia.

 

´´O poeta… é o homem da metáfora: enquanto o filósofo está interessado apenas na verdade do significado, além até dos signos e nomes, e o sofista manipula signos vazios… o poeta joga com a multiplicidade dos significados´´

 

Jacques Derrida (1982). “Marges de la Philosophie”, p.248, University of Chicago Press. (tradução Google citação Azquotes.com)

 

Segundo uma nova geração de críticos de arte (artsy.net), ou do seu desaparecimento (artnews.com) a arte deixou de ser uma utopia por várias razões. 

 

Uma delas, que importa reter, é a de que a arte passou a ser uma corrente de um motor de produção contínuo. Todos os dias se produzem incontáveis obras de arte das quais só uma pequena parte vem à luz do público. Isto porque o mercado está tão ávido de novidades, de novos artistas e valores capazes de rivalizar em interesse e qualidade com aqueles que irão destronar.

 

No entanto, feitas as contas ao fim do dia nem tudo são favas contadas. Muitos dos artistas funcionam por encomenda e têm listas enormes para entrega que levam a tempos de espera fantásticos, tal como os preços cobrados. Poder-se-ia argumentar que tal se deve às novas máquinas de pensar encabeçadas pela Inteligência Artificial. É realmente um problema não sabermos se estamos a discutir com uma pessoa ou com uma máquina. Muitos jogadores de xadrez treinam anos em frente de uma. Qual a diferença entre perder com uma máquina ou com uma pessoa? Qual a diferença entre ter um carro feito à mão e outro em série feito por robôs? Para quem tem dinheiro a diferença é abissal. É a diferença entre investir e gastar.

 

Gastar ou Investir?

 

Investir em arte tem sido para muitos a salvação das suas imensas poupanças. Fala-se em grandes lavagens de dinheiro das máfias através do mercado da arte. O dinheiro não terá cor, mas a sua proveniência é analisada pelas polícias mundiais. Procura-se o crime, em primeiro lugar. E depois aqueles que usam os bens adquiridos para fins menos legais como seja a fuga aos impostos.

 

A arte é uma utopia que alguns conseguem comprar por avultadas somas de dinheiro. Se analisarmos as obras dos artistas mais ricos vamos perceber que se perdem em inúmeros jogos de fuga aos impostos, seja nos países de proveniência seja nos países destinatários.

 

 

“For the Love of God” vendida por 55 mihões de dólares (o preço inicial era os 100.000 milhões de dólares) a um grupo de investidores (recentemente admitiu qe a mesma nunca foi vendida), também teve uma edição imprensa de 1.700 exemplares (cerca de 3.000€ cada) com os diamantes incluídos (For the Love of God Behind Belief). Na altura, em 2007, o artista resolveu pôr a sua galeria de lado e fazer a transacção sozinho. Hirst afirma que a peça lhe custou 8 milhões a fabricar mas que acabou por gastar 15 milhões (myartbroker.com). Tem 8.601 diamantes transparentes como cristal montados sobre platina moldada a partir do original. A peça foi fundida e montada nos joelheiros Bentley & Skinner da Rua Bond. Apesar de o leilão na Sotheby’s não ter sucedido as várias peças que ali vendeu renderam cerca de 201 milhões de dólares, ultrapassando em muito o investimento realizado.

 

Damien Hirst– Tubarões inteiros, cortados ao meio, ovelhas e vacas mergulhados em metano. Numa recente operação de marketing Hirst queimou mais de 5.000 obras no valor de 2.100 dólares cada. Os quadros que teriam o formato A4 teriam sido vendidos a coleccionadores ue preferiram ficar com as mesmas no formato NFT. É um formato digital que pode ser comercializado na internet. Esta operação poderá ter rendido algo como 21 milhões de dólares pois foram feitas 10.000 para serem vendidas.

 

 

Hirst a queimar as obras que passaram a só existir como NFT na internet.

 

 

Jeff Koons- Tulipas. Obra oferecida em homenagem às vítimas de Paris (13) Novembro 2015, onde vários ataques terroristas mataram 130 pessoas, entre o Estádio de França (exterior), esplanadas e o espaço de espectáculos Bataclan. 2019 Material aço, bronze e alumínio policromados. A escultura demorou uns anos a ser produzida. O orçamento inicial de 3,5 milhões foi largamente ultrapasssado tendo o próprio Koons de investir 1 milhão do seu bolso. Foi construída na Alemanha. Depois de algumas disputas foi escolhida a Praça da Concórdia para a sua instalação. A base pesa 27 toneladas e a escultura 34 toneladas. 

 

Jeff Koons– Desde cedo que usa ideias fora da caixa na procura do estrelato. Convidou a bela actriz porno e deputada Cicciolina para uma série de fotografias que viriam mais tarde a serem plasmadas em esculturas de bronze policromadas. Essa série foi tão boa que resolveu casar com a modelo com a qual teve uma filha que mais tarde iria pedir a sua guarda em tribunal devido à separação dos dois. Apesar de ter ganho o processo a filha continuou com a mãe. Mas seguiram-se outras peças bastante carísmáticas. O Cão Balão por exemplo, é uma das obras feitas âs dezenas com preços que rondam os 25.000€ para cima, dependendo das dimensões. Uma delas foi partida recentemente pois são feitas de vidro muito fino como das bolas de natal, num museu por uma visitante que estava dúvida se seria mesmo um balão. O seguro cobre estes azares. O coelho em inox foi vendido em leilão por 55 milhões de euros.

 

 

Banksy– Eis um artista da moda que em tudo o que toca reluz. Seja uma janela ou um buraco de vão de escada. Automaticamente, o valor da parede ou do imóvel passam a valer somas de dinheiro bastante apelativas. Falamos de uma arte que está entre o grafitti e o populismo. Uma arte de fácil leitura e que leva as pessoas a terem pena dos retratados. Bansky investe muito em obras de caridade e até fez umas intervenções na Ucrânia. Isto leva-nos a pensar em duas coisas: primeiro deverá ser um tipo do centro político, segundo preocupa-se demasiado com a imagem que advêm das suas intervenções. Se virmos bem é isso que o faz valer dinheiro nas bolsas mundiais que são os leilões por onde passam as suas obras, ou as vendas em galerias. Devolved Parliement 11 milhões de euros, Game Changer 19 milhões de euros. Esta peça de 2020 foi oferecida a um Hospital no Reino Unido. Depois de leiloado atingiu uma bela quantia.

 

 

Game Changer, os super-heróis foram para o caixote do lixo. Os que contam são os verdadeiros de carne e osso.

 

Vendas de Arte

 

O mercado de arte americano é certamente o mais dinâmico. O volume de vendas é mais do que o resto do mundo todo junto. Depois vem o Reino Unido com uma boa quota parte e de seguida o resto, que são a Europa, a Ásia, África e América Latina. Se nos focarmos em Miami ou em Nova Iorque não estamos a acertar nos locais onde mais se vende arte nos Estados Unidos.

 

Escolas de Arte– Grande parte dos artistas nunca frequentou uma escola de arte no sentido estrito do termo. Muitos fizeram pequenos cursos de formação que lhe deram uma aprendizado das técnicas de forma muito geral. Depois foram evoluindo através de outros mestres ou pintores que tinham como referência. A Slade School é uam das mais importantes em Inglaterra. Outras houve como a Bauhaus na Alemanha, que revolucionaram o ensino da arte.

 

Coleccionadores– São particulares que pelo volume dos seus negócios ficam com uma parte para ser investido em bens culturais. Isso permite-lhes reduzir bastante os impostos a pagar permitindo dessa forma investir em coleccionar obras de arte. Essas colecções regem-se por normas que são reguladas por peritos chamados curadores.

 

Curadores– Peritos especialistas que estudaram e especializaram-se no mercado de arte em particular. Podem ser historiadores de arte, críticos com uma especialização em artes e cultura. Têm a capacidade de seleccionar colecções ou obras de artistas para serem expostas numa galeria ou museu. São como uma terceira alma na exposição elaborada pelo artista. Têm a capacidade de julgar o mercado e de como ele poderá evoluir. Podem ser uma garantia de boas vendas quando o curriculum que apresentam é de qualidade. Muitas vezes transitam para directores de museus ou de instituições culturais privadas ou do estado.

 

Instituições– De onde vem este dinheiro todo? Dos negócios que são muitas vezes taxados em paraísos fiscais a valores muito abaixo daquilo que seria normal no país de origem. Existe actualmente uma grande polémica na União Europeia sobre este tema dado o Luxemburgo e a Holanda apresentarem enormes vantagens para as empresas lá sediadas. É um pouco como aquele magnata de bom porte que dá milhões para a caridade quando explorou até ao tutano aqueles que para ele trabalhavam. Chama-se a isso esperteza. E não pode ser equacionado? Ou pode e deve?

 

Galerias– Uma galeria de arte é uma estrutura complexa. Para além de gerir um fundo com obras dos seus artistas, muitas vezes aconselha ou  galerias de mesmo subsidia o artista (Galeria 111/ Pomar em Paris, Resende e outros). Se bem que isso seria o ideal para muitos artistas nem sempre acontece ou cada vez acontece menos. O galerista curador tinha uma capacidade económica e social invejável. Isto permitia-lhe ter os seus artistas activos e preparar uma ou mais exposições periódicas sem grandes falhas de clendário. Aproxima-se bastante da Utopia que buscamos. Uma sociedade onde o artista não tenha de se subjugar a interesses vários para poder subsistir e poder criar as suas obras de arte. Um pouco como fazem certas Fundações ao apoiarem os artistas mesmo que de forma pontual. Hoje em dia temos as residências artísticas que são concursos para escolher um artista que poderá usar as instalações de uma casa a qual poderá ter um estúdio em anexo onde ele ou ela poderão exercer o seu trabalho durante dois ou três meses, conforme estipulado. Não só é uma forma barata de ter um artista em casa como este deverá ter de deixar uma obra ou duas em troca. Depende dos contratos. Um pouco melhor do que aquelas galerias de Juntas de Freguesia que pedem um trabalho em troca de uma exposição que esteve duas semanas a funcionar. Façam as contas e vejam o que são 24 trabalhos por ano, de forma quase gratuita espalhados pelas salas. Considero um abuso dado não só o estabelecimento funcionar a partir de dinheiros públicos como também cobra por um serviço de divulgação cultural que é a sua obrigação. Se os sítios forem ‘’bons´´ como é o caso da Junta de Freguesia de Alvalade o espólio será ainda melhor. Longe da Utopia quanto baste. Instambul tem mais de 500 galerias de arte. As galerias de arte normalmente têm um percurso designado por um ou mais curadores. Têm também em exclusivo ou não vários artistas de renome internacional.

 

Lojas Online– São criadas pelo próprio num site na internet ou espaços virtuais onde a galeria mostra milhares de obras e as vende por uma margem de lucro que andará entre os 35 e os 40%. A galeria poderá ser mais ou menos conhecida, tem artistas que não estão normalmente no circuito das galerias.  

 

Feiras de Arte– Têm um ou mais curadores para seleccionar o trabalho enviado pelos artistas. Existem na forma de anuais e bienais, na sua maioria. As mais interessantes são internacionais e estão em mercados com alguma dinâmica: Arco de Madrid, Singapura*, Bienal de Basel em Miami, Veneza, Berlim, Paris.

 

O tema central

 

O tema de este artigo teve de se afastar um pouco dos conceitos filosóficos poéticos para se preocupar com as questões que estão na base do seu crescimento financeiro e cultural. Para muitos o mercado da arte não é um mercado democrático pois o que vence é a lei do capital. O que mais vende tem mais valor. Os preços estratosféricos conseguidos por obras de vanguarda está nos antípodas daquilo que os artistas ganharam a fazê-las. Alguns nem as venderam enquanto foram vivos e hoje atingem valores incalculáveis. Será isso um mercado justo, igualitário ou é antes do mais especulativo? Quem aparece de repente mais extravagante consegue num golpe de marketing lançar o seu produto mais alto. Serão as leis da oferta e da procura, do mercado capitalista, as quais em alturas de crise tendem a refletir de uma forma bastante divergente essa qualidade. Se bem que o mercado da arte envolva pintura e escultura, também abarca outros meios como a gravura, a fotografia, a cerâmica e os objectos em série. Não serão muito diferentes do mercado das antiguidades onde muitos desses objectos por vezes encontram guarida.

 

A arte especulativa só se aplica aos objectos de colecção. Podem até ser discos, bilhetes de concertos, postais, selos. As leis são semelhantes. Falamos de objectos e não de obras de teatro, cinema, bailado, arquitectura, ou outras que não tenham estas características.

 

No entanto, para que o tema possa ser devidamente equacionado podemos puxar à sua génese o trabalho da instalação e o do teatro. O teatro com os seus cenários, luzes, música e personagens que se movimentam num espaço é uma forma de arte que náo pode ser coleccionada e por isso ser objecto de especulação. Quando se entra num espaço que é decorado arquitectonicamente com uma instalação, esta tem na sua maioria os elementos que foram retirados ao teatro. So lhe faltam os personagens e o movimento. O personagem pode ser a pessoa que observa e circula no espaço da instalação. Isso sim, vai-lhe dar movimento o que o faz por si só uma arte em si.

Escândalo SA

 

A instalação é uma forma expressiva bastante antiga a qual teve como expoente máximo aquele que é considerado o seu pai. Duchamp iniciou a sua actividade como pintor, participou nalguns Salões de Paris e era o 3.o de 4. Teve dois irmãos mais velhos e uma irmã mais nova. Todos trabalharam na área das artes plásticas e nalguns casos mesmo em publicidade. A arte de Duchamp era a de observar e ao mesmo tempo inventar uma nova forma de estar estética, a arte Dada. Depois chamaram-lhe Surrealismo e sempre o aliciaram como o principal mentor. A expressão Dada, sim sim em romeno, ou a fala do bebê foi o termo cunhado pelos libertários que tinham fugido da guerra e rumaram a Zurique. Lenine ainda se cruzou com eles no bar onde regularmente expunham os seus trabalhos e faziam as suas performances. Também outra teoria apontava para que tivesse sido uma faca a cair sobre um dicionário a escolha da palavra.

 

 

Puppy, Museu Guggenheim de Bilbao.

 

Era um objecto encontrado (trouvé). Duchamp usou-os bastante para a composição das suas obras. Em Nova Iorque o Urinol foi proibido de ser exposto apesar de ter paga a inscrição como o regulamento estipulava para a 1.ª Exposição do Armory Show. Era uma arte que vivia de escândalos. Até porque em sociedades moralizadoras o escândalo é a moeda de troca do artista. É o escândalo que chama a atenção, mas também mostra à sociedade que a partir daí outros mundos são possíveis. Daí a Utopia. O escândalo nada mais é do que uma terapia de choque preparada para converter muitas pessoas em pouco tempo. Esta terapia de choque começa a ter alguns resultados bastante nefastos nos espectadores de televisão. Sofrem de ansiedade, até porque a catadupa de notícias, o ritmo, as cores, o som tudo influencia a que o cérebro do observador entre em compensação. Desliga da actualidade e passa a querer ver escândalos mais corriqueiros e de acordo com o seu nível mental. São psicólogos e homens do marketing que estudam estes problemas até ao mais ínfimo pormenor.

 

 

Koons Plutáo e Proserpina, 2010-13.

 

Um mundo possível através do e dos escândalos. Diariamente vemos isso nos programas televisivos mas falta-lhes muito para ser arte. Servem-se da moral e dos costumes para atrair públicos os quais se escandalizam com pequenas descobertas feitas pelos jornalistas ou pelos intervenientes em debates ou filmes. De escândalo em escândalo chegaremos à Utopia. Os escândalos sucessivos que os Extinction Rebellion têm provocado são disso um exemplo. A arte serve para isso e muito mais. Serve para vender uma banana colada com uma fita larga e cinzenta à parede como serviu para ser capa do Andy Warhol para os Velvet Underground. Serve para que outro a coma e deixe lá a casca… Serve para que alguém venda a ideia de um espaço conceptual sem nada apenas um certificado de origem. Aquele pintor que perdia o seu tempo apagar as telas dos outros já passou. O outro que roubava as fotografias e as colocava por altos preços nas suas molduras. Temos assim uma larga panóplia por onde escolher dos mais estranhos aos mais invulgares. O lançamento do Movimento Futurista em Portugal por Almada Negreiros serviu-se de textos mas também de uma farda muito bem desenhada para a sua actuação em palco. Por essa razão, tudo o que fica entre o meio escândalo é uma arte moralista. Não chega para dar ao observador aquele ´´punch´´ de que Walter Benjamim falava.

   

Utopia SA

 

Na realidade as várias artes convergem neste ponto da Utopia. Querem chegar onde ainda ninguém conseguiu: libertar o homem da sua consciência servil e colocá-lo num patamar perto de Deus. A liberdade é muitas vezes confundida com libertinagem e tem boas razões para isso. Sexo, drogas e rockn’roll são o combustível de muitas das melhores obras produzidas. Tanto na área da fotografia que teve sempre o excelente papel de liderar outros tipos de visão da realidade como preversamente certa pintura também o consegue fazer. Muitas vezes a Utopia está em destruir os fantasmas do passado para nos libertar perante um futuro incerto.

 

 

Violet Ice (KamaSUtra) da série Made in Heaven. Escultura em vidro moldado. Versão das famosas estatuetas de bronze polícromas.

 

Anselm Kiefer está nesse patamar, tal como David Hocney noutro prisma dos antípodas. Os fantasmas da guerra e do terror nazi contrapõem-se aos efeitos das materiais como são o brilho e a transparência da água, o sol que brilha sobre a folhagem ou os prazeres do descanso e do lazer. São abordagens opostas com resultados semelhantes, Por um lado, a libertação do fardo da história e dos males que a mesma encerra. Pelo outro, o usufruto das coisas boas que nos rodeiam está sempre ao nosso alcance.

 

São Utopias diferentes daquelas que se promovem pelo escÂndalo. Que dizer dos quadros de Blakey* , Ingres ou Canaletto? Van Eycke ou Pissaro? Renoir ou as paisagens de ** fundos vermelhos. Aí tinhamos galerias que depois foram dispensadas para o coleccionador comprar directamente do artista. Picasso chegou a ter um castelo e várias moradias onde podia não só guardar os milhares de trabalhos produzidos como ter o ambiente ideal para trabalhar.

 

 

O bolo de casamento de Koons e Cicciolina.

 

Poderiamos concluir que a arte apesar de procurar a Utopia muitas vezes se fica pela realidade como forma de memória. No território do inconsciente colectivo muitas vezes os artistas pintam temas semelhantes apesar de estarem longe uns dos outros. Estas preocupações são inerentes ao próprio trabalho do artista que pensa como o seu trabalho poderá ajudar a humanidade a libertar-se do jugo real. Pela abstracção, da assertividade pelo conceptual, dos problemas de género pela LGBTI+++, pelo surreal, pela poética, pelo amor, pelas naturezas mortas, pela caricatura, pela técnica, pelos meios utilizados, pelo tamanho, pelo contexto, pela simplicidade, pela vontade, pela energia, pela libertação, pela colagem, pela mistura de meios, pela política, pela crítica, pelo activismo, há toda uma variedade que suplanta as mais variadas imaginações e maquinações. A arte da Utopia é uma maquinação feita para deixar perplexos os humanos que dela se aproximam. 

 

Cuidado, muito cuidado! Ao mínimo toque fica-se inoculado e a partir daí a loucura poderá ser a única salvação.

 

 

Fig. – Cinco assistentes a pintar em telas de rande formato de 5 x 3 metros. Koons ao centro com uma escultura insuflável Moon, metalizada azul.

 

Utopia um género em desuso. Utopia, quanto mais se procura menos se encontra. Ao contrário, a Utopia está aí sempre ao fundo, ao contornar a esquina. A Utopia por si só é uma definição sem limites. Pode ser um regime social e político onde todos os homens e mulheres sejam iguais e não sofram as agruras da subsistência. Existiram vários projectos utópicos desta natureza, alguns ainda hoje persistem. Espanha, comunidades, etc.

 

Mas ao estarem isolados do mundo que os rodeia esses projectos ou empresas perdem aquilo que deveria ser para todos. No entanto, a música, o cinema e o teatro sempre trataram este tema mesmo que de forma subtil.

 

O mundo não roda apenas à volta dos americanos, da pop-art e da sua way of life e status. Apesar do peso da Europa ser menor em termos financeiros as suas abordagens estéticas estão no topo dos temas actuais. Isso fica para outro artigo talvez com o título de Arte e Ilusão?

 

Fotografia de João Camacho

 

João Camacho é um artista multifacetado. Pintor, músico experimentalista, designer, arquitecto, fotógrafo e documentarista. Cursou a FAUTL, ainda tentou o doutoramento em arquitectura bioclimática e cursou uma pós-graduação em Artes e Discursos Emergentes na Nova. Tem dedicado a sua vida a inúmeros projectos na área do vídeo, da fotografia e da música electroacústica com a formação DaFênix Lounge Jazz, Elektronik Cirkus e, mais recentemente, Dizzie_Dazz.


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