Constitui motivo de profunda satisfação, ter recebido convite do editor Tagore Alegria, para realizar uma saudação ao escritor Henrique Dória, quando do lançamento do seu livro “Coração, solitário labirinto”. Generosa convocação, sem embargo, posto que distingue onde as distinções não distinguem, mas que me permite, nestas mal traçadas linhas, festejar, na pessoa do diplomata Luis Faro Ramos, a Embaixada de Portugal, por tudo quanto, de maneira constante, e quase incomparável, promove, em termos de política cultural, a serviço da inteligência luso-brasileira.
O diálogo espiritual entre Portugal e Brasil ora se renova e, revigorado, levanta pontes e descerra horizontes, por meio do consórcio da ISHTAR e da Tagore editora, as quais colocaram à disposição do leitor nacional o poeta e prosador Henrique Dória, herdeiro e representante de uma notável tradição literária. Envolvem-nos, nesta auspiciosa noite, Luís Camões, Frei Luís de Sousa, Padre Antônio Vieira, Almeida Garret, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queiroz, Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa e, para ser minimalista, José Saramago.
Eis Henrique Dória, vestido de azul, em “Coração, solitário labirinto”, prosa de fino quilate, livro de poeta e de pensador. Fragmentário jogo de montar, autêntico quebra-cabeças resultante em um painel existencial, nele há dores da infância perdida, demandas do ser, quermesses lavadas em sangue, morte e desgraça à espreita, diálogo entre bêbado e cego, o horror do vazio, conflitos entre mãos e almas, a busca aflitiva de sentido, o espanto do não Ser, travessias no deserto, discussões com Deus, sedes nunca saciadas, tempo em desespero, fomes de amor, sabedoria e beleza, possibilidades de esperança, música, paisagem e estrelas e as infinitas perplexidades frente ao Ser, o mistério, a poesia, a beleza, o absoluto e o nada. E uma porção de saudade, com o que acabo, chamando Fernando Pessoa para homenagear Henrique Dória.
“Ter saudades é viver
Não sei que vida é a minha
Que hoje só tenho saudades
De quando saudades tinha
Passei longe pelo mundo
Sou o que o mundo seu fez
Mas guardo na alma da alma
Minha alma de português
E o português é saudade
Porque só se sente bem
Quem tem aquela palavra
Para dizer que as tem.”
Rossini Corrêa, escritor