Cultura

Animais desaparecidos em distopia | Lucia Blanc Barnea

Animais desaparecidos, de Lyslei Nascimento. 2023. MEPE.

 

Sinopse

 

Lucia Blanc Barnea

 

Atravessar os microcontos de Animais desaparecidos, de Lyslei Nascimento, é um convite e um desafio para viajar pelo futuro de uma antropocena, um novo período da história do Planeta, “em que o ser humano se tornou a força impulsionadora da degradação ambiental e o vetor de ações que são catalisadoras de uma provável catástrofe ecológica”, de acordo com José Eustáquio Diniz Alves, a partir do grau de impacto destruidor das atividades humanas sobre a natureza, avaliado pelo Prêmio Nobel de Química (1995) Paul Crutzen.

 

Composto por 12 narrativas de leveza quase insustentável e 14 verbetes ausentes, ordenados segundo a ordem alfabética, o livro de Nascimento é um objeto compacto, Quase um caderno de anotações que não deixa de exibir um tom de registro nostálgico em uma estética quase minimalista entre o visível e o invisível.

 

Mais que um rolodex ou um caleidoscópio de animais extintos, as narrativas desfilam obras humanas importantes, inspiradas ou conectadas com a natureza de modo amplo, como a Bíblia em seu Velho e Novo Testamentos, a Literatura de Jorge Luis Borges e de José de Alencar, a obra de William Shakespeare e de Machado de Assis, bem como a de Malba Tahan… a Royal Geographical Society, a psicanálise, a homeopatia.

 

Apesar de não explícito, outrossim nos desassossega o descortinar da ação humana em seus diferentes matizes na condução sistemática de uma catástrofe ecológica apocalíptica – seja nas queimadas, no comércio de carnes exóticas, na captura e no aprisionamento de borboletas com o objetivo de colecioná-las, na destruição da natureza e na construção das megalópoles de concreto armado da contemporaneidade; seja na manipulação genética para a criação de novas raças de animais, ou no assassinato brutal de elefantes para a captura de suas presas. Os animais aparecem não raro na sua forma plural, quiçá para despertar nosso pensamento e dirigi-lo ao caráter gregário da natureza. Nesse sentido, mais de uma espécie animal é, por vezes, citada em um mesmo verbete. Assim ocorre que o hipopótamo é citado no verbete da letra E, enquanto não há registro de animal que se inicia com a letra H, talvez para sugerir certa demência do animal-homem, no tecer dos fios da memória de uma civilização desmemoriada.

 

Animais desaparecidos é, assim, um livro enxuto, de dimensões reduzidas, páginas cheias, páginas quase vazias, meias páginas, quase um compósito de pequenos textos e por folhas quase brancas. A leitura é frugal, singela, delicada como sua autora. A um só tempo, pode ser lido de um só fôlego, cortante e melancólico, com um forte quê de ecologia, talvez nossa última utopia. Sua autora, a Profa. Lyslei Nascimento, mestre generosa de inteligência plural e cultivada, nos guia – no prefácio e nas epígrafes selecionadas –, a que veio, quem a inspira, com quem dialoga –, e nos fornece uma lição que é todo um alarme de “ecoansiedade” pelo futuro do humano, como o conhecemos hoje. Reza a sabedoria tradicional que, sabendo usar, não faltará.

 

Israel, 16 de maio de 2023.

 

Título Animais Desaparecidos

Autora Lyslei Nascimento

ISBN 9786580712779

Editora MEPE

Páginas 67

Edição 1 (2023)

Idioma Português

E-book

 

Fotografia de Lucia Blanc Barnea

 

Nasceu a 20 de março de 1966 na cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Lúcia Blanc Barnea é antropóloga, socióloga, historiadora, escritora, possui especialização em Literatura Brasileira e Mestrado em Antropologia Cultural pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Exerceu as atividades de professora e tradutora. Foi assessora da Assessoria de Projetos Especiais da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, coordenadora do departamento cultural do Consulado Geral de Israel em São Paulo e cross-culturalist, apresentando seminários sobre como trabalhar de forma eficiente em equipes multiculturais e globais.

 

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