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ALÔ, PEDRO! FALA, SATANÁS! II | Xico Simonini

Foto de Museums Victoria na Unsplash

E não é que a Tia Zanza tá na escuta doutro telefonema do Cramunhão e do Pedroca? Aquela Tia grampeou, novamente, o papo entre as Indefectíveis Figuras. Curiosa, Tia Zanza se postou, como manda o figurino e, desta vez, chamou Este Sobrinho pra arregaçar as zoréias e participar do Infernal/Celestial diálogo. Em sendo assim e assim sendo…

 

Satanás: – Alô! Alô! Pedro?

 

Pedro: – Alô! Sim! É o Pedro! Como passou, d’ontem pra hoje, Satanás? Conseguiu engolir o retardatário, o novo habitante do Pedaço? O Golbery? Náuseas? Chegou a vomitar? Ou dando umas boas porradas, cara adentro, cara afora, nele, hein, Satã?

 

Satanás: – Escolhi a dedo, seis dos mais inflexíveis Capetas Recepcionistas, munidos dos mais pontiagudos tridentes, portando grossos e longos chicotes de couro-cru, carregando maçaricos a laser e baldes de óleo fervente. Como sempre, todo Canalha, quando aqui aporta, borra-se todo durante a Solenidade de Iniciação. Em vida terrena, uns machos, valentões e batutas. Em vida infernal, uns frouxos, acabados e medrosos. Mas, neste instante, Pedro, velho de guerra, o Golbery tá se refazendo do desvirginamento Amplo, Geral e Irrestrito. Para usar, Pedro, o slogan que ele criou e adorava pregar nas suas falcatruas no Terreno Mundo. Mas, e aí, Pedroca? Como anda o babado no Seu Celestial Pedaço?

 

Pedro: – Nem falo, Satanás! No telefonema d’ontem, queria expor o perrengue pelo qual tô passando. Acredita, Cara! O Céu tá cada vez mais sem freguesia. O crescimento da Celestial População, mais do que nunca, estagnado. Até parece com o crescimento de um tal de “Deitado eternamente em berço esplêndido”, localizado lá pras bandas de um tal de Mundo Material, dominado por uma tal de Canalha Golpista. Canalha aquela tal e qual constituída pelos Abastados ou Poderosos… Engravatados ou Políticos… Togados ou Magistrados… Fardados ou Armados… Apostolados ou Pastores… Lascados ou Idiotas… Certamente, Camarada Satanás, seus futuros hóspedes. Acertei ou ‘num’ acertei na mosca, hein? Aliás, essa escumalha nem enfrentará o Juízo Final. Direto e reto pros seus carinhosos afagos, né mesmo, Amigo Satã? Mas, aqui, no Céu, nada de novas Almas Imaculadas… Nada de novos Espíritos Probos… Nada de novos Egos Castos… Dias e dias sem pintar sequer uma nova Alma Beata, Carola, Devota ou Venturosa. Ando desanimado! Muito desanimado, mesmo! Do jeito que a banda tá tocando, Amigo, terei que promover a reforma da CLT. Aumento da jornada de trabalho… Trabalho aos sábados… Hora-extra sem remuneração… Perda da estabilidade… Até conversei com o Anjo Guardião combinando com ele um mensalão e ele concordou. Com o Supremo e com tudo e todos os Anjos de todas as Dez Hierarquias Angelicais. Vai ser fava contada, Satã!

 

Satanás: – A barra pesou, hein, Pedro? No próximo telefonema, conto meu drama. O de lidar, ao contrário, com superpopulação. Mas, agora temos que desligar! Eu desconfio que uma tal de Tia Zanza tá grampeando nossos papos. Vou colocar a Polícia Federal na cola dela! Tchau! Tchau! Pedro. Até outra…

 

Pedro: – Esta Tia Zanza é Comunista, Satanás… Só pode ser! Vamos, coercitivamente, mandá-la pra República de Curitiba? Sem provas, mas com convicções Celestiais e Infernais!

 

In – Defini (Ções) Tivas Desta Tia Zanza e Deste Sobrinho. Silva, Francisco Simonini da (Xico Simonini), Viçosa-MG. Muzungu Comunicação, 2020. 260 páginas. Texto 268, página 160

 

fotografia de Xico Simonini

Francisco Simonini da Silva (Xico Simonini)  nasceu em Viçosa, MG, no dia 18 de novembro de 1941. Em sua cidade natal, em Belo Horizonte (MG), Florestal (MG), Pará de Minas (MG), Divinópolis (MG), Piracicaba (SP), Assis (SP), Primeiro de Maio (PR), Juiz de Fora (MG), Cataguases (MG), Ponte Nova (MG) e, recentemente em Santo Antônio de Pádua (RJ) construiu sua trajetória de professor e administrador do sistema educacional, além de marcante atuação na imprensa e na militância político-partidária. Aposentou-se como professor-adjunto na Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde exercia suas funções no Departamento de Educação, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Vem atuando, há mais de cinquenta anos, no sistema educacional público e privado (da educação infantil à pós-graduação), no ensino, pesquisa, extensão e administração. Por iniciativa individual ou coletiva participou da fundação de uma dezena e meia de escolas e cursos em todos os níveis. Sua trajetória é marcada por vigorosa atuação política, partidária e sindical e em campos diversos, como músico, desportista, comentarista esportivo, escritor, poeta, chargista e responsável pela publicação do semanário viçosense “Muzungu”.

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